sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

EPISÓDIO DA MENTE... (excerto) - SÓNIA CORREIA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Ele era nas palavras a correspondência aos tantos devaneios que ela procurara. Ocultava algo que ela não soubera definir e, no entanto, o espanto do entendimento quase que já vestia cumplicidade sem tempo.

Sabia lê-la e, num único encontro de relance, tinham ficado de pensar entrelaçado. A vida pegara lhe na mão, talvez trémula na espera ou talvez intencionada, desbravou o silêncio e ela respondera- lhe sem o identificar. Nasceu uma troca de letras intensa, quiseram-se nas frases, tocaram-se em textos impensados.

Namoraram, casaram e divorciaram-se em três dias, o sentido de humor gravara sorrisos constantes e gargalhadas afrodisíacas. Não se sabiam e aconteciam sem freio, falaram em viver loucuras, em paz para mover o futuro, em viagens para partilhar o mar e o corpo, foram até um encaixe no meio de uma certa inconsciência.

Furacão foi como a definiu num jantar inventado que nunca chegaram a partilhar, mas no mundo do impossível sonhavam um presente desenhado a mil cores enquanto a velocidade do desejo disparava, tudo eram metáforas vívidas de intensidade.

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domingo, 23 de fevereiro de 2020

REFLEXO... (excerto) - SÓNIA CORREIA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O lume que trago na alma inexplicado de clareza veste de metáforas todos os sentires poupados nas letras.

Não podem vir a nu as constantes insanidades. Desentendidas seriam pelos olhos que as lessem, perdidas ficariam pelas críticas esbaforidas das bocas que mastigam sem saborear, que bebem sem sorver, faces que expressam sem perceber.

Só tu entendes as redes tecidas entre a alma que jorra paixões, a mente que desenha amores, o corpo que veste um sem número de tamanhos abaixo do desejo por sucumbir.

Por dentro, as tristezas do nada, as alegrias fictícias do sonho, a vontade aprisionada... Por fora, um corpo por saciar, uma vastidão de sorrisos só nossos, as lágrimas pendentes na escuridão e décadas de palavras que só a loucura igual sabe decifrar.

Escrever é o nosso esconderijo como sabes, e ainda assim, um porto de abrigo, um farol delinquente, uma lua sedosa de brilho, estrelas, milhares de estrelas incandescentes sob o mar que chamamos de nosso porque das ondas fizemos morada.

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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

TUDO OU NADA... (excertos) - SÓNIA CORREIA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Agarrado ao corpo, dentro dele, irritantemente por vezes, existe um coração, esse órgão que dizem sente, não sei se é o coração que sente ou se todas as emoções pairam dentro desse corpo, que serve de templo ao ser que me define no interior e se reflete no exterior.

Mas a verdade é que esse corpo não existe sem o órgão acusado de todas as paixões ou amores, de todas as felicidades e tristezas, de todos os quereres que vibram. Nesse corpo também carrego a tal massa cinzenta que é responsável pelo racional, como se alguma vez funciona-se quando o resto do corpo sente, sente, sente.

No tempo vem a gestão mais madura dessa luta entre as duas partes, vem a noção mais dissecada da guerra perdida e vencida tantas vezes, por não ouvirmos o que aprendemos. Em pura teimosia encontrarmos argumentos para contrariar a realidade em prol do batimento acelerado desse coração já culpado das tantas batalhas escritas.

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

SOMBRAS... (excerto) - SÓNIA CORREIA

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Não, não são as “50 sombras de grey”, mas sim as sombras que, de quando em vez, me assolam a alma. Aquelas que saem das catacumbas porque pertencem ao cansaço, que desvelam os momentos menos alegres e mais pensativos, que me prendem e amarram num qualquer sofá para reflectir sobre todas as coisas.

Não é perfeita a felicidade, nem mesmo a que de ninguém depende. Por vezes, visitam-me as sombras que espremem o sorriso e me deixam apática, inerte e chovendo ou não nas minhas janelas. A força quebra, o cinza quase preto, na clareira, abafa a paisagem de lírios e malmequeres e não fica senão um manto de borralhos, cinzas do que acabou e foi jogado ao vento.

O universo cala-se, o mundo não gira, a esperança barafusta em eco e dentro de mim, nesses rasgos de ondas paradas, cai o outono. Folhas secas desbulham das árvores e crescem no chão amontoadas. Os ramos vestidos de nada realçam um vazio cuspido pelas sombras em jeito de trevas. Há que procurar abrigo.

Penso demais talvez e com os anos vai definhando o leque das possibilidades. Já me habituei ao silêncio que me conforta na paz, mas será que alguém se concebe só para sempre?

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sábado, 8 de fevereiro de 2020

ESTRANHO QUERER... (excerto) - SÓNIA CORREIA

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E tenho destas horas em que me sinto feliz apenas deitada no meu sofá. Muitos quilómetros de guerra fria deixados para trás, uma luta desventrada pela sobrevivência, um educar constante de mim mesma, mas a paz – ai, este som surdo de paz! - por entre o cansaço físico e mental, sabe a oásis, indescritível a nuance que me embala a alma!

Vou sorrindo, mesmo sozinha, tantas vezes, despojada de preocupações mundanas. Entras-me pensamento adentro, apenas porque me sabe bem esta coisa que não é coisa nenhuma, mas que vamos partilhando neste acaso peculiar.

Gosto de te rever nas imagens, olhar-te para além do que o mundo aprecia e mesmo quando me chamas parva, parece-me um acto meigo, sem intenção oculta e provavelmente acompanhado de uma qualquer gargalhada espontânea que faz eco em mim.

Sei que não gostas de textos, não és das letras, mais dos números, mas também sabes que não sei não escrever, sentir e dizer. Contudo, escrevo-te mais do que aquilo que me lês. Parece-me espontâneo falar-te no papel mesmo que o guarde na minha gaveta de desabafos.

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

INDOMÁVEL... (excerto) - SÓNIA CORREIA

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Nada é tão indomável como nós mesmos, é-o por dentro que queremos domar num auge em espiral de sentimento ou sensação que não acontece. Tudo está ao nosso alcance à infeliz excepção do que com foices tentamos arrancar do coração, aquela parte do sermos humanos que não se explica e nos arrasta sem piedade para a estrada do desapego.

Mas não é indomável a aceitação, e se nos deixarmos levar nesse vento, o coração acalma, as realidades aparecem nítidas como a água onde muitas vezes nos escondemos para não se notarem as lágrimas.

Selvagem é o sentir que não nos deixa escolha, vem de rompante, acorda a esperança e antes que o carrocel acabe a viagem, já lá estamos na intransigente e teimosa vontade fluida da alma, quase parece que chegamos, que pertencemos, que a viagem não será mais na solidão acomodada.

E a vida continua, são tudo momentos que devemos acarinhar, lembrar com sorrisos, guardar como pedaços da nossa história, espremer o positivo, preservar o possível, domar o que é a felicidade.

EM - ALMA-TE - SÓNIA CORREIA - IN-FINITA