quinta-feira, 30 de junho de 2022

Gênero e Imigração (excerto 6) - GABRIELLA MORENA

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Realizar uma análise que considere estas perspectivas permite-nos complexificar ainda mais os fenômenos migratórios e suas consequências psíquicas para as pessoas, contribuindo para que percebamos a migração a partir do lugar social em que determinado sujeito está inserido. Ou seja, em nosso contexto contemporâneo – e não só – um homem italiano branco e heterossexual imigrante em Lisboa terá uma experiência marcadamente distinta de uma mulher brasileira negra e LGBTQIA+ que migrou para a mesma cidade. Contudo, esta diferença não se dá apenas num âmbito subjetivo, por serem pessoas distintas, mas amplia nosso debate para a percepção dos contextos, indicando que há atravessamentos comuns nas experiências das pessoas que ocupam lugares sociais não normativos.

Retorno à história da família foco deste artigo para considerar o conceito da interseccionalidade, cunhado no âmbito do feminismo negro por Kimberlé Crenshaw (1989; 2002). A autora propõe que a análise das opressões seja feita de forma sobreposta, o que significa dizer que uma mulher negra sofre uma opressão específica, atravessada pelo seu pertencimento de gênero e também de raça. Ainda que a família narrada aqui não seja composta por mulheres negras, utilizo a categoria para analisar a confluência de violências que sofrem por serem mulheres, imigrantes não europeias em Portugal e trabalhadoras precarizadas, incluindo a perspectiva de classe. Perceber essas múltiplas camadas nas experiências que conversamos nos atendimentos mostrou-se de extrema importância.

EM - GÊNERO E IMIGRAÇÃO - PLATAFORMA GENI - IN-FINITA

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Uma jangada chamada esperança (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

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Inicialmente, ainda via a água límpida, transparente, ondulante de um azul-esverdeado único, misturada com um outro azul, não menos belo, acima dela. Também ainda alcançava com a vista a jangada que abandonara à mercê das intempéries e das fracas forças que a sustinham à tona da vida. Também ela, agora, sobrevivia só.

Luz! Era a luz que ia perdendo à medida que ia descendo e engolindo o sal que lhe inundava os pulmões, lhe asfixiava a respiração, lhe toldava os sentidos e o fazia perder a consciência. Sentia o corpo entregue à uma única via que penosamente o fazia descer a caminho da escuridão e do silêncio.

E descia. Já não sentia o corpo, nem o fardo de culpas, de desculpas, de castigos, de momentos dolorosos, de perdas, de sofrimentos, de perdões, de desgosto sofridos e infligidos, de desilusões... apenas ia descendo e mantendo os olhos abertos, bem abertos para tudo absorver, enquanto podia.

E, assim, foi vendo passar por si todos os companheiros de viagem de uma vida, como num filme ao contrário, do fim para o princípio, num paradoxo sem igual para com quem ia descendo para o fim onde iria encontrar outro princípio.

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

Fiquei sem chão (excerto) - CLAUDIA VALENTINI

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Fiquei sem chão. Sem espaço. Sem fala. Aliás, fiquei sem nada. Fui abortada ao mundo, sem teto, sem paredes, sem portas, nem janelas. Nua. Exposta. Vulnerável. Órfã, isso é o que sou, literalmente.
Sinto falta da tua voz dizendo meu nome em castelhano ou simplesmente ouvir você dizer “hija”... Queria tocar tuas pequenas mãos e sentir os sulcos talhados de tanta vida. Olhar teus olhos esverdeados, alegres, curiosos e que sempre permaneciam esperançosos; embora as tempestades e tanto sal derramado por eles, quando também te vi definhar na dor da perda.
Ver você caminhando pela casa, com aquele chinelo azul, o “plac plac” na cozinha entre resmungos de açucareiro sem açúcar ou a vontade de comer “algo” como você dizia... Ao ponto de querer fazer tudo, porque poderia estar velha, mas tinha força para muito tempo ainda!
Não tinha assunto perdido em nenhuma das tuas mansas falas, se bem teve tempo que ignorava algumas, sempre soube que cada palavra era legítima e verdadeira. “Não se faz o mal querendo o bem”... Hoje essa é a minha oração.
Você não foi uma mulher comum, dessas que dependem, que abaixam a cabeça, que se contentam com pouco. Muito menos foi uma mulher entregue aos dissabores, sempre foi valente, corajosa e enfrentava o que fosse. Uma que outra vez, escutava você dizer que os guerreiros também descansam e que “a gente não tinha patrão”... Era você e eu “com as bênçãos e permissão de Deus”.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA

A história dos sonhos (excerto) - PEDRO SILVA

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Na senda de Platão, que desmistificou, por completa, a origem dos sonhos, um médico grego chamado Galeno (131-200) cria piamente que os sonhos eram pistas para futuras doenças do indivíduo. Há aqui a curiosidade de, ao mesmo tempo que pretendia retirar o sonho do campo da profecia, não deixava de acreditar num certo futurismo ou predição de algo.
Afinal em que ficamos? Os gregos acreditavam que os sonhos eram proféticos ou que eram apenas alucinações causadas pela mente humana?
Foi necessário chegarmos a Artemidoro para obtermos, finalmente, um estudo racional dos sonhos. Tendo viajado por toda a Ásia Menor, este estudioso não se baseou em factos pré-concebidos e publicou os seus volumosos estudos dando a entender que, acima de tudo, toda e qualquer pessoa sonhava, e não apenas os mais importantes no interior da sociedade em que se inseriam. Isso, automaticamente, levantar-lhe-ia outras questões, como, por exemplo, da impossibilidade de todos serem profetas.
Como tal, chegou à conclusão que o sonho, para além de ser um exclusivo do sono, nada tinha que ver com mensagens místicas, mas, isso sim, com pré-determinações do cérebro humano, bastante complexo por sinal, que poderiam ter as mais diversas interpretações. E, mesmo que Artemidoro, com alguma hesitação, considerasse alguns sonhos como de inspiração divina (como competia a alguém que se inseria numa sociedade profundamente mitológica), não se coibiu de, pela primeira vez, afirmar peremptoriamente que a maior parte dos sonhos eram “comuns”, um grande avanço no estudo do fenómeno dos sonhos.

EM - O OUTRO LADO DA HISTÓRIA DO MUNDO - PEDRO SILVA - IN-FINITA

terça-feira, 28 de junho de 2022

Saudade em Mim! (excerto) - CLÁUDIA POEIRAS

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Não me recordo há quanto tempo não visito o Alentejo.
Tenho saudades daquela tranquilidade de campos verdejantes, ruas de terra batida que detinham as pegadas dos pés descalços que nela vagueavam. Nasci na mais bela vila alentejana, onde as casas pintadas de um branco imaculado, a mesma cor dos lençóis que a minha mãe estendia no quintal, transbordavam a pureza que lá existia. O céu era de um ilimitado azul, transmissor de uma paz que me enchia a alma com as melhores sensações.
Decidi um dia partir e deixar para trás todos os que fizeram parte de mim. Recordo os meus avós com enorme carinho. Com eles aprendi a viver com a alma leve, com muitos motivos para sorrir. E fui ingrata ao desampará-los e ao privar-me da sua companhia… O espírito era genuíno, mas a busca por uma vida melhor fizeram-me tomar partido de um destino desigual. Mantenho a autenticidade da alma e recordo cada momento vivido, como se ainda estivesse presente.
Adormeci estranhamente. Sonhei comigo! O sonho mostrou-me o quanto eu mudei e o quão falta me faz o meu eu infantil, o eu inocente, o eu puro, o eu feliz, a gaiata que fui… Não me reconheci!

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Grinalda de emoções (excerto 18) - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA

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Metemo-nos à estrada a caminho da Zambujeira do Mar, um sítio maravilhoso e onde o mar faz magia.
Pelo caminho, Raul voltou a contar-me a sua vida. As desditas, as alegrias, as doenças, as viagens por diversos países com a sua amada, onde conheceu e aprendeu diversas culturas. Contou-me também os dois anos dolorosos, passados na Guiné, aquando da guerra do Ultramar. Uma guerra sem nexo, onde muitos jovens morreram deixando famílias destroçadas. Outros, ficaram eles destroçados para o resto da vida. Ao lembrar estas situações, as lágrimas acorreram aos olhos, os óculos embaciados, protegiam o pudor ainda instalado nele, de que um homem não chora. Mais uma vez, se sentiu feliz por me ter como amiga, eu que sabia ouvir sem interromper e, no fim, se fosse necessário, dava a minha opinião sem que tivesse de ma pedir.
Enquanto Raul falou da sua estadia na Guiné, revivi muitas das histórias relatadas por Miguel, que também tinha cumprido o serviço militar na Guiné. Coincidências da vida.

EM - GRINALDA DE EMOÇÕES - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA - IN-FINITA

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Içando velas (excerto 8) - ANANDA LIMA

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Um amigo tinha conseguido um horário com outra mastologista. Para não desmerecer o seu esforço em me ajudar, fui à consulta que era na mesma semana, na quinta-feira. Estranhamente, a médica sinalizou que seria necessária uma biopsia antes de qualquer procedimento. Achei estranho, porque era diferente da explicação dada pelas duas médicas anteriores. Mas era uma mulher bem experiente. Fomos para casa na dúvida se fazia ou não. Depois de longas conversas em família, resolvemos fazer. No dia seguinte, estava indo para a clínica sinalizada por ela. Um procedimento extremamente doloroso. Quando deitei na cama, uma médica fazia a ultrassom e a outra inseria a agulha que era movimentada conforme a orientação do aparelho. Senti uma desolação humana, uma vulnerabilidade. Senti a presença de amigos espirituais que me acalmaram.
Saí desse procedimento tão fragilizada, parecia que tinha perdido parte das minhas forças, minha energia. A clínica ficava próxima à orla. Antes de entrar no carro quis, ainda que frágil, olhar o mar. Ventava muito, tinha policiais próximos, não era permitido aproximação e nem permanência na orla. Então, senti por alguns instantes a brisa do mar, contemplei aquele horizonte infinito que estava diante dos meus olhos e orei. 

EM - 2020 PARTINDO PARA ALTO MAR - ANANDA LIMA - IN-FINITA

Cá por dentro (excerto) - LUÍS VASCONCELOS

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Ao entrar neste estranho mundo novo a minha mãe sempre soube viver esta nova religiosidade de uma forma tranquila, natural e equilibrada. Havia determinadas ideias que ela ouvia, raciocinava, chegava à conclusão que não faziam sentido nenhum, e ficava no que lhe parecia. Detestava qualquer tipo de radicalismos. Sabia que apesar de o fazerem, supostamente em nome de Deus, eram homens imperfeitos que falavam, correndo o risco de interpretarem de um modo muito personalizado, e por isso pouco imparcial, pelo contrário tendencioso, aquilo que estava escrito na Bíblia. Era uma mulher muito inteligente, e por isso conseguia filtrar a informação. Mudou alguns hábitos e crenças na sua vida, a sua fé ficou fortalecida, mas não alterou a sua personalidade, porque já era e continuou a ser uma mulher extraordinária!

EM - NINHO DE CUCOS - LUÍS VASCONCELOS - IN-FINITA

domingo, 26 de junho de 2022

Lembro-me de mim (excerto) - ANA MENDES

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Ainda era noite ou talvez a aurora despontasse e o dia a seguisse... Sentou-se e arranjou melhor as almofadas, companheiras de tantos desabafos e lágrimas.
Ainda estavam húmidas de si e do seu sentir e aquele cheiro a tudo fez-lhe voltar atrás no tempo. Mais uma vez, de tantas outras...
Eram gargalhadas estridentes, cheias, quentes e, mais ao longe, vozes alegres, ritmadas... Cantavam letras de feitos modestos em melodias grandiosas... repetidas à desgarrada sobe as árvores recheadas de folhas agarradas aos ramos, balançadas pela brisa sem resistência.
Mais ao fundo ainda... naquele jardim, um cantinho só para ela e o céu. A limonada sobre a relva e o livro entreaberto ao contrário, de olhos fechados sonhava com tudo e por nada foi descoberta.
Aquelas mãos que começaram timidamente nos seus cabelos procuraram-lhe uma calma e prazer sorrateiro, desconhecido, aventureiro. Quase como no seu livro... suspirou e deixou. Inocência juvenil e confiança na descoberta.

EM - PELO FIO DE ARIANA - ANA MENDES - IN-FINITA

Maratona interna (excerto) - ITANIRA SOARES

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Faço cooper todos os dias dentro de mim.
Corro quilômetros como se maratonista fosse.
A pista do meu corpo, dias me põe obstáculos que não consigo a velocidade permitida atingir.
Sinais atentos, alertas as batidas indeléveis e infalíveis do coração dentro de mim, a juntar-se por todos os motivos possíveis e impossíveis.
Outras vezes sou nadadora e o mar que tem dentro de mim é mais forte que as braçadas e pernadas que tento. Uso o que sei e o que não sei para manter o nado do pavor que tenho ao mar em movimentos de ondas, em vai e vem constante, em um leva e traz sem fim. Técnica esgotada.
E a caminhada é diária. Dura, cansativa, constante, estafante.
Objetivo: Testar a paciência que sonda meu equilíbrio emocional. Cadeados fechados na liberdade que prende minha rotina de vida. Luta ou parceria com esse vírus assustador, que fragiliza, intimida, destrói e mata. Valorização à vida minha e do outro. Compreensão, reflexão, fé, compaixão, solidariedade, amor.
Lutar e vencer é o alvo da minha maratona interna.
Competitividade comigo mesma, é a meta.
Camaradagem, é o socorro.
Desidratação não permitida, é a garrafinha d’água do lado.
A corrida é indispensável! O tempo não espera no meio do caminho. Ele aponta o infinito da minha busca pelo saudável. O sangue faz a travessia marcante pela cor que lhe compete. Os músculos ganham força e prorrogam meus dias de degraus a mais.

EM - PELOS CAMINHOS DO MEU UNIVERSO - ITANIRA SOARES - IN-FINITA

O cooperativismo: outro valor eco-social (excerto) - JOAQUIM SILVA

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Uma educação Cooperativa. Uma formação sólida na capacidade de cedo se envolverem nas comunidades criando associações, cooperativas que mobilizem para uma outra relação com a tecnologia e a economia (particularmente financeira). Especulação e Lucro não podem fazer parte deste vocabulário, e com isso, claro as práticas acumulativas. O capitalismo como o conhecemos não será mais o dominante. Mas uma outra forma de auto-organização, e defesa dos recursos de todos, para todos, no caminho, da bondade e do sacrifício em prol do bem comum.
A liberdade dos cidadãos só é compatível com a libertação da pobreza e desigualdade que mergulham dois terços da humanidade e da tirania do consumo, ou seja pela mudança radical do modelo económico, e claro social: abandono do capitalismo pelo cooperativismo eco-social.

EM - A VIA DA SÍNTESE III - JOAQUIM SILVA - IN-FINITA

sábado, 25 de junho de 2022

Gênero e Imigração (excerto 5) - GABRIELLA MORENA

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O quarto em que viveram alguns poucos meses ficava na casa de uma família, e Vitória lamentou a ação da dona do imóvel, que chegou a desligar a internet e a água como retaliação pelo atraso do pagamento do aluguel. Ao mesmo tempo, ela narrava este episódio com compreensão quanto à situação da proprietária, que precisava do dinheiro para se manter financeiramente e cuidar dos/as filhos/as . As duas estavam se preparando para ir, por um mês, para o apartamento de uma pessoa pertencente à rede de contatos da igreja que Vitória participa, imóvel que conseguiram alugar por um valor bem abaixo da média, pois estava vazio e a cidade tinha menos turistas devido à pandemia. Neste ansiado respiro das próximas semanas, o plano era que Vitória continuasse procurando trabalho e Mara conseguisse assistir às aulas online da escola para não perder o ano. Vitória me conta que se sentia como “se tivesse se metido num bote tipo aqueles usados por pessoas que cruzam mares e vão para um outro país tentar uma vida melhor”.

Como Severino, Vitória recorre à fé e segue em busca de uma oportunidade, oferecendo-se para trabalhar com o que fosse possível. Graduada no curso superior em Comunicação, Vitória atuou por anos em sua área profissional, incluindo cargos de gerência. Além de relatar a dificuldade de ser aceita em trabalhos que possuem exigências inferiores às que constam em seu currículo, ela foi vítima de assédio e golpe em Portugal: o primeiro, ao receber uma proposta para se prostituir; e, em outro momento, por ganhar, de uma senhora portuguesa, dois pacotes de arroz vencidos como pagamento de um dia inteiro de serviços de limpeza em sua casa, quando formas e valores diferentes destes já haviam sido combinados. 

EM - GÊNERO E IMIGRAÇÃO - PLATAFORMA GENI - IN-FINITA

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Uma jangada chamada esperança (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

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Aos poucos, com gestos suaves, como que não querendo magoar, foi desatando os nós e as voltas com que os limos, as algas e a vontade estavam agarrados à jangada que vogava sem rumo, no compasso que as ondas dançavam melancolicamente. A pele curtida, marcada fundo, cicatrizada pelas quedas e pelo tempo, era uma chaga aberta, exposta impiedosamente ao sol e ao sal, que a água cobria e descobria numa brincadeira cruel.

“É agora!”. Teria que ser naquele momento! Naquele agora em que as grandes tormentas se tinham afastado, talvez por instantes, e o mar estava calmo, sossegado e pensativo com o que fazer à jangada que tenazmente agarrava aquele esquecido da vida.

Estava cansado da jornada, desiludido com as suas forças, desistente da luta antecipadamente perdida com ondas que nem sempre foram assim tão meigas e, não fora aquele pedaço de esperança a que se agarrava, já há muito que por ali, ao cimo da água de oceanos que desconhecia existir, ele não estaria.

Estava, de facto, exausto! Não tinha mais forças e não queria testar mais limites. Teria que ser, sem mais demoras! E, assim, continuou a desamarrar-se da jangada, que deixaria de fazer sentido existir, também ela, pois uma jangada só o é enquanto há um náufrago para dar esperança.

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

A história dos sonhos (excerto) - PEDRO SILVA

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Segundo se crê, desde que o ser humano começou a ser definido enquanto tal, isto é, com as características mentais do Homo Sapiens Sapiens, pensador por natureza que o sonho, e a sua interpretação, tornaram-se, para alguns, uma verdadeira obsessão. Principalmente, a referência aos sonhos, como veremos mais adiante, e como já tivemos oportunidade de apercebermo-nos em relação à Bíblia Sagrada, surge amiúde nos livros sagrados. Ora, de certo modo, a noção de religiosidade, ou até fenómenos pré-históricos ou pré-religiosos, são paralelos à preocupação com os sonhos.
Data de há quatro mil anos, na antiga Babilónia, uma das primeiras fontes escritas – o Gilgamesch – que fazem referência à importância dos sonhos. O Talmude, fonte sagrada da religião judaica, contém pérolas como: “como é e o que é, assim o homem sonha” ou “um sonho não decifrado é como uma carta que não se abriu”. Por outro lado, sabe-se que a imploração de Buda foi feita num sonho. Também Homero fez Agamenon cavalgar contra a poderosa Tróia, baseado num sonho, no qual o todo-poderoso
Zeus lhe teria passado tal informação.
Como tal, compreendemos agora que em todas as civilizações a interpretação dos sonhos foi fundamental, seja como fonte de profecias ou como explicações de diversos acontecimentos.

EM - O OUTRO LADO DA HISTÓRIA DO MUNDO - PEDRO SILVA - IN-FINITA

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Grinalda de emoções (excerto 17) - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA

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Precisava sair, tomar um duche rápido e comer qualquer coisa. Ao beber o café, no final do pequeno-almoço, surgiu-me a imagem do meu salvador no dia do acidente, o senhor Raul e, por que não convidá-lo a passar aquele domingo comigo, numa ida a ver o mar?
Fui buscar o telemóvel, que tinha deixado em cima da cómoda, no quarto, e procurei a letra R de Raul, hesitei entre o ligar ou não ligar. Liguei.
Ao fim de escassos segundos, ouvi do outro lado a voz calma do senhor Raul. Cumprimentámo-nos com as perguntas normais de quem não sabe um do outro há muitos meses. Disse-me ter estado adoentado, com uma forte gripe que não o largava, mas que entretanto, já se encontrava bem. Estranhando o meu telefonema, pois nunca o tinha feito e já tinham passado vários meses desde que nos
tínhamos conhecido, perguntou-me com um tom de preocupação, se estava tudo bem comigo. Disse-lhe que sim e, antes que me arrependesse, convidei-o para o meu passeio até ver o mar. Senti na voz a sua admiração pelo meu convite, mas de imediato aceitou a ideia.

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quarta-feira, 22 de junho de 2022

Içando velas (excerto 7) - ANANDA LIMA

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O setor da mastologia tinha algo diferente. Entreguei o meu amado cartão de matrícula à recepcionista e sentei. Nas paredes tinha alguns desenhos e traços que traziam beleza ao espaço. Observei que num canto tinha vários talões, fui lá e peguei um, comecei a manuseá-lo. Era pra contribuir com o hospital. Tinha informações de como fazer. Coloquei-o na minha bolsa.
Sentei, peguei o livro e segui a leitura. Passou um pouco, meu nome foi chamado. Estava sozinha, por medida de segurança meu marido não pôde entrar. Dia chuvoso, ele e meu cunhado estavam do lado de fora, esperando há tanto tempo. Por outro lado, era completamente compreensível, afinal as medidas tomadas pelo hospital eram mais que necessárias. O momento exigia outra organização e dinâmica de procedimentos.
Lá, segui em direção à sala à qual fui enunciada. Quando cheguei, uma médica vibrante e acolhedora estava diante de mim. Ela me escutou, olhou os exames, em seguida me examinou. Então, confirmou o mesmo diagnóstico dado pela primeira especialista.
Ali estava a segunda confirmação de que tinha algo que merecia mais atenção na minha mama. A médica, completamente empática, foi cuidadosa ao confirmar. Ela explicou que no meu caso tinha que iniciar pela cirurgia e que já iria agendar naquele momento.

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Mente absorvente - LUÍS VASCONCELOS

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A maioria das pessoas, minimamente lúcidas e esclarecidas, de pensamento objetivo, ouve, filtra e fica no que lhe parece. Nenhum discurso fanático entra num cérebro que funcione de uma forma minimamente racional, em que a razão se sobrepõe à emoção. Mas a minha mente tinha um transtorno obsessivo e, portanto, absorvia, como uma esponja todo o tipo de informação fanática e rapidamente a transformava em obsessões perfecionistas e culpabilizantes. Repito o discurso que já referi atrás para que vejam em que mundo vivi eu durante anos e anos e como isso me afetou, marcou!

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terça-feira, 21 de junho de 2022

O fardo de cada dia - ANA MENDES

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Em cada despertar da aurora sinto cansaço. Com ele, no amanhecer a esperança
E num instante a desfaço, pois termina o sonho, por vencer a constância...
Em cada despertar tento esquecer, os beijos e abraços que são pagos, as quedas dadas sem merecer.
Abandonar este fardo que em mim trago... Em cada levantar quero erguer, gritar ao mundo as cores deste corpo sofrido, do ser que padece em mim por viver, num corpo estranho, dorido.
Do preço que julgam por esta capa, nada compram a valor justo, pois nada me tira a mágoa, que me deixam a muito custo...
Com a água regenero tudo e lavo, menos esta mente prisioneira, neste corpo errado.
Preconceitos vomitados numa guerra sem estribeiras e visto-me do novo dia, no absoluto, escondo a minha vontade verdadeira, na voz de homem encavada, num travestir de sereia.
E no meu íntimo chora da heresia e se mantem esmagado no escuro... O meu Eu algemado e o fardo de cada dia...

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Imunizando meu corpo - ITANIRA SOARES

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Nesse momento em que injeto a vacina em meu corpo o insumo do medo, da dor, da morte, equaliza-se numa simbiose de sentimentos que as lágrimas não conseguem conter-se, e a voz da Ciência grita alto aos meus ouvidos: Bravo! Bravo!
Sinto o olho da ciência em vigília a me olhar.
Exército em luta acirrada.
Testa dentro em mim a sabedoria humana, a voz da liberdade em meia porta aberta, arestas de desejos, mutirão de doce esperança, não se deixando sucumbir a força de mãos unidas nas preces balbuciadas trêmulas de emoção.
Hoje abraço meu braço como quem teme a morte. Pressiono com força um chumaço de algodão, na vã e infantil concepção desinformada, que aquele precioso líquido injetado, se acomode no meu organismo e sinta-se privilegiado.
Esse líquido que vacina a minha sina, imunizante que lava, limpa, restaura, fortalece, aproxima-me de minha família e amigos, quebra-me as algemas, devolve-me a liberdade que esse vírus me roubou, saqueou meus beijos e abraços, angustiou meus dias, matou amigos, colegas de trabalho; esse líquido agora, nesse instante, é preciosidade em minha vida.
Abraço-me carinhosamente com muita força, emocionalmente com mil agradecimentos, humildemente com muita esperança, reconhecidamente com muita gratidão.
Abraço-me como se todos os abraços que cobro, me abraçassem de uma só vez.
Abraço-me como quem segura a alma plena da misericórdia divina, nesse domingo de ramos, que me imuniza corpo, espírito e alma.

EM - PELOS CAMINHOS DO MEU UNIVERSO - ITANIRA SOARES - IN-FINITA

O cooperativismo: outro valor eco-social (excerto) - JOAQUIM SILVA

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O Cooperativismo deverá ser uma aposta na construção da “Nova Era”, ou Mundialização alternativa, como uma doutrina aberta, e uma forma de associação (coexistindo com a liberdade criativa do ser), capaz de possibilitar, neste mundo de recursos escassos e de economia suficiente, uma partilha organizada e distribuída de modo igual, não só nas comunidades nacionais, como no mundo globalizado. António Sérgio insigne pensador Português deverá ser revisto, à luz desta nova ideia cooperativa. Um Cooperativismo Eco-Social.
Um Cooperativismo Eco-Social é o que se pode hoje designar, ou se designa mesmo, de Economia Social, a auto-eco-organização das comunidades em torno de projetos económicos, sociais, culturais e outros, de modo não lucrativo, suficiente, não consumista e portanto de cariz cooperativo. Porque só a Cooperação substitui o Paradigma, vicioso, da Competição.

EM - A VIA DA SÍNTESE III - JOAQUIM SILVA - IN-FINITA

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Gênero e Imigração (excerto 4) - BRUNA VIANA CABRAL

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Dessa forma, conseguimos organizar uma rede de mulheres brasileiras profissionais de diversas áreas, que disponibilizaram seu conhecimento, tempo e trabalho para ajudar outras mulheres. Assim, estabelecemos uma ligação direta entre as mulheres brasileiras nas diferentes regiões de Portugal. As plataformas online, nomeadamente o Facebook, o Instagram e o Whatsapp foram utilizadas para conectar, ajudar e apoiar as mulheres brasileiras que chegavam através de formulário. As redes sociais, portanto, foram fundamentais para o nosso trabalho e neste livro vamos falar sobre como utilizamos este meio para construir uma rede solidária que alcançasse mulheres brasileiras em todo o país, criando pontes, diálogos e apoio. A Rede Solidária surgiu com o propósito de intensificar a importância da união entre as mulheres, contribuir com a saída do individualismo para a prática de considerar e reconhecer outras mulheres, e consequentemente expandir a nossa consciência coletiva.

Foi impactante perceber a quantidade elevada de situações cotidianas que se intensificaram na vida destas mulheres com o surgimento da Covid-19. As mulheres imigrantes brasileiras, sofreram, muitas vezes sem se dar conta da intensidade do seu cansaço frente às situações enfrentadas. Florbela Espanca autora do poema Caravelas “Cheguei a meio da vida já cansada de tanto caminhar! Já me perdi! Dum estranho país que nunca vi. Sou neste mundo imenso a exilada”, que descreve bem o cansaço das mulheres brasileiras em Portugal e a necessidade de apoio e solidariedade.

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domingo, 19 de junho de 2022

Sexta-feira (excerto) - CARLA GISELE BATISTA

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Cheiravam a alfazema as roupas de cama trocadas naquele dia. Era amplo o apartamento, em um conjunto de prédios antigos. Os janelões de todos os cômodos ficavam abertos. Vantagem de morar no terceiro andar. Móveis não havia muitos.
Ela ainda estava na graduação quando ele veio morar junto. O colchão de casal sobre um tapete. Na sala era apenas um sofá de três lugares e uma mesa com bancos. Poucas plantas. Flores raras. Muitos livros e CDs. Coisas dele e dela, moradores solitários, que se combinaram.
Ela trabalhou de manhã e aproveitou a tarde sem aulas para fazer faxina. Tão bom com tudo limpo! Assistir filmes, ler, cozinhar, ia ser mais agradável. Era como passavam os finais de semana quando o dinheiro estava curto. As saídas se limitavam a caminhadas no parque das redondezas. Evitavam cinemas, shows, restaurantes.
Quando começaram a ficar juntos, além do estágio no jornal, ela trabalhava algumas noite de garçonete. Voltava do trabalho pro apartamento dele, no centro da cidade, levando algo para comerem juntos. Ele a esperava com cerveja ou vinho. Conversavam e namoravam até o amanhecer.
Sexta feira era dia de adiantar as edições de sábado e domingo e o trabalho dele costumava terminar tarde. Geralmente havia a cerveja no restaurante ao lado para relaxar com a turma do Jornal. Às vezes ela participava.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Conto Quântico (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

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A sala de entrada está desocupada. Não há mobiliário, nem cortinados, nem quadros ou fotografias, nem carpetes ou tapetes, nem candeeiro, nada… nada, excepto este ar que me enleia e me segreda que a sala está repleta. Os meus passos lá perduram, as minhas mãos, que tantas vezes passaram pelas paredes, lá estão, e o meu olhar permanece em cada ponto para onde eu agora olho. A sala tem-me, a mim, e eu permito-lhe isso. Sabe-me bem ser bem recebido, por ela e por mim mesmo…

Lentamente, para melhor viver o momento, percorro as outras partes da casa. Em frente à sala de entrada, directamente voltada para a porta, está outra divisão a que eu chamei, em tempos, o quarto de dormir. Tem uma pequena e funda janela para as traseiras da casa e assemelha-se às janelas dos cárceres. A memória asfixia-me. Também esta divisão está vazia e também ela está repleta!

Silenciosamente, peregrino de mim próprio, percorro o espaço da pequena casa, na penumbra que a pouca luz me permite e a memória transporta-me, de uma sala a outra, de momento em momento, até me encontrar em frente à janela da frente da casa.

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

Sonho: o que é? (excerto) - PEDRO SILVA

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És um sonhador… ou Sonhas acordado… são duas expressões extremamente comuns na oralidade. Resumem-se a uma denominação para alguém que costuma extrapolar a sua própria realidade, ou crendo ser aquilo que, na verdade, não é, mas gostaria de ser ou, por outro lado, acreditando piamente que um dia será ou obterá o que no momento não possui.
Neste caso, a perspectiva de sonho é algo não palpável e raramente concretizável. Remetemos, então, para os campos dos sonhos tudo aquilo que, de certo modo, está para lá das nossas capacidades.
Sonhamos com sucesso, riqueza e felicidade infinita. Sonhamos para nós mesmos e para os que nos rodeiam, sobretudo os nossos descendentes, a quem pretendemos imputar uma “responsabilidade” de concretizarem tudo aquilo que sonhámos para nós mesmos mas que, por uma razão ou outra, não conseguimos levar por diante.
Mas, lá diz o ditado, sonhar não custa nada e, portanto, continuamos a sonhar, seja de noite ou de dia, acordados ou a dormir, sempre como qualidade inata ao ser humano.
Aspiraremos nós sempre a algo que não possuímos?
Seremos insatisfeitos por natureza?
Ou não nos conseguimos, mesmo, livrar dos sonhos, mesmo que o quiséssemos?

EM - O OUTRO LADO DA HISTÓRIA DO MUNDO - PEDRO SILVA - IN-FINITA

sábado, 18 de junho de 2022

Grinalda de emoções (excerto 16) - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA

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A televisão transmitia uma telenovela brasileira. Mudei de canal e a telenovela era mexicana… num outro, a telenovela era portuguesa. Desliguei-a, afinal, a nossa vida já é toda ela uma telenovela e, naquele final de dia, em que me sentia feliz, não me apetecia viver a vida dos outros, nas telenovelas da televisão.
Calmamente, comi a minha fruta. A noite espreitava por detrás do postigo que ainda se encontrava aberto.
Comecei, em pensamento, a delinear o dia seguinte, seria domingo, dia de ficar em casa. Não me apetecia ficar em casa, precisava de ver o mar para completar o meu relaxamento emocional. Mas não me apetecia meter-me à estrada sozinha, convidar quem? As amigas estariam a passar o domingo em família. Os meus meninos idosos teriam as visitas dos seus familiares. Quem? Convidar quem?
Ao jantar comi apenas uma tosta com queijo e bebi um sumo de meloa. Antes de adormecer ainda li umas páginas do mais recente livro da Alice Vieira, a biografia do Padre António Vieira.

EM - GRINALDA DE EMOÇÕES - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA - IN-FINITA

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Ela (excerto) - CARINA MARIA REIS ALENTADO

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Entro dentro da sua porta, pintada de branco e com linhas finas. A hora passa a correr e por entre conversas e neste corte e costura das palavras, apercebo-me da sua fortaleza. Com um olhar doce e cheio de esperança dá as boas-vindas às minhas fragilidades.
Senta-se com calma, com uma calma tão simples e natural que me deixa no conforto do seu colo. Ela, que me aperta a mão de cima para baixo, com aquela força e firmeza de quem agarra a vida. Ela, que com a sua sabedoria e interpretações, lá vai abrindo caminhos a um coração por vezes fechado.
Neste espaço de construção, ensina a sua arte de ouvir, compreender, agir, mas acima de tudo pensar. Saber pensar, essa arte que ela ensina. Pensei que era mais fácil pensar. Pensar na viagem das emoções, é como criar uma história com princípio, meio e fim, num fio condutor, numa prosa narrada por diferentes perspetivas. Ai estes pensamentos que moldam o nosso estado de espírito e com eles construímos realidades que existem para nós, para aquele nosso mundo vivido que por vezes teima em ultrapassar a realidade.
Ela, de confiança inabalável, de serenidade transformada, de empatia infinita, constrói um mundo novo de aceitação.

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