sábado, 30 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... PATRÍCIA PORTO

O quadro de Alice

"Ai daqueles que não morderam o sonho
e de cuja loucura
nem mesmo a morte os redimirá."
Paulo Leminski



"O poeta é um fingidor" disse Fernando Pessoa. Hoje ao me despir da capa que carreguei desesperadamente pela vida, me ocultando de viver o que é de natureza intensa, revi algumas velhas notícias. Porque novidades também envelhecem e morrem. E feito o poeta fingidor também finjo a dor que deveras sinto. Talvez porque tenho aprendido pouco sobre a realidade real, porque a imaginação, esta sim é que foi minha companheira. Pouco entendo dos falsos moralistas que oprimem a liberdade alheia dizendo sempre o que se deve vestir, ler, pensar, falar, escrever... Estranho os que não sabem fingir, os que dizem nunca mentir. Estranho os opressores. E admiro cada vez mais os patéticos, os bobos, os loucos, os inúteis, a gente toda que sabe sorrir e festejar a vida como se a beleza residisse numa alegria breve. Confesso sim: não sou boa de frases de efeito e não me saio bem com competidores, perco sempre. Faço isso desde criança e quando era obrigada a jogar damas, perdia, perdia, fazia sempre questão de perder e por isso ficava feliz. Talvez porque o meu vazio nunca precisara desse tipo de cheia. Amei alguns homens, ah, sim, mas sempre perdi também. Perdoem a comparação. Mas fazia como as damas, já saia perdendo de início. E ao final, meu vazio esvaziado de sentido, enchia-se de dores. Ao entardecer percebo que algumas pessoas são como rede e moinho, redemoinham. Precisam de vento e de pouca certeza, precisam de pouco, um pouco de sereno, um pouco de distância, um pouco de silêncio. Para compreender quem está fora do meu vazio, também preciso sair da roda, deixar que ele veja o meu estado e se entristeça da minha dor e sorria da minha alegria. Preciso me des-centrar para poder o olhar o outro com-paixão. Preciso desejar menos e sonhar mais. Estarei preparada para amar? Não, não há preparação que se justifique. Pego o meu guarda-chuva e entro no quadro de Alice. Alice sim soube amar como ninguém.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK


Sou neta de livreiro e editor, bisneta de dono de sebo, e meu pai por um bom tempo trabalhou em uma gráfica. Percorro o mundo dos livros desde cedo, quintal da minha infância. Sempre me encantou aquelas livrarias enormes, que para mim, eram o meu parque de diversões, o meu sonho de consumo.

E ganhar livros ou esperar por eles, tem sabor de boas lembranças de infância.

Passear pelo sebo do meu bisavô, chegar a casa com a sacola cheia de preciosidades e ainda ganhar um pudim de leite de sobremesa, era o programa que eu não substituía por nada, e lembro de como o meu coração batia feliz ao caminhar pelas ruas barulhentas do centro do Rio de Janeiro, naquele quase estado de deslumbramento.

O tempo fechou o sebo, e os queridos se foram. Mudei de cidade e cresci, levando comigo essas doces lembranças.

E acompanhei livreiros, editoras, gráficas, autores. E todos, em unanimidade, nunca estavam totalmente satisfeitos, sempre havia um se... talvez ... porque...

Acreditava ser exigência de uns, falta de visão de outros, incompetência de alguns e falta de preparo de outros tantos...

E guardei, algumas observações, ideias e projetos para outros tempos, na certeza de que saberia encontrar o ponto de convergência.

E hoje, lembrando de tudo isso, chego a uma observação que me fez parar para escrever: A quase impossível tarefa de conciliar o desejo do autor com o editor.

Qual a dificuldade de ouvir, perceber e fazer exatamente o que o autor deseja?

Ouço, acompanho e vivencio muitas estórias e senti na pele e na alma, por maior empatia que se tenha, a difícil tarefa de ter suas vontades totalmente compreendidas e aceitas por parte da editora. De observadora e questionadora de trabalhos alheios, virei não sei se vítima, mas com um certo incômodo, a autora insatisfeita que luta até o último segundo do tempo para deixar a obra o mais próxima possível do que se imaginou.

Agora o prazo acabou, a editora levou para a gráfica e sinceramente não sei, por mais que se tenha pedido, solicitado, revisado, se está condizente em cada detalhe ao que desejei.

E depois justifico para quem?

Ah, o erro foi meu, que não revisei, da designer que não enquadrou corretamente ou da editora que mudou a seu bel prazer, porque achou que assim estaria melhor?

A quem recorro? A um colo amigo, ao grito silencioso, ou deixo para lá, que no próximo sai como eu quero... E assim se caminha a humanidade. Editoras e gráficas ganhando dinheiro, com os direitos da criação e o criador, vira mero coadjuvante à mercê de outros desejos, que não são o dele.

E tento sentir de novo aquele sabor do pudim de leite, e a sensação de que aquele mundo encantado, foi criado apenas para nos enriquecer culturalmente, perpetuar a riqueza de uma língua, preencher o insaciável, fazer viajar por experiências jamais imaginadas e, principalmente, nos incentivar a sonhar.

Mas na minha ingenuidade juvenil, nem ousava imaginar que, por trás das histórias e das belas capas, travava-se uma guerra de incoerências, desacertos e vaidades que, só agora, consegui perceber e sentir, esse sabor, não tão doce.

DRIKKA INQUIT


quinta-feira, 28 de setembro de 2017

EU FALO DE... NEGLIGÊNCIAS

Entre muitas coisas, sobejamente conhecidas pela maioria daqueles que acompanham o que escrevo, há uma que me tem fascinado ultimamente, embora não seja recente, e não creio que venha a ser alterada, uma vez que está umbilicalmente ligada à incoerência comportamental dos autores, e não só.

Baseando-me apenas na experiência, de quase dez anos a acompanhar eventos literários, estou cansado de ouvir, e ler, sobre a falta de iniciativas pró-cultura. A bem da verdade, mesmo eu, em determinada altura, tive a ousadia de proferir esse género de queixas. No entanto, depois de muito falar e escrever sobre o assunto, dei conta que afinal essas iniciativas existiam mas acabavam por morrer com o tempo por falta de aderência daqueles que por elas reclamavam.

Falo em particular das tertúlias e dos certames de promoção de autores e livros.

Se, sobre as primeiras, muito tenho escrito e falado, especialmente pelo facto da generalidade confundir tertúlia com sarau, e por essa via, após a constatação do que é efectivamente uma tertúlia, deixam de aparecer porque esse género de eventos não lhes dá o brilho que procuram nem lhes promove o que tentam impingir, já sobre os certames, custa-me entender as razões que levam os autores a abdicar deles.

E trago este assunto à baila, neste momento, porque se aproxima mais uma edição da feira do Livro de Autor de Vila Franca de Xira e, tendo em consideração o que aconteceu na anterior (em dois dias, apenas três autores compareceram), não deixa de ser revelador do quanto, os autores, apenas se limitam a protestar por falta de apoios e formas de promoverem as suas obras, mas quando lhes surge uma oportunidade, fingem que não a vêem ou demonstram falta de interesse absoluto.

Eu até gostava que a afluência neste certame viesse a contradizer e a deitar por terra este meu texto. Seria um óptimo sinal de que as coisas estariam a mudar. No entanto, não creio que isso venha a acontecer e tenho pena que os autores não se apercebam que ao negligenciarem este género de eventos estão, pura e simplesmente, a fazer com que aquilo, cuja existência tanto reclamam, deixe mesmo de existir.

MANU DIXIT

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... JOÃO AYRES

A indústria da massificação se baseia nestes movimentos que bloqueiam qualquer tentativa de se respirar de forma diferente.

Práticas cotidianas como ficar em casa com o celular, a televisão e o rádio desligados por algum tempo, como a leitura de um livro seja ele digital ou físico que sugere um sentar confortável na poltrona ou no sofá, constituem verdadeiras subversões em relação à velocidade predatória sugerida por este maquinário catastrófico.

Cozinhar a própria comida procurando opções saudáveis, eis um exercício relaxante que nos coloca frente a frente com nossos pensamentos e também entra em conflito com este mundo repleto de ruídos assustadores e vãos.


In Crônicas de um olhar diferenciado - Atrocidades Cotidianas

terça-feira, 26 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... TACIANA VALENÇA

VIDEOCONFERÊNCIA

O Pior de ter que acordar cedo numa segunda-feira, depois de um domingo ensolarado e divertido, é ter que estar às 9h na videoconferência da empresa ouvindo, em alto e bom som, o "superintendente" falar para mais de 50 gerentes as palavras "teje" e "seje" numa empáfia e elegância de dar arrepio  na alma.

Fico imaginando como aquele sujeito chegou ali falando daquele jeito. Claro, estou sendo radical, é óbvio que ele tem "outras habilidades" que compensam que ele "seje" tão "ingnorante" e que "esteje" naquela posição tão "previlegiada". Sim, porque isso é um PREvilégio (algo que ninguém prevê, rsrs). Desculpem, é que às vezes temos que rir mesmo pra não entrar em depressão.


Fico pensando em meus pais que gastaram tanto em bons colégios para que eu falasse direitinho e tivesse ao menos alguns privilégios diante da vida... Mas, fazer o que? E já que não posso fazer nada a respeito, tenho mesmo é que rir da minha P____ falta de competência!

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK


Um fato curioso chamou a minha atenção nos últimos dias. Devido ao meu trabalho e a exposição continuada nas redes sociais, resolvi dar um tempo off para descansar e dar atenção a outros aspectos da minha vida... dois dias sem acessar o face, uma amiga perguntou o que aconteceu... essa pelo menos ainda lembrou de enviar um SMS... pois, também deixei de responder ao whatssap. Ou simplesmente esqueceram de mim, como se eu fosse apenas mero personagem virtual. Lembrei que o celular é um telefone e o meu, há tempos deixou de tocar. Somos condicionados a curtidas e comentários e ausentar-se significa ignorar ou dar pouco atenção aqueles habituados a lhe ver diariamente , mesmo que sem uma palavra trocada. E entram em greve, como que se colocado de “castigo pela ausência”, perde-se curtidores , seguidores, e até amigos.

E o mais interessante, como deixei de acompanhar as últimas postagens, me percebi em uma ilha deserta, totalmente desatualizada das conversas, eventos e discussões. O tempo é regido por segundos, as informações são processadas em velocidade quase da luz e não estar presente significa, isolamento total e desencontros.

As novas gerações crescem envolvidas nessa era virtual e mal tiram os olhos da tela, e esqueceram de que relacionamento também se faz olho no olho, e que marcar um encontro além da tela para rir e conversar é um dos melhores momentos do dia.

Cresci e vivi até bem pouco tempo atrás sem celular e muito menos internet, e pelo que lembro, todos se encontravam  e compartilhavam a vida, talvez de uma maneira bem mais reservada, mas acredito, mais saudável.

Nada contra o avanço tecnológico que contribui imensamente para facilitar a vida profissional e pessoal, encurtar distâncias e enriquecer-nos de informações e facilidades diárias. Contribuições e movimentações sociais, ponto agregador e facilitador em diversos aspectos do nosso cotidiano e interação mundial, sem dúvida, hoje, indispensável.

Mas ainda sinto falta do tempo das interações via e-mails e blogues, bem mais restritivos, mas muito mais fáceis de manter-se presente. Gosto de caminhar olhando o que tem ao meu redor, de falar com as pessoas, tocar, sentir o sol e o tempo no seu ritmo... em compasso com a vida que passa e seus acontecimentos menos imediatos, como chegar em casa e ler um jornal , marcar encontros em cafés e conversar percebendo expressões e sinais corporais.

Esse tempo em que passamos a ser uma foto e sessões de postagens, é algo que jamais vou me habituar.


DRIKKA INQUIT

domingo, 24 de setembro de 2017

EU FALO DE... FORMAS DE EXPOSIÇÃO PÚBLICA


Embora já não estranhe, faz-me tremenda confusão ver como a maioria dos autores gere a sua exposição pública.

Por existirem várias formas, qual a mais aberrante, decidi elaborar uma lista de procedimentos recorrentes que, muito provavelmente, poderá sofrer de alguma omissão.

1 - Os vaidosos

- Aqueles que aparecem para exibir os encantos que a natureza lhes outorgou, na esperança que a carinha laroca lhes sirva para vender mais uns quantos exemplares.

2 - Os falsos humildes

- Aqueles que aparentam uma extrema humildade e oferecem alguma resistência em aparecer, mas estão sempre na primeira fila para serem vistos e ouvidos.

3 - Os pavões

- Aqueles que, julgando-se em patamares superiores aos demais, fazem sempre questão de alardear feitos e conquistas, por mais insignificantes e suspeitas que sejam.

4 - Os interesseiros

- Aqueles que só aparecem em eventos se tiverem a possibilidade de brilhar, vender alguns exemplares ou ser visto com determinadas pessoas mais mediáticas.

5 - Os narcisistas

- Aqueles que fazem questão de se apresentarem através de biografia e bibliografia, sempre extensas e enfadonhas, mesmo quando estão em lançamentos ou apresentações de outros autores.

6 - Os angariadores

- Aqueles que só aparecem em eventos na véspera de lançamentos e/ou apresentações dos seus próprios livros e antologias em que participem, para angariarem público.

7 - Os penetras

- Aqueles que, escrevendo em registos diferentes, fazem questão de aparecer em eventos com vastos nucleos formados, na tentativa de aliciar público que de outra forma não conseguem ter.

8 - Os evasivos

- Aqueles que aparecem em eventos mas de forma rápida e cirúrgica, como quem diz: "Estou muito ocupado mas fiz questão de vir ao teu evento... Agora esquece-te de ir ao meu!"

9 - Os dotados

- Aqueles que fazem sempre questão de dedicar um poema da sua autoria, nos eventos de outros autores e nunca lêem nada desses.

10 - Os papagaios

- Aqueles que não tendo nada para dizer acabam por se estender nos discursos, repetindo sempre as mesmas ladainhas, em todos os eventos que aparecem.

Podia enumerar mais uns quantos, mas prefiro ficar por aqui porque pode ser contagioso.

MANU DIXIT

sábado, 23 de setembro de 2017

AOS OLHOS DE PAULA OZ

Mais do que escrever sobre um escritor é ler sobre a iconoclastia do verbo: Leonor Nepomuceno, a voz que vem do outro lado dos ângulos e do nascimento da natureza, o dom de atribuir, desabafar, fortalecer, chorar, sorrir, morrer e renascer através do universo.

É um eclipse... Um instante que permanece acima de qualquer metáfora antes utilizada, é um desnudar puro e profundo que se afirma pela diferença do seu olhar perante o mundo e toda a sua conexão, é o sentir da alma. Uma imagética de vislumbres mordazes onde se respira o chão de um querer aristotélico, que em rigor não se identifica com afirmação ou dúvida, mas sim com a curiosidade, a pergunta, a solução de um desabafo poético. É uma poesia de portas abertas e de janelas de esperança, de uma sementeira forte a que se inspira de página em página. Leonor Nepomuceno é a “lavradora da palavra".

A raiz que a poesia precisa para se agigantar com a poetisa.

Ao ler esta obra, encontrei-me a suspirar no tempo, as lágrimas eram nuas e solidárias, o sorriso era amor e sentimento, saudade na voz do vento, um turbilhão em espiral in- concreta e urgente de mais e mais sentidos...tantos e tantos, que atravessei o mundo sem dar conta...

Não é comum esta linguagem quase ostensiva de um desejo, um grito poético para quebrar, desafiar o pico do espírito, levantar referências neo-românticas como se este mundo acontecesse por força de um astro supremo, sonhador e entregue ao destino, um discursar melancólico, belo, tocante, um cântico interior, um altar sem classificação. É um altar onde somente a poesia pode rezar e pedir perdão no coração da poetisa.

São prelúdios contra o supérfluo que nos assombram e cegam pelo fulgor de um vocabulário sincero e tantas vezes mensageiro do céu.

Este livro é uma estrada ou um abismo, é o amor e a revolta, é a natureza e a beleza, é a memória e a mulher, a menina e a sua história, é um tempo dorido, um sem tempo nem dor póstuma, um ser vibrante e inédito diria "cardíaco" que nos leva para um sul de versos como novas parábolas, o coração bate, o coração é quente, o coração pulsa. Há uma corrente inigualável, um rio que corre nas veias, a chuva que molha e canta, a chuva que dança e lacrimeja, a chuva que acolhe e sua... A água casa da ALMA. O sonho casa da TERRA.

A autora Leonor Nepomuceno não nos permite a fuga, não nos permite o não-sentir, ela é tão autêntica, tão real, tão poesia qua as palavras, vivem dentro dela. Soltas, nuas, numa transparência que chega a atingir um heterónimo de si mesma, sendo um “eu ”peculiaríssimo, o que resta é um nome favorecido pelo Deus da humildade num sedutor espelho sem ficção.

Este é o livro que qualquer pessoa, qualquer poeta, qualquer sobrevivente, gostaria de ter escrito.

Assim, labirinto primordial de uma obra com vida.
Escadas em mistério... Renovação... Esperança
Paula OZ
Escritora e Critica Literária

Não percas a tua liberdade de errar...
(Leonor Nepomuceno)



Para a obra
- E quando a chuva voltar –

Da autora Leonor Nepomuceno

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... PATRÍCIA PORTO

        Para Ontem

 Mal atravesso a rua e vejo na esquina uma mãe falando aos berros com uma criança, um menino de cinco anos talvez. ”Disse pra você que tinha que fazer o dever de casa, não disse! Agora sua professora fala pra você que era pra ontem?!”  O que poderia existir de estranho numa mãe dando bronca em seu filho por não fazer o dever de casa? A meu ver, poderíamos começar questionando o papel do “dever de casa” para uma criança tão pequena.  Por isso vou pedir que rebobinem a fita. Claro, não temos mais fitas pra rebobinar. E a pergunta então coça: por que tanta pressa? Por que no final de período letivo encontramos uma criança pequena apavorada, uma mãe estressada e uma professora... Bem, a professora é “pra ontem”! Como a nossa educação brasileira que vem sendo fomentada ou para ontem ou para um amanhã que nunca chega de fato. Penso que o  pobre do futuro deva estar até corcunda de tanto peso que jogam pra ele. 
          Não consigo entender e muito menos aceitar esse tipo de método  que inclui e impõe responsabilidades extremas às crianças, e para crianças ainda tão pequenas.  Por que tão cedo? Ah, sim, é o “pra ontem”! Se ao cinco está assim, aos dez certamente estará tomando ansiolíticos com o consentimento e aplauso de toda gente. Aos treze será diagnosticado como bipolar por um sujeito que teoriza sobre o assunto, tomará antidepressivos, consumirá todos os outros tipos de drogas até chegar aos dezoito quando decidirá participar de um reality show de reabilitados para enfim se reintegrar à sociedade.  Tudo isso assim, num estalo de dedos: pra ontem!
               Vivemos no mundo das megacorporações, dos executivos de ponta, do empreendedorismo, do mercado competitivo e agressivo, do CEO’s. Disso sabemos. Mas pergunto de novo: quem ocupará esses lugares na grande cadeia alimentar da monstrópolis? Os nossos filhos e netos? Ou os meninos que estudaram desde a pré-escola nas escolas bilíngues, falam mandarim, fizeram MBA nas melhores universidades do ranking mundial?  Que ilusão é essa sorrateira, perversa, que faz pais zelosos jogarem seus filhos tão cedo e tão logo ao refugo dos seres que rastejam por sucesso? Não entendo e não aceito.
           Vejo meninos e meninas com dez, onze anos com agendas abarrotadas de afazeres. Estão deixando de viver suas infâncias e mal sabem o que é brincar pra valer.  Os pais exigentes pressionam seus filhos para os resultados, para a competição – quase sempre desigual.  Colocam na cabeça das crianças que elas precisam se tornar “sociáveis, vencedoras, pessoas bem sucedidas”.  O fracasso é a desordem do século XXI. Ser tímido já em si ser fracassado. Ser mediano nas notas significa um fracasso. Ser diferente é um caos completo.  Queremos uma juventude alta, atlética, bonita e bem sucedida.  E tudo o que não couber nesse pacote deverá ser descartado.  O padrão estético é uma das exigências dessa nova mentalidade.  É a ontogênese de plástico.  Os corpos devem ser esculpidos, feitos em blocos de produção de massinhas nas academias que se proliferam numa proporção diametralmente oposta ao número de bibliotecas, livrarias e espaços culturais. Uma monstrópolis mesmo, uma multidão sem cabeça.
              E aí chegamos a um paradoxo inevitável: como a multidão sem cabeça conseguirá gerar maior equilíbrio num mundo cada vez mais desequilibrado? E desequilibrado emocionalmente, apesar do abuso dos psicotrópicos. Em países mais desenvolvidos o número de suicídios cresce de forma alarmante entre os jovens.  A depressão será a grande doença vilã do fim de século. Mas será que paramos para imaginar como será a velhice dos centenários depressivos do século XXI? O homem viverá mais. Que homem? Pra quê? Como a ciência que aumenta anos de vida poderá sanar a ansiedade, o mal estar contemporâneo, o aumento da psicopatia, das insanidades cometidas por desvios emocionais mal resolvidos?
         Para pensar o ser humano na sua inteireza, holisticamente,  não poderemos ao mesmo tempo projetar essas cobaias de futuros promissores, de vencedores em tudo.  Não é apenas contraditório, é doente. É um sinal de doença dessa sociedade, de doença também de uma classe média achatada entre ser e ter, conseguir e não conseguir...  E ambicionar ser o melhor sem o meio termo, sem a média, não é em si uma garantia de topo.  Nem para quem está no topo da cadeia há garantia de topo.  Menos ainda para a classe média. Então... Por que tanta pressa? Por que formar para deformar?
         Outro dia vi uma cena que me chamou atenção. Uma mesa repleta de adolescentes numa lanchonete de shopping com seus smartphones. Ninguém conversava com ninguém, mas todos falavam coisas aleatórias, monossilábicas, de quando em quando, sem desgrudar os olhos de seus brinquedinhos. Disse isso, porque essa é uma cena que não chama mais a atenção de ninguém, ela se tornou lugar  tão comum que chega a ser boring. Não que os que os adultos também não façam a mesma coisa. Mas a questão que urge é que, bem sucedidos ou não, esses adolescentes serão os adultos da minha velhice.  Vai me dizer que você não se preocupa com a sua velhice? Eu me pré-ocupo com os adolescentes e me preocupo comigo, com o futuro que deles é meu, é nosso.
            Não sei aonde e como chegará essa nova modalidade de ser humano.  E entendo que saberemos dele cada vez menos ao pensar que sabemos cada vez mais. Quanto mais o dominarmos mais ele se esquivará para dentro de seu abismo particular, quanto mais o doutrinarmos para o sucesso mais ele se sentirá rejeitado, mal amado, mal integrado... Claro, estamos fazendo tudo que rege o método dos apressadinhos, menos o que rege a nossa intuição: amá-los, ficar mais com eles e ouvi-los. É porque amar não vem em bula, não é mesmo? Não há receita. E, por incrível que pareça, ainda não inventaram um método mais bem sucedido de chegar à felicidade. 
           A melhor pedagogia passa por aí e não me interessa conhecer os números, as estatísticas dos que se julgam donos da expertise pedagógica da vez.  Os números podem sempre ser torturados. Mas as crianças deveriam ser poupadas disso. Deveriam lhes devolver suas infâncias roubadas com horas e mais horas livres para não fazerem absolutamente nada. Porque o nada  é o gênesis, é onde a ideia germina, a ciência acontece, a poesia se mostra, a história se cria. O nada é muito.

              E “pra ontem”, professora, só o passado sem volta. E a vontade do hoje.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... LÚCIO MUSTAFÁ

Vem para o Mundo Bom Possível! Vem!

O mundo selvagem era aberto, não tinha cercas, nem muros, nem armazéns.

Era mais fácil ser independente de outros humanos, nele, bastava sair por aí, com cuidado apenas em relação aos perigos naturais: aos animais predadores e se botar a pescar, caçar e recolher frutos e todo tipo de coisa alimentícia.

Em qualquer lugar se fazia uma barraca e se morava nas margens de qualquer lago ou rio... se tivesse alguém chateando, bastava se mudar e tudo estava resolvido.

Mas nesse nosso mundo em que tudo é cercado, murado e armazenado, não nos sobra muita opção a não ser irmos nos aprisionando uns nos outros e nos tornando mais e mais dependentes.

Aí, para diminuir o impacto de tamanha perda de liberdade e independência, a gente vai aceitando versões maquiadas desta realidade tolhedora, limitante, intimidante.

A gente vai aceitando acreditar que a civilização não é fruto de um sistema errado de convivência, voltado a fazer uns se sobreporem aos outros, enriquecendo às custas de tal sobreposição; a gente vai se enganando até com a criação fantástica de seres invisíveis, hipoteticamente habitantes de uma realidade paralela, melhor e mais equilibrada, na qual porém também haverá (talvez) muros, cercas, portões gradeados e até armazéns; haverá um dono, um senhor exercendo sua influência global sobre todas as mentes que, finalmente, abdicarão da prerrogativa de discordar (do livre-arbítrio) e do ser criativas e se renderão diante da evidência de que tudo o que de melhor já existe naquele mundo bom (mas cercado) paralelo.

Mas no nosso âmago, sentimos que fica faltando uma parte da explicação, principalmente porque nos vemos induzidos a ter que conviver com pessoas más, que nos machucam, ou poderiam nos machucar repentinamente, quando estivéssemos desprevenidos.

No nosso âmago percebemos que algo não está funcionando corretamente. Então nos damos conta que somos obrigados, se quisermos ter uma vida minimamente protegida contra aquele e outros tipos de agressividade, a viver criando mil estratégias para conservar ao menos nossa auto-estima elevada.

Temos a necessidade de nos olhar no espelho e de gostar do que vemos, temos a necessidade de sermos orgulhosos de nós mesmos, de nossos feitos e temos também a necessidade de termos um plano para o nosso sucesso em relação a tal proteção.

Pode até acontecer que buscar tal situação protegida contra os perigos de sofrer agressividade alheia se torne o objetivo maior da vida da pessoa, pois, se percebe que, pelo menos, quem consegue o famoso "lugar ao sol" é quem é bem sucedido na mirabolante aventura de se livrar das muitas ameaças de sofrimento veladas em cada esquina.

A coisa se complica ainda por conta dessa disputa entre indivíduos aprisionados entre cercas, muros, portões de ferro e armazéns, terminar se despejando no mundo da política, gerando teorias diferenciadas do como se deve dinamizar o sistema de agressividade contra quem pensa diferente, por motivo A ou por motivo B, não importa.

Gera-se assim o mundo das ilusões das ilusões e o indivíduo se encontra então num mundo semelhante a um campo minado, um mundo ameaçador. Por isso que nesse mundo se entristece, por isso que nesse mundo se pode ficar deprimido etc.

Mas ver essa realidade nua e crua, ao menos para mim, não é algo que me faça desesperar não, embora, obviamente, se preferiria que o mundo fosse outro, que não terminássemos submetidos a alguém que já nos fez algum mal terrível ou que tem costume de nos machucar ou que pode, de repente, nos machucar sem motivo real ou aparente.

Ver essa realidade para mim é coisa boa, pois me deixa: 1. menos ingênuo; 2. mais perspicaz; 3. instigado do ponto de vista da criatividade; 4. independente, enquanto não mais iludido de que essa ou aquela pessoa, de um momento para o outro, se transformará numa pessoa boníssima e nos brindará com sua proteção e bons tratos eternos.

A partir daí é que eu resolvi ser genial, inventar um modo de ser que me permita dar olé em todos aqueles perigos, reais e potenciais; que me permita perceber as mínimas oportunidades de utilizar tempo e espaço e realizar pequenas ações deliciosas e honrosas ao mesmo tempo.

A partir daí eu me dei conta que não faz o mínimo sentido eu me comprometer com quem está comprometido em seguir seus piores instintos e que, em relação àquela pessoa, ou àquelas muitas, ou muitíssimas pessoas, eu posso tranquilamente, me resguardar, sem odiá-las, mas sem também ter expectativas infantilóides em relação a elas.

Eu aprendi a chamar isso de realismo e aprendi a amar o realismo e a partir do realismo criar meus mundos possíveis, minhas realidades fantásticas, realmente fantásticas, meus paraísos, meus mundos paralelos, neste mesmo plano da materialidade, diferente daquele sonho de um mundo fora desse no qual porém continuará a existir cercas, muros, grades, armazéns.

Por fim eu me dei conta que esse meu sofrimento, que essa condição sofrida, aprisionada nesse mundo civilizado erradamente, eu a compartilho com trilhões de outras pessoas na face da terra e que os que estão nascendo em continuação, de certa forma, continuarão a compartilhar comigo de tal dor e, como decidi ser mais esperto do que o espertalhão (ou espertalhões) criador de tal armadilha civilizada, escogitei esse sistema artístico alternativo que muitos hoje me vêem utilizar que me faz usar a palavra, a cor e o som (o toque e o paladar também) para propor um desmonte desse mega engano, dessa sociedade penitenciarizante, aprisionante, um desmonte cheio de amor, panamorista, que inicia pela nossa decisão de não colaborar mais com os guardas carcerários, nem como o presidente do presídio social, criar dissenso voltado para uma visão futura de mundo bom, de mundo no qual não seja necessário cercas, nem muros, nem chaves, nem trancas, nem grades, nem portões, nem armazéns, nem cofres, nem prisões, nem patrões, nem subordinações, nem policiamentos, nem encarceramentos.

Um mundo só de paz, só de amor, um mundo panamorista, possível.
Possível pelo simples fato de alguém como eu poder existir e pelo simples fato também que eu sou alguém comum, alguém como você que também pode ser um eu.

Vem ser eu que eu aceitarei ser você, nesse projeto de fazer o mundo amadurecer e perceber que é necessário um desmonte total e uma reorganização geral para que tudo seja bom, para que tudo seja belo, para que tudo seja delicioso e para que a vida seja uma linda aventura feita só de beijos, abraços, denguinhos, carinhos, carícias, lindas transas, lindas artes, lindas emoções, lindas invenções.

Vem!


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK

No vácuo do tempo

Percebi em vivência o que significa essa expressão que sempre utilizei de forma literal e do quanto somos vulneráveis aos planejamentos e ações do destino ou acontecimentos cósmicos ou ao acaso, seja o nome que for, de acordo com a filosofia de vida de cada um.

Nunca gostei de planejar ou me perceber a médio ou longo prazo, sempre tive uma certa aversão, de querer me imaginar em um tempo a frente e de tentar controlar os acontecimentos. Após anos resistente e relutando muito para essas determinadas situações, ano passado, confirmei a presença em um evento, meses antes, hospedagem e passagem pagas e a cia aérea, não enviou o ticket de embarque que até hoje não foi encontrado ou justificado. Não compareci, e a confirmação de que planejamento geralmente termina em frustração e decepção.

Teimosa, esse ano, lá fui eu fazer novos planos, a médio prazo, e orgulhosa de que finalmente havia superado esse incômodo na minha vida, segui determinada, passo a passo, contrariando a minha natureza. (Lembrando que 50% do sucesso não dependiam de mim). De início logo nas primeiras semanas, dois projetos foram cancelados e tive que readaptar-me. Outro por insistência dos acontecimentos, foi realizado, mas sem a satisfação e excelência  do que foi idealizado e imaginado.

Por fim, ainda tomei fôlego e insisti. Três meses de empenho, pesquisas, buscas e ao perceber que tudo estava caminhando sem sustos, confirmei novamente a minha presença, nesse mesmo evento, um ano depois. Com as experiências anteriores, tomei todas as providências para seguir tranquilamente na empreitada de obter meu primeiro sucesso em planejamento antecipado. Mas como por ironia ou sina, no último minuto do segundo tempo, houve um erro da operadora de viagens, marcando a data tantas vezes repetida e escrita para 7 dias após a data solicitada. Foi uma semana sem dormir, indignada, tentando resolver de todas as formas a incompetência e descaso alheio. E regida pelo incontrolável, todas as datas de embarque daquela companhia estavam lotadas para os dias que eu precisava. Ultrapassei o limite de toda a minha diplomacia, descontrole e capacidade de negociação, até a conformação de que não era para ser e estar novamente naquele momento. A mesma situação se repetiu. Passagem e hospedagem pagas com antecedência, confirmação da minha presença e estou aqui.

Explicação? Não tenho. Aceitação? Para não perder a minha fé, quis acreditar naquela máxima de que não era para ser.

Fiquei parada no vácuo do tempo.

Corri tanto para deixar tudo organizado, despedi-me da família e amigos, organizei todos os detalhes burocráticos de quem faz uma mudança de vida e de repente... Não embarquei para o destino planejado naquele dia tão esperado.

E a minha vida parou no dia do embarque previsto. Mais uma vez, o senhor dos destinos, mostrou-me que nada se controla, pelo menos, comigo, e não tenho esse poder de fazer com que os acontecimentos se cumpram quando eu quero.

Não vou usar novamente a palavra frustração, mas hoje estou aqui, olhando para o céu e decidida a engolir mais essa, e esperar o próximo vento passar, para embarcar na hora que a vida determinar.

Lembrei  de uma música que sempre repeti, talvez, a melodia tenha ficado registrada no inconsciente, de onde dizem vir os desejos...

“ Deixa a vida me levar...vida leva eu...sou feliz e agradeço por tudo o que Deus me deu”. É, Sr. Zeca Pagodinho, sempre vou repetir esse refrão quando novamente decidir fazer qualquer planejamento.

 E sigo... cantarolando.

DRIKKA INQUIT

terça-feira, 19 de setembro de 2017

EU FALO DE... PLÁGIO E PLAGIADORES

Aproveitando a recente polémica do cantor acusado de plagiar alguns dos seus grandes sucessos e depois de ler muitas opiniões vulcânicas sobre o assunto, decidi vomitar as minhas postas de pescada sobre o tema, ou não fosse eu acometido de intenso prurido e alergia pura quando há plágio. Aliás, como muitos saberão, alguns dos meus castigos no Facebook aconteceram após as denúncias públicas que fiz de algumas páginas onde essa prática é recorrente.

Este caso traz à tona algumas questões pertinentes e, sem admiração, reparei que num assunto que deveria ser consensual, existem grandes divergências e inexplicáveis contradições na hora de avaliar este fenómeno.

Não tenho competência, nem conhecimento efectivo, para poder alegar a existência ou não do crime, no entanto, como tenho dois olhos na cara e, pasmem-se, até gosto de pensar, analisei a questão, tal qual foi noticiada pelos órgãos de comunicação social (que não TVI ou CMTV) e não consegui detectar inocência do artista, mais não seja pela demonstração, de culpabilidade, clara e inequívoca, do próprio, ao alterar o registo de algumas canções, de autor para adaptador. Ah... fazendo-o somente após a bomba ter rebentado e o caso vir a público.

Mas, apesar das evidências, há sempre alguém que defende de unhas e dentes o culposo. Neste caso específico, creio que essa defesa cega prende-se mais pelo mediatismo do artista que, mesmo não estando dentro das minhas preferências musicais, não me custa admitir, é um cantor de massas e essa condição cria uma aura de intocabilidade que, até há muito pouco tempo, seria muito complicado desconstruir e combater.

Um aspecto interessante nas reacções, no Facebook, que tive oportunidade de ler, e que sempre acontece em casos mediáticos, é a intolerância, cada vez maior, à opinião de terceiros. Quando aparece uma polémica, os lados têm tendência a extremar-se e, na generalidade das vezes, acaba em discussões de teor ofensivo, para não dizer mal educado e de baixo nível, bem longe do assunto que gera a discórdia.

Nestas alturas, todos são donos da razão e, vai-se lá saber como e desde quando, transformam-se em entendidos profundos e analistas conhecedores das matrizes e leis aplicáveis. Neste caso até apareceram opinadores com vastos conhecimentos sobre a legislação e, em simultâneo, sobre questões técnicas do foro musical.

Mas o mais caricato, para mim, foi observar como algumas das pessoas que desvalorizam o plágio nas redes sociais, nomeadamente no plágio descarado aos textos que muitos autores aqui partilham, foram os primeiros a apontar o dedo à prevaricação do cantor, usando os argumentos que consideram inválidos quando se trata de plágio de poemas. Acho engraçado que neste caso venham dizer que existe plágio nem que seja por uma frase semelhante, quando em situações similares, mas menos mediáticas, argumentam que frases iguais não significam plágio mas sim formas idênticas de exprimir. Afinal em que ficamos? Por que razão querem traçar linhas distintas na hora de avaliar as situações de plágio? Será que só é plágio se os envolvidos forem figuras mediáticas? Por que razão deve existir um peso e uma medida para poemas de canções e outros diferentes para poemas apenas escritos?

Mas o mais engraçado de tudo foi ler um acérrimo comentário, feito por um individuo muito indignado pelo descaramento do cantor em usar meios tão baixos para alcançar sucesso e que, segundo a sua perspectiva, se o cantor não conseguia escrever poemas para as suas músicas que os comprasse e não roubasse as frases de outros autores. E ler este comentário foi engraçado porque, quem o fez, foi administrador de um grupo de onde fui expulso por ter acusado, com provas, este mesmo administrador de plagiar uma autora amiga, usando 14 (catorze) adjectivos, para definir o amor, e pasmem-se, na mesma sequência. Na época, este senhor teve o descaramento de me dizer que não tinha plagiado coisa alguma, apenas se tinha inspirado no texto da autora e que a sequência tinha sido mero acaso. Claro que sim... eu vi mal e nem dei conta que estava perante um texto com 14 coincidências, coincidentemente alinhadas.

Se por um lado, ter lido o comentário deste senhor, fez-me rir e recordar o que o mesmo fazia, por outro lado deixou-me tremendamente satisfeito pois os meus argumentos da altura fizeram um plagiador virar acérrimo combatente do plágio.


MANU DIXIT