domingo, 27 de novembro de 2022

O livro de Anita (excerto 1) - TEREZINHA PEREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O livro caiu no chão. Um baque seco. Foi como se a história da própria vida de Anita houvesse desmoronado.
Há três anos, havia começado a escrever a biografia de padre Francisco, o atual vigário da cidade. De alguma maneira, Anita sempre participara da vida dele. Dividira com ele todos os momentos, desde quando ele chegara há trinta anos, guarda-chuva desbotado pendurado no braço, mala de papelão com os cantos quebrados, batina puída e empoeirada. Contraste perfeito com o rosto jovem e com o porte elegante. No dia em que ele chegou à cidade, ela foi esperá-lo na praça onde parava a jardineira. Fazia sete dias que o vigário idoso havia morrido. Velhinho, cabeça branca, pele encorrujada. Tivera o domínio da cidade por uns dez anos. Anita o assistira por todos os dias de seu domínio. Era seu destino: cuidar da igreja, da ornamentação, da marcação de missas, da casa paroquial, dos jardins.

EM - CONTOS E CASOS - TEREZINHA PEREIRA - IN-FINITA

sábado, 26 de novembro de 2022

O sentir ao refletir para transformar - Da sombra à luz (excerto 2) - GLÁUCIA LARA BORJA

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Para que tenhamos um novo padrão, se faz necessário, mergulharmos no vazio, observarmos o caos, afim de estabelecer uma reorganização propiciando o surgimento uma nova maneira de enxergar e lidar com os altos e baixos que a vida impõe, emergindo uma nova forma de ser e estar. Despertando o sentimento de pertença, onde nos sentimos responsáveis por nossas ações e seus impactos, tendo a consciência de que toda ação gera uma reação e que estamos todos juntos neste mundo, consequentemente todos seremos afetados.

Mas a boa notícia é que nada dura para sempre, e que no desconforto buscamos através do diálogo, da criatividade e da união, a harmonia. Sim, na dor nos unimos, isto é instinto de vida que está intrínseco ao ser humano. Paremos para observar, sempre após um momento de caos há uma reorganização, um salto qualitativo, tendo isto em vista, podemos nos encorajar e ir em busca da troca e soma dos saberes a força para seguirmos em frente, esta dialética surge trazendo a esperança focada nos objetivos da vida.

Porque nunca é tarde para recomeçar!!

EM - SOMBRAS - TEMPOS DE ESCURIDÃO. TEMPOS DE LUZ - COLETÂNEA - IN-FINITA

Pedido ao tio - JACKMICHEL

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Enquanto tomavam o café da manhã, Tutuca criava coragem para fazer o seu pedido. No entanto, mesmo sem querer, tia Graça notou que seu pequeno sobrinho estava nervoso; pois a xícara de café tremia em suas mãos infantis e, então, ela perguntou:
“Você está sentindo alguma coisa, Tutuca?”.
“Não, senhora.” Respondeu ele em voz muito baixa.
Tio Donato, por sua vez, também percebeu que o garotinho queria falar e, assim sendo, perguntou:
“Quer pedir alguma coisa, Tutuca?”.
O menino, enfim, tomou coragem e pediu:
“Tio Donato, será que o senhor e a tia Graça podiam me levar ao circo, no domingo?”.

EM - ALMANAQUE PALHAÇO - JACKMICHEL - IN-FINITA

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

O sentir ao refletir para transformar - Da sombra à luz (excerto 1) - GLÁUCIA LARA BORJA

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Através da história da humanidade observamos que de tempos em tempos ocorrem momentos sombrios, sejam através das doenças às guerras, impactando diretamente na existência das pessoas. Estes fatores mexem muito com todos, desestruturando não só a rotina, mas impactando na visão de futuro e nas emoções, reverberando a desesperança, mediante o contato real com a finitude, derrubando assim, o sentimento de onipotência.

Vale a pena refletir o caminho que estávamos trilhando antes da pandemia e da guerra, cada um vivendo em suas bolhas, fugindo do sentir e em uma busca cega em preencher o vazio e as frustrações com prazeres supérfluos e imaginários, drogas lícitas e ilícitas através de um mundo imaginário alimentado pelas redes sociais onde só há riqueza, satisfações e alegrias, além dos resultados instantâneos, sem empenho nenhum, como um passe de mágica.

Vale ressaltar que todos os sentimentos são necessários e importantes, são sinalizadores e possibilidades de nos rever, isto é autoconhecimento. O qual nos possibilita transformar e buscar novas estratégias para seguirmos a vida com mais qualidade. Sendo quem somos na essência e não agindo no embalo inconsequente que nos robotiza, nos fazendo atender somente as expectativas dos outros, destruindo os sonhos pessoais, as relações, nos tornando egoístas a ponto de ignorar o meio ambiente, nossa fonte de vida. Com isto, de forma inconsciente vai surgindo um efeito borboleta, onde podemos acabar sendo o que não queríamos ser, vivendo num mundo hostil, como se a realidade não fosse fruto das decisões que tomamos.

EM - SOMBRAS - TEMPOS DE ESCURIDÃO. TEMPOS DE LUZ - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 22 de novembro de 2022

A Alma das Coisas (excerto 2) - FERNANDO ROSENDO

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Quantas feridas... Quanto cansaço...
Ao longo dos anos, se pensarmos no tanto de pés e de passos que já pisotearam, quantos tropeços, quantas chuvas já lavaram, quanto peso e malho suportaram...
Isso é história... Isso é a alma das coisas... Nesse caso, a alma dessa rua, ou a alma dessas pedras que carrega uma multidão de recados, desejos, credos, açoites, conquistas...
Quantos calos secaram nas mãos dos calceteiros... Quantos calos nas ruas desfilaram... Quantos passados reunidos formaram esse presente...
Quantos passos hoje vem desfrutar de sua elegância única, de seu esmero e de sua trajetória...
Quantos operários se machucaram? Quantas lágrimas vertidas? Quantos dissabores embargaram na voz esses heróis anônimos, esquecidos no tempo...
Quantos costumes, quanta fome saciada pelo trabalho, ou quanto trabalho saciado pela fome...
Isso é a alma dessas pedras... O que escuto por entre essa multidão que passa e que trafega sem pressa... A voz dos alheios... A canção dos sofridos... O riso das infâncias, a saudade... O grito das esperanças... O olhar de contemplação de um dia de Domingo, onde toda essa gente transita maravilhada pelo sossego de uma paisagem que leva a um pôr do sol inesquecível...
Isso é a alma dessas coisas, à qual devemos todo o respeito sagrado e gratidão...

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Mulher feliz (excerto 3) - TEREZINHA PEREIRA

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Foram para a cozinha. Sozinhas, tomaram o café. O Mário foi ver a pequenina que se remexia no berço. Quando o Inácio saiu é que falaram comigo. Então, disse a eles que precisávamos programar a nossa vida. Que não tínhamos mais o pai. Mas que éramos cinco. Cinco pessoas saudáveis... E a vida continuou. Só Deus sabe a falta que o João nos fez. Só Deus sabe o tamanho do vazio que ficou dentro de mim. Um vazio que existe até hoje. Os meninos continuaram colhendo ovos no mato, achando galinha choca perdida e bezerro agarrado no cipó; arrancando matinho da horta; lavando louça no rego; carregando água para encher as bilhas e latões. Iam à escola também. Perto da casa da estrada havia uma escola. Uma professora vinha duas vezes por semana e juntava todas as crianças numa sala e ensinava a ler, a escrever, a fazer contas. A horta foi ficando viçosa. As plantações proporcionavam boas colheitas. Os animais também produziam boa renda. A vida tomou um bom rumo. Um rumo, talvez, diferente daquele para o qual o João nos guiava. Mas, continuamos. Como uma família alegre e unida.”

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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A Alma das Coisas (excerto 1) - FERNANDO ROSENDO

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No meu bairro há uma rua de pedras...
Pedras disformes, recortadas, desiguais e dispostas numa via que cria um existencialismo singular... A mais antiga rua e a primeira pavimentada de nosso estado.
Se olharmos por entre essas pedras seculares, viajarmos por sua história e todo o seu caminho de desconstrução e construção... Os pedreiros que arrancaram as rochas das montanhas e criaram os matacões, e depois rolaram até aos operários que puncionaram, recortaram esses matacões aos pedaços e posteriormente lapidaram de maneira irregular, desenhando através da punção, do cinzel impulsionado sob o macete e a picareta...
Quantos suores despendidos sob o sol e as intempéries... O volume de pedras lascadas e as dificuldades de empilhamento e armazenagem... Depois o carregamento e o transporte feito por animais de cargas até a rua de meu bairro que até então não era uma rua, talvez um caminho, uma passagem, e que sofreu os golpes das enxadas e das charruas para aplainar, alisar... Após a descarga dessas pedras sobre os depósitos e um novo carregamento, dessa vez, uma a uma, e dispostas como se fossem renda de bilro tecido sobre a terra... E a poeira... A lasca... O peso de cada uma, agrupadas artisticamente...

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Tutuca desperta - JACKMICHEL

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De manhã Tutuca acordou, lembrou do seu sonho e pensou como seria maravilhoso se ele fosse assistir, na companhia do Tio Donato e da Tia Graça, a apresentação dos artistas do Circo Eldorado e, principalmente, ver de perto seus ídolos Palhacito e Palhacento.
Ah! Como ele queria ir ao circo!... Mas como isso seria possível se ele era apenas uma criança, sem um vintém sequer no bolso?
Ele teria de ir ao circo de algum jeito, nem que precisasse vender sua tão adorada coleção de bolinhas de gude!
Tutuca continuou a pensar sem parar até que, de repente, teve uma ideia brilhante: pediria ao Tio Donato para irem ao circo, no próximo domingo.

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domingo, 20 de novembro de 2022

De luzes e sombras - FÁTIMA D'OLIVEIRA

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Bem escondida no meio de tudo e de todos, Belarmina ou Mina, como era conhecida, sentou-se no chão, cruzou as pernas e respirou fundo. Ali mesmo, em pleno areal ainda a borbulhar de gente que, preguiçosamente, iam adiando o regresso a casa, para, molemente, se irem deixando ficar. Naquela praia, meio perdida no meio de nenhures e meio achada pelo cada vez maior número de pessoas que teimavam em frequentá-la, Mina preparou-se, ou melhor, tentou preparar-se o mais possível para o espetáculo que se aproximava: um espetáculo feito de luzes e sombras, magistralmente acompanhado por uma orquestra feita de sussurros do mar, canto das gaivotas e assobios do vento.
Um espetáculo diário, mas que não era só um espetáculo: antes um poema, uma ode. Melhor, um hino, um verdadeiro hino à beleza, grandiosidade e simplicidade das melhores coisas da vida.
Um espetáculo descoberto por acaso, mas que se tinha transformado num autêntico ritual para Mina, assumindo proporções quase que… dominadoras.
Um mero pôr-do-sol, era disso que se tratava.
Já depois do astro rei se ter aconchegado nos seus lençóis de espuma e ainda com o céu com traços de laranja e violeta, Mina levantou-se, completamente extasiada pelo espetáculo a que acabara de assistir.
Olhou novamente para a tela imensa que se estendia à sua frente e suspirou. Amanhã, voltaria.

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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Mulher feliz (excerto 2) - TEREZINHA PEREIRA

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Ajeita a lenha no fogão. Destampa a panela de feijão; prova um grão e põe mais um pouco da água que ferve numa outra panela. Faz tudo com gestos firmes que não demonstram seus setenta e cinco anos de idade. Olha a pia com algumas vasilhas sujas. Olha o céu carregado de nuvens que atrapalham para saber a horas. Senta-se novamente na varanda. Aquela chuva toda deixa-a com o corpo mole e atiça-lhe as lembranças. “As três crianças já estavam crescidinhas e acreditávamos que ficaríamos só com as três. Os filhos vinham sem nenhum planejamento, sem previsões. Naturalmente. Frutos de algumas brincadeiras debaixo das cobertas. Mas, quando chegavam, enchiam a casa de alegria. Eu achava bom ter apenas três filhos. Naquela época, ter poucos filhos, não era comum. Nossos parentes e amigos tinham oito, dez, doze ou mais filhos. Não possuíamos muita riqueza e gostaríamos de ver os filhos estudando na cidade. Quando a Míriam deu o primeiro sinal de sua vinda ao mundo, esta casa se encheu de felicidade. O João foi o primeiro a dar a notícia às crianças. Quando ela nasceu, todos queriam participar dos cuidados para com a menina e com a mãe. Desde a lavação dos panos até a corrida atrás da galinha gorda para a canja. A Míriam nasceu miúda, cabeluda e com olhos muito pretos, bem espertos. Ao completar dois meses de vida, estava crescida e forte; conhecia as pessoas da casa e espalhava sorrisos sempre que chegava um de nós perto do seu berço. Foi numa noite de lua cheia, que o João saiu para caçar tatu. Brincou com as crianças mais velhas após o jantar. Falaram sobre tatu. Era sempre uma festa quando o João chegava com um. Despediu-se da menina no berço, com a mesma ternura de sempre. Chegou até a cozinha onde eu estava arrumando as coisas da janta. Falou o até logo de sempre, acariciando-me com os olhos. Era assim que me dava carinho. E saiu com o empregado que morava na casa da estrada. Voltou umas duas horas depois, ofendido pela cascavel.”

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quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Tutuca sonha - JACKMICHEL

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À noite, Tutuca adormeceu e sonhou com o circo: viu sua grande lona branca, toda listrada de vermelho, armada; entrou no picadeiro, terminando por conhecer todos os seus artistas.
Cumprimentou Barbelita, com sua longa barba ruiva... Facol, com suas mãos repletas de facas... Ananias, com suas três cabeças sorridentes... Fogaréu, com sua boca fumaçando... Magicante, com sua cartola mágica... Trapo e Traque, com suas cordas de trapézio... Perpau, com sua descomunal perna-de-pau... Malabe, com seus jogos malabares... Léoleão, com seu chicote, domando as feras...
Súbito, o garotinho viu Palhacito e Palhacento, que vieram correndo em sua direção, entregando-lhe pirulitos, jogando confetes sobre sua cabeça para depois desaparecer.

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sábado, 12 de novembro de 2022

AS NOSSAS ALMAS SOLITÁRIAS de C. Gonçalves - Sinopse

Ana tem a vida preenchida entre a profissão e o papel de ser mãe a tempo inteiro. Os seus filhos são a sua razão de viver, a sua prioridade. Na velocidade da exigência dos dias, Ana já não tem o tempo nem a oportunidade que gostaria ter para si, relegando as suas prioridades pessoais em prol da vida familiar que foi construindo com Martim e Carolina.

Salvador é divorciado e um solitário por natureza, genuíno no trato e nas suas convicções. Habituado a não depender de ninguém e ainda magoado por um determinado período da sua vida, vive despreocupado e sem grandes expectativas.

Quando os seus caminhos se cruzam, ambos irão perceber que ainda há uma réstia de esperança para duas almas tão solitárias como as suas.

Mas há surpresas e imprevistos que irão mudar o rumo da sua história. Serão as almas solitárias capazes de voltar a amar incondicionalmente e sem reservas?

Um romance que aborda o divórcio, a parentalidade e principalmente, o recomeçar.

A partir de Dezembro divulgação de textos no blogue TOCA A FALAR DISSO

AS NOSSAS ALMAS SOLITÁRIAS - C. GONÇALVES - IN-FINITA

Mulher feliz (excerto 1) - TEREZINHA PEREIRA

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Sentada na varanda, olha a roupa no varal, que teima em não secar. Não há nenhum vento. “Esta varanda já tem trinta anos. Foi quando nasceu a Míriam que ela foi construída. Os outros três já estavam bem crescidinhos. O Mário tinha dez anos de idade, a Lúcia tinha oito e a Neide cinco. A Míriam nasceu numa época de chuva. Chovia como hoje. O João esperou passar a chuvarada para construir a varanda em volta da casa toda. Quatro crianças pequenas precisavam de espaço coberto para brincar quando estivesse chovendo. João gostava de ver os filhos sempre alegres. Naquela época, havia o casal de empregados que morava na casa da estrada. Tinham também três filhos. O João costumava reunir a criançada toda para brincar com elas e também para que participassem de pequenas tarefas: colher ovos, arrancar mato na horta, procurar galinha choca nos esconderijos. E como gostavam de encontrar, carregada de pintinhos, uma galinha que estava desaparecida! O João nos deixou cedo. Logo após o nascimento da Míriam. Picada de cobra.”

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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Dois palhaços famosos - JACKMICHEL

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Palhacito e Palhacento eram únicos, imbatíveis, sensacionais. Esses palhaços eram demais! Conhecê-los era o sonho de toda criançada e, também, o sonho do garoto Tutuca.
Palhacito, de cabelos louros, chapéu pontudo branco com estrelas azuis, casaco vermelho, gravata-borboleta azul e branca, calça verde com bolso floral azul e branco, calçava sapatos amarelos.
Palhacento, de cabelos verdes, chapéu pontudo amarelo com flores brancas, macacão branco listrado de azul, laçarote de fita verde com bolas brancas no pescoço, calçava sapatos vermelhos.
Com seus rostos pintados de branco e seus narizes de borracha vermelha ainda seguravam nas mãos pirulitos de limão, abacaxi, anil, só para confundir.

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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

O homem, a barba (excerto 2) - TEREZINHA PEREIRA

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− De mulheres, não padeci por falta. Ah, Arminda. A doce Arminda acarinhava-me e beijava-me com o rosto afogado no meu peito. Trançava seus dedos finos de pianista com os fios desta barba ainda negra. Aspirava e dizia que o cheiro lhe despertava desejos. Irreveláveis. Por um ano e quase mais outro, vi-me a decifrar os desejos da Arminda. Eram noites e dias de muitas farras. Até o dia em que seu piano precisou ser afinado. Ou poucos dias depois. Sei que, numa tarde, não encontrei em casa nem ela nem o piano. Apenas um bilhete sem muitos cuidados com a escrita, deixado por cima da cama de nosso tempo de recreio. Disse ela que sentiria falta de minha barba em determinados momentos. Completou a dizer que o afinador tinha cabelos longos, encaracolados e macios. Bom, compensaria, concluí eu. Desde que passara uma tarde com ele por cima das teclas do piano, conhecera outros ânimos. Justificou, ela. Manhosa, a Arminda. Assim ela se foi. Nos entretantos, vieram e foram-se tantas outras. Mulheres!

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domingo, 6 de novembro de 2022

Madre de Deus (excerto 2) - ARIDAN GRAVE MACHADO

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Não havia uma política devastada, sofria-se menos. Existia uma senhora e um senhor (ambos brancos) que possuíam forças respaldadas pelos políticos da capital baiana. Esses eram procurados pelos moradores sem estudos e também sem condições financeiras para ajudas no que necessitava no momento, o reembolso era uma cria doméstica (animal) ou tomar como compadre ou comadre. Isso quando ocorria era uma fofoca na localidade. Enfim, os acreditados politicamente.
As casas na sua maioria eram de taipas, não havia saneamento, nada de suntuosas aparências pelo homem, mas os dias as noites as árvores o mar iluminados. A tristeza não achava muito espaço, ficava encolhida.
Subitamente a comunidade levanta das suas tarimbas nos colchões feitos de folha seca de bananeira e se depara com o invasor denominado “progresso”. A geografia muda nos aspectos físicos e humanos. O burro não é mais essencial nos sobe e desce do homem. Chega um veículo automobilístico. O barro aos poucos foi sepultado pelo asfalto. As fontes foram sufocadas! Bem poucos sabiam que alguns minerais poderiam no seu estado bruto também mudar a situação econômica de uma pequena localidade, imagine no planeta terra! Pois tudo mudou mesmo. A aparência internaliza a essência. Aquele espaço que fazia as folhas dançarem ao som do vento, sucumbiu. Milhares de árvores foram trocadas por barris metálicos como cofres para as cédulas revestidas dos produtos minerais que regem o mundo e mata o homem. O capital. Aquela senhora, hoje faz parte do império socioeconômico. Infelizmente o homem possui o saber, mas a sombra escurece o seu direcionamento numa descuidada e repentina liderança.

EM - SOMBRAS - TEMPOS DE ESCURIDÃO. TEMPOS DE LUZ - COLETÂNEA - IN-FINITA

HISTÓRIAS DO THIO THEREZO de Flávio Ulhoa Coelho - Sinopse

Às vezes, me perguntam há quanto tempo eu conheço o Thio Therezo. Difícil dizer, mas acho que ele esteve presente em minha vida desde sempre, acompanhando-me em quase todas as minhas próprias aventuras, viajando comigo sempre que possível. Foi ele, certamente, quem me incentivou a começar a escrever e já estava, disfarçadamente, em meu livro de estreia, Contos que conto, e lá se vão trinta anos. Escondido, percorreu todos os meus livros até a sua primeira efetiva aparição em Contos&Vinténs. Depois, ajudou-me quase que semanalmente a ocupar o blog que mantive por seis longos anos. Com ele, venho aprendendo a suportar as grandes derrotas e nunca supervalorizar as pequenas vitórias. É um prazer poder dividir com vocês algumas de suas aventuras.

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HISTÓRIAS DO THIO THEREZO - FLÁVIO ULHOA COELHO - IN-FINITA

Artistas Circenses - JACKMICHEL

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Esse circo era um sucesso! Nele tinha Barbelita, a mulher barbada... Facol, o atirador de facas... Ananias, o Anão de três cabeças... Fogaréu, o engolidor de fogo... Magicante, o mágico... Trapo e Traque, os trapezistas... Perpau, o perna-de-pau... Malabe, o malabarista... Léoleão, o domador de leões que saltavam por dentro de círculos de fogo.
Havia ainda tigres, panteras e muitos elefantes adestrados.
Mas a grande atração, a atração mais esperada pelo público, era mesmo a dupla cômica
Palhacito e Palhacento, que fazia todo mundo não parar mais de rir.

ALMANAQUE PALHAÇO - JACKMICHEL - IN-FINITA

sábado, 5 de novembro de 2022

OLHAR A ESCRITA de Conceição Ferreira - Sinopse

Olhar a Escrita não é um livro qualquer, é uma revelação do mais íntimo do nosso ser, de sentimentos e emoções, onde se vislumbra uma onda de inovação, originalidade, criatividade, em que as palavras são como cristais que nos envolvem de tal forma, que não podemos deixar de SENTIR a sua bênção e desafio.

É possível que as pontas dos dedos, ao deslizar sobre as imagens e palavras deste livro, vibrem nos nossos sentidos como se tocássemos o sol, o mar ou uma flor.

Do prefácio 

Anunciação Fialho

Fátima Veríssimo

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OLHAR A ESCRITA - CONCEIÇÃO FERREIRA - IN-FINITA

Madre de Deus (excerto 1) - ARIDAN GRAVE MACHADO

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Uma jovem senhora atualmente tornou-se uma dama opulenta, outrora as suas árvores ofereciam sombras aprazíveis que amparavam seus filhos quando cansados. Esses sentavam-se para descansar das exaustões trabalhistas, e papear também. Às vezes tiravam uma perereca sem medo de ser feliz. O dia brilhava, o céu azul, as folhas dançavam ao som da lira. Era o vento saudável, ar puro.
Geograficamente, uma ilha aprazível. Os animais domésticos desfilavam e bailavam nas ruas, o espaço era deles também. Até o boi botava as crianças para correrem. As poucas ruas eram de barro, somente uma de maior extensão era calçada de pedras.
Apesar da pobreza, as pessoas eram felizes, lógico que havia contratempo. Seus moradores sobreviviam da pesca, dos trabalhos artesanais ou artísticos, antes era considerado artes; o pedreiro, o coveiro, o ferreiro, o canoeiro, o barqueiro, o carregador de água. As mulheres, muitas mariscavam, costuravam rendas, tricô, arte culinária, costurava na máquina de pedal, entre outras. Época de festa matava-se um porco, pois era cria também dos pobres. Não se comia nada congelado, pois até o mais avantajado não possuía geladeira.
As crianças brincavam de gude, corda, bola, maria cadeira, inventavam se fantasiar de índio com a folha da bananeira, ouviam estórias contadas pelos mais velhos, iam tomar banho na maré, hoje, banho de mar. A língua é uma eterna evolução. As brincadeiras eram depois do retorno escolar, quem estudava, pois estudar naquela época, bem poucos curtiam esse privilégio. Aos sábados e domingos era sagrado ir para estudos do catecismo em prol da primeira comunhão e seguir participando da Cruzada Eucarística.

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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

CADERNOS DE ENSAIOS EM VERSO de Celso Cordeiro - Sinopse

Dando continuidade a um propósito delineado desde o início do seu percurso, o poeta coloca os seus pensamentos, a que chama ensaios, ao escrutínio dos leitores. Cabe a estes desenvolverem cada ideia, de acordo com as suas percepções, sempre induzidos pelo estado de espírito do momento e circunstâncias da própria vida.

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CADERNOS DE ENSAIOS EM VERSO - CELSO CORDEIRO - IN-FINITA

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Oração da Guerreira de Luz - ALEXANDRA FERREIRA

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O dia ainda amanhecia quando ela se levantou. Fez o seu banho de ervas, firmou os seus assentamentos, bateu cabeça e rezou ao Divino Olorum e aos Sagrados Orixás. Pediu o Seu amparo e proteção na sua jornada:
– que Pai Oxalá lhe fortalecesse a Fé, a esperança, a humildade, a compaixão e o perdão;
– que Mãe Oxum estimulasse o Amor que tinha a tudo e a todos e a tornasse mais capaz de agregar outros seres à sua crença, unindo-os num sentimento de fraternidade;
– que Pai Oxóssi a auxiliasse a fazer bom uso do Conhecimento, aplicando-o em benefício da sua evolução e também no esclarecimento e auxílio dos seus semelhantes;
– que Pai Xangô lhe desse equilíbrio e a ensinasse a usar a razão acima da emoção para ser ajuizada e justa;
– que Pai Ogum a afastasse da desordem e lhe permitisse vencer as suas trevas interiores e as paixões para que trilhasse o caminho da retidão e da honestidade;
– que Pai Obaluaiê lhe concedesse a sabedoria, a perseverança, a paciência para que pudesse dar o próximo passo e subir mais um degrau no seu caminho evolutivo;
– que Mãe Iemanjá a abençoasse com a criatividade e a capacidade de gerar novas oportunidades de crescimento em todos os Sentidos da Vida.
Pediu ainda:
– que Exu não lhe deixasse faltar o vigor durante a caminhada;
– que Pomba gira a estimulasse para não perder o ânimo e a confiança nas suas ações construtivas;
– que os Mirins mantivessem positivos, bons e puros as suas intenções e interesses.
Agora estava pronta para enfrentar um novo dia. Desembainhou a sua espada e pôs-se a caminho.

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O homem, a barba (excerto 1) - TEREZINHA PEREIRA

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Faz frio. Chove. Donaldo rola na cama. Há horas. A barba crespa, avultada, de cor branca amarelada desinquieta-o. Justo a porção de pelos do rosto que cultiva desde que se manifestou homem na dúbia luminosidade do quarto da Dinair. Hoje, a barba o incomoda.
− Diná, como ela preferia ser chamada. Diná era tida pelos marmanjos da vila como a dama ideal para a estreia de um rapazote. Diná, a primeira. Durou algum tempo. Até quando eu, ainda sem eira nem beira, supliquei-lhe, com humildade, que fosse mulher só minha. Ela se arredou. Amava muitos outros no mesmo tanto que me amava. Não era mulher de se deitar com um homem único. Ainda mais com algum imberbe a cheirar cueiros. Habituara-se a vários odores. Cada um na sua vez, nas várias horas do dia ou da noite. Bem, terá mesmo dito que me amava?
Donaldo puxa o cobertor até cobrir a barba e se aninha por baixo dele.
− De modo que, como eu insistia em amor exclusivo, ela não mais permitiu minha presença no Cabaré Azul. Nem mesmo para tomar um café na sala de seu randevu de cubículos separados por biombos, sem ventilação e iluminados por uma única lâmpada metida num quebra-luz de tecido fino de vários tons de azul. A vantagem é que, desde então, dediquei-me ao cultivo da minha barba.

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terça-feira, 1 de novembro de 2022

Conselhos da Vó Maria - ALEXANDRA FERREIRA

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A Preta Velha sentou no toco, pitando o seu cigarro e bebendo golinhos de café doce e quentinho.
— O que os filhos tem para me dizer?
Os médiuns sentaram-se à sua volta: um queria mudar de emprego, outro esperava ter tempo para concretizar o seu sonho antigo, outro precisava de mais saúde, outro queria um novo amor, outro estava bem como estava…
— E por que razão os filhos não faz o que quer fazer?
E todos desfiaram um rosário de justificações: falta de tempo, de dinheiro, de sorte, de oportunidade, de sonhos…
Vó Maria endireitou-se no seu toco e disse de mansinho:
— Os filhos é bom a dar desculpa, tão bom que acredita que o que está dizendo é a verdade. Mas é a SUA verdade, aquela que os filhos escolhe acreditar. Vocês sempre podem fazer mais, fazer diferente, cuidar da saúde, encolher o tempo desperdiçado e esticar o tempo bom, escolher o que pode fazer com menos pataca. Os filhos está caminhando direito, mas vem o vento e empurra vocês para um lado, outra rabanada e vocês vai para outro. Os filhos é quem manda na sua vida, não é a vida que manda nos filhos.
Olhou-os profundamente, penetrando-lhes na alma.
— Essa nega veia quer ver os filhos feliz, realizado, de coração quente e sempre que vocês bota os «se» e os «quando» no meio dos seus desejos, essa nega sabe que os filhos está arranjando desculpa para não sonhar, não tentar, não fazer. Acorda, filhos! Pensa no que quer, corre atrás e não tem medo de tropicar que vocês levanta e corre de novo!

EM - SOMBRAS - TEMPOS DE ESCURIDÃO. TEMPOS DE LUZ - COLETÂNEA - IN-FINITA