quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 233 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

233

É curioso observar que a grande maioria das pessoas que, enquanto jovens, questionavam a utilidade prática de algumas matérias ensinadas nas escolas, é a prova viva de que a humanidade é demasiado suscetível a influências subliminares.

Veja-se, por exemplo, a geometria e a trigonometria. Tirando os que estudavam engenharia ou arquitetura, ninguém conseguia ver a sua aplicabilidade. No entanto, hoje, todos, sem excepção, perante a falta de linearidade da vida, demonstram ter várias faces ou lados, procuram os melhores ângulos e prismas para se enquadrarem em alguns círculos, havendo quem consiga criar esferas de influência. Os mais obtusos estão gradativamente a alterar a vida, enquanto os mais agudos, o máximo que conseguem é ter vidas quase paralelas, muitas vezes envolvidos em triangulações, das quais, se escapam, é sempre à tangente. Depois temos aqueles mais rasos que nem vale a pena falar.

Ora, tendo em conta a aversão juvenil a estas matérias, os comportamentos geo-trigonométricos só podem ser explicados por influência subliminar.

Seja como for, se alguém conseguir elaborar uma teoria melhor, estou disposto a mudar a minha linha de raciocínio, 180º.

EMANUEL LOMELINO

O que vem a seguir? (excerto) - Cláudia Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Nenhuma outra idade pesou mais nos meus ombros do que os 50 anos.
No dia 16 de novembro de 2023, quando este livro já estiver em suas mãos, eu terei completado 50 anos.
Meio século de vida.
Pesa.
Filha de militar, de cidade em cidade, hoje aos 50 quero me firmar. Ficar no mesmo lugar. Criar raízes, ter um lugar para onde meus filhos possam voltar. Típico de mãe, eles nem saíram ainda e eu já quero um lugar para onde possam voltar.
A raiz não precisa ser profunda, mas suficientemente maleável caso eu mude de ideia e queria somente ir um pouquinho para o lado e de novo me encaixar. Fui daquelas que se adequam, afinal fui ensinada a me adequar, as vezes é um caminho mais cômodo se deixar levar. Mas agora aos 50 pego nas mãos de quem pegava a minha e tento direcionar ao local que quero estar. Essa leve mudança, leve para quem observa, é dura e difícil para quem sempre se deixou levar.

EM - CONVERSAS MADURAS - COLETÂNEA - IN-FINITA

Silêncio ensurdecedor (excerto 4) - Luís Vasconcelos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Queria tanto que ele estivesse aqui comigo, vê-lo envelhecer ao meu lado, do meu lado. Sentir-me, por ele, protegido, amparado, em cada abraço seu que nunca cheguei a ter, ou então esqueci, perdi. Cada beijo, cada sorriso, cada palavra que ele teria para me dizer e que nunca cheguei a ouvir. E que falta me fez! Os seus sábios conselhos, a sua mão forte estendida. E pergunto vezes sem conta, porquê? Só silêncio como resposta, de uma divindade muda que teima em nada me explicar, em nada me responder! Sim, ó Deus, sejas lá quem fores! Dizem por aí que és omnipotente e omnisciente. Dizem…

EM - COMEÇAR DE NOVO - LUÍS VASCONCELOS - IN-FINITA

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 232 - Emanuel Lomelino

Imagem bbc

Diário do absurdo e aleatório 

232

Todos temas dois lados, cientificamente identificados – consciente e inconsciente.

Ambos trabalham em uníssono, ajudam-nos nas questões diárias, a cada instante fazem-se presentes e manifestam-se em permanência, embora nem cheguemos a nos aperceber desse facto.

Na verdade, todas as nossas decisões são influenciadas pela dupla dinâmica da consciência, no entanto, talvez por ser mais confortável ou, quem sabe, menos incriminatório, temos tendência para explicar os nossos comportamentos através da superficialidade do consciente em vez de alinharmos na profundidade do inconsciente. Aliás, a nossa inclinação pelo consciente é tão óbvia que colocamos a outra vertente com um papel subalterno chamando-a de subconsciente.

Posto isto, e por que tudo existe porque nós existimos (consciente confortável), quando nos queixamos de algo, estamos efectivamente a queixarmo-nos de nós próprios (inconsciente incriminatório).

EMANUEL LOMELINO

O escutador da quaresma (excerto 24) - Renata Quiroga

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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– Bela e Severina são a razão do meu viver. Nasceram logo após a primeira guerra conjugal. Depois que vi tanta confusão, tanta briga com agressão, repensei minhas hipóteses anteriores que descreviam a dualidade de forma mais romântica, ainda sem levar em conta o lado sombrio que sempre habita um dos pilares que sustentam pares, para si e para todos. Conversei com amigos, revistei manos e escritos para entender essa coisa estranha cuspidora de fogo que sai da mesma boca jorradora de palavras que também embalam o amor. Foi aí que as meninas vieram para equilibrar esse jogo da vida. Não se preocupe com as meninas, são sossegadas apesar de tudo, cada uma tem seu protetor, uma segue Thanatos e outra Eros. Não precisará gastar palavras com elas, dê-lhes apenas muitas porções de observação. Passam o dia todo brincando de subir e descer enquanto a Flora, a boneca insistente e impermanente, escorrega, mas não cai, nem se atira da gente.

EM - O ESCUTADOR DA QUARESMA - RENATA QUIROGA - IN-FINITA

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 231 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

231

Ninguém discute que a criação é o expoente máximo de satisfação de qualquer criador. No entanto, este aforismo tem sido levado ao extremo das suas competências, como podemos observar, amiúde, na atitude de muita gente.

Há quem se julgue criador supremo e tente – por vezes consegue – moldar os outros à sua semelhança, ou de acordo com aquilo que pretende que os demais sejam, ignorando que todos têm o seu próprio caminho a percorrer e direito a fazê-lo na plenitude da sua individualidade e natureza, sem interferências, intromissões nem intervenções externas.

Este comportamento só tem sido possível porque, para infelicidade da espécie, há muita gente que, por medo da rejeição, faz tudo para se sentir incluída, inclusive, entregar o domínio das suas acções a outrem.

Este tipo de, chamemos-lhe, interacção é apenas uma relação tóxica entre manipulador e subserviente. E a satisfação de um criador jamais pode advir de manipulação – porque criar é parir e nunca usar – nem a criação pode ser servil – porque é bênção.

EMANUEL LOMELINO

Escolhas (excerto 7) - Renata Campos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Rosani, a mais nova das irmãs, cuida de si diariamente com caminhadas e exercícios físicos. Solteira, precisou superar algumas dificuldades que marcaram sua alma. Aos sessenta anos, desenvolveu uma alergia de pele com causa desconhecida. Procura levar a vida de forma leve, cuidando de suas relações de amizade e sendo atenciosa com as irmãs, fazendo o seu melhor todos os dias. É uma pessoa alegre e divertida que não permite que as feridas se aprofundem, mas a cura ainda faz parte de seu processo diário. Desde muito jovem, enfrenta um pânico de voar de avião, um medo cuja causa nunca foi desvendada.
São histórias de uma família com eventos de alma que se manifestaram no corpo. Talvez a falta de autocuidado tenha permitido que essas pessoas seguissem à deriva.

EM - SEGUNDA PRIMAVERA - RENATA CAMPOS - IN-FINITA

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 230 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

230

Finalmente veio à tona (18-01-24) a realidade que nos espera com o aperfeiçoamento da Inteligência Artificial. Tal como era previsível, alguém com défice ético, para não dizer sem carácter, usou a IA para conseguir destacar-se, ganhando um prémio literário.

Esta situação não surpreende porque, ainda antes da existência desta ferramenta, já eram muitos os autores que assinavam textos que nunca produziram.

Com a divulgação deste episódio – um de muitos – fica provado que as preocupações com a IA deviam ter sido dirigidas para a existência de utilizadores menos escrupulosos.

O problema não está na ferramenta, mas sim naqueles que a utilizam como forma de colmatar a incapacidade natural para criar.

Posto isto, torna-se evidente que a utilização da IA no universo literário é apenas uma forma moderna de plagiar.

Eu já andava a matutar no assunto e agora reforço a convicção de que os únicos livros dignos de serem lidos são os editados no tempo analógico. Certamente são mais genuínos, pessoais e escritos por quem os assinou.

EMANUEL LOMELINO

O Artista (excerto 2) - Daniele Barbosa Bezerra

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Nunca teve uma namorada, porque simplesmente as mulheres não o atraíam. A única vez em que se sentiu apaixonado ou não sabe ao certo o quê, foi por um rapaz do colégio que o rejeitou de todas as formas, além de falar para deus e o mundo que o artista era uma bichinha. O rapaz não queria a amizade daquele ser esquisito, feio, magro, de olhos fundos e densos perto dele. Sentindo-se mais rejeitado do que nunca, recalcou o sentimento e resolveu se apaixonar por si mesmo, através da sua criação.
O Salão mais conhecido de artes plásticas da cidade estava com a seleção aberta para artistas não conhecidos pelo grande público. Ele poderia concorrer com três trabalhos e concorreu. Durante semanas ficou trancafiado no seu quarto-ateliê e fizera muita coisa boa. Inscreveu no concurso três peças das mais lindas, intituladas: “Só 1- Família”, “Só 2 - Amor” e “Só 3 - Irmã”. A exposição durou dois meses e os três trabalhos foram premiados.

EM - OS DOZE CONTOS DE SOLIDÃO - DANIELE BARBOSA BEZERRA - IN-FINITA

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 229 - Emanuel Lomelino

Tela: Mestre e aluno - Claude Lefbvre

Diário do absurdo e aleatório 

229

Os bons livros são aqueles que exercem a função de mestres e, sem presunção nem culto de personalidade, dispõem-se a olhar-nos – meros aprendizes – como seus iguais, deixando-nos desfrutar a nossa independência intelectual.

Enquanto leitores, discípulos atentos dos discursos impressos, cabe-nos a tarefa de interpretar, per si, meditar e retirar as conclusões que acharmos mais assertivas, de acordo com o nosso entendimento.

A relação livro/leitor (mestre/aprendiz) é a que mais se aproxima da interacção perfeita. Um ensina, outro aprende. Um sugere, outro intui. Um revela, outro descobre.

Os bons livros não são arrogantes. Os bons leitores são modestos. Os bons livros partilham. Os bons leitores absorvem. Os bons livros não são herméticos. Os bons leitores desenvolvem pensamentos.

Como diz, repetidamente, um conhecido: “Quando o mestre é bom…”

EMANUEL LOMELINO

Por estradas e caminhos alternativos (excerto) - Clarissa Martins

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O melhor seria se tivéssemos essa consciência desde cedo, se estudássemos os nossos ciclos menstruais e processos de fertilidade ainda jovens para não levarmos sustos inesperados quando nossos corpos começam a falhar. Mais do que um processo natural, o climatério é uma das fases mais desafiantes das mulheres. Com a diminuição e consequente perda dos nossos dois maravilhosos e potentes hormônios femininos estradiol e progesterona, essa fase vem acompanhada de estigmas e mitos que enlouquecem as mulheres, tanto quanto os fatídicos sintomas da menopausa.

EM - CONVERSAS MADURAS - COLETÂNEA - IN-FINITA

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 228 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

228

Agostinho da Silva sempre demonstrou aversão ao epíteto “mestre”, preferindo identificar-se como eterno aprendiz, e queria ser poema em vez de poeta.

Estas duas ideias, tão simples e entendíveis, servem, como contraponto perfeito, para entender a falta de altruísmo que grassa na sociedade actual.

Hoje, em diferentes círculos de autores (que podem sê-lo ou não), é comum – para não dizer norma – a autodenominação de epítetos, sem que a embalagem corresponda ao produto.

Hoje, ao contrário do que acontecia no tempo do “poema” Agostinho, nascem “poetas” a rodos, a cada conversa, a cada sarau, a cada tertúlia, numa clara expressão de individualismo e idolatria exacerbados.

Mais curioso é que os actuais “mestres” – porque assim se consideram – são avessos ao ensino, apesar da alegada extrema sabedoria e conhecimento que possuem.

Perdemos o “poema altruísta”, proliferam os “poetas egocêntricos”.

EMANUEL LOMELINO

Silêncio ensurdecedor (excerto 3) - Luís Vasconcelos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Olho para o passado e vejo o que a minha vida foi sem ele. Recordo aquele sinistro e fatídico dia e tento imaginar o que teria sido a minha vida com ele presente… certamente melhor já que a sua conduta se pautava pela bondade, generosidade, solidariedade e integridade. Era um homem de caráter simples e humilde, contudo, de convicções profundas e sólidas, pugnando, intransigente, pela verdade. De uma inteligência brilhante e uma sensibilidade rara, uma inesgotável capacidade de amar, de se dar. A minha vida ficou mais só, mais triste, na altura sem o saber. Hoje vazio e perdido, sem rumo, sem chão, embora sem lágrimas, a sua ausência cada vez se torna mais presente, a minha raiva mais crescente.

EM - COMEÇAR DE NOVO - LUÍS VASCONCELOS - IN-FINITA

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 227 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

227

Ao longo dos anos tenho-me confrontado com muitos comportamentos que, analisados em detalhe, só prejudicam o universo da escrita. O exemplo mais flagrante é a criação de grupos elitistas – sendo que este elitismo literário varia entre grupos, mas impactua decisivamente nos percursos dos respectivos integrantes, para o bem e para o mal.

Para mim, a raiz deste problema é, mais do que uma questão de interpretação ou conceito de qualidade literária, uma demonstração clara de egocentrismo.

Ao contrário de épocas anteriores, em que os autores exerciam o seu ofício com conceitos filosóficos e criativos pré-definidos, de acordo com a corrente artística em que se reviam, hoje ninguém sequer reconhece esses movimentos e, apesar de criarem a mesma coisa, da mesma forma e com o mesmo objectivo, dividem-se em grupos distintos, mas com bases idênticas.

Por outro lado, e talvez o sintoma mais óbvio do egocentrismo apontado, hoje ninguém quer discutir conceitos e filosofias por necessidade em etiquetar as suas criações como expoente máximo da arte e, por essa razão, faz-se rodear por outros que, manifestando o mesmo desinteresse pelos movimentos artísticos, tampouco sabem identificar as diferenças (incoerências) existentes no seio do próprio grupo.

Haverá algo mais prejudicial para as artes do que a incapacidade dos criadores em explicarem as suas criações, para além de chavões pueris como: “expressão da alma”, “inspirado na vida”, “fruto de inquietações”?

EMANUEL LOMELINO

O escutador da quaresma (excerto 23) - Renata Quiroga

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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A locomoção na rua era, praticamente, impossível. A concentração de pessoas era tamanha que havia espaço somente para circular o ar. Sem saber qual caminho seguir: parar ou fugir, o Escutador se assustou com tanta gente junta, amontoada à espera de autorização para deixar o espaço público. Ele avaliou que poderia levar muito tempo até que toda aquela multidão conseguisse fazer a dispersão. Dessa forma, não quis arriscar o trabalho que tinha aceitado no Casarão do Espanto. O Escutador temeu não conseguir mais se soltar da multidão e foi aproveitando cada espacinho que se abria à sua frente para sair da rua de beleza invulgar.
O Escutador invadiu os vácuos espaciais e atencionais daquela aglomeração atônita com o balé um tanto surdo de umas Bolinhas pelo ar. Ele precisava apertar seu passo para sair do apertamento da multidão e chegar ao Casarão que ao certo sabia sua localização.

EM - O ESCUTADOR DA QUARESMA - RENATA QUIROGA - IN-FINITA

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 226 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

226

Por vezes fico a ponderar nesta minha apetência, cada vez maior, para procurar momentos de isolamento. Dizer-me apreciador da reflexão acaba por ser redutor porque também é possível pensar estando rodeado de gente.

Ficar entregue aos pensamentos é uma forma de autoconhecimento. Fazê-lo cercado por outros pode ser comunhão, quando há partilha de ideias.

O problema está na questão do grupo. É difícil partilhar os pensamentos mais elaborados quando do outro lado só existe interesse no banal, no frívolo, no insonso, e há grande resistência à evolução das conversas.

Neste contexto sou obrigado a confessar as saudades que tenho de algumas pessoas. Daquelas que, além de saberem transmitir conhecimento em assuntos diversos, tinham a capacidade de fazer evoluir os diálogos transformando as conversas em meros convívios apaixonantes.

Muitas dessas pessoas já não estão neste plano e, tal como eu, os que ainda por aqui andam também passaram a preferir a reflexão isolada.

EMANUEL LOMELINO

Escolhas (excerto 6) - Renata Campos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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A cura precisa acontecer dentro de nós; precisamos querer ser curados. As pessoas procuram médicos, gastam dinheiro com remédios, trocam de médicos e seguem tentando curar a forma física, mas não percebem que a cura precisa acontecer na alma em primeiro lugar. A cura emocional é essencial para que possamos enxergar de onde vêm nossos desconfortos. A doença física é um aviso de que estamos com a alma adoecida. De nada adianta trocar de médico e remédio se as atitudes não mudarem; você continuará adoecendo. Dores emocionais deveriam ser lições de aprendizados e não de tristeza, é como estudar a matéria para passar na prova. E como fazemos isso? Estudando, aprendendo, observando e fazendo nosso melhor todos os dias.

EM - SEGUNDA PRIMAVERA - RENATA CAMPOS - IN-FINITA

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 225 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

225

Dizem que estamos a viver na era da comunicação. Não posso, em rigor de consciência, concordar em absoluto porque só vejo verdade nessa afirmação se a colocar no contexto tecnológico. Em tudo o resto não tem aplicação e revela-se falsa.

Que era da comunicação é esta em que as pessoas vivem isoladas nos seus micromundos. No trabalho, nos cafés e restaurantes, nos bancos de jardim, nos prédios, até nas próprias casas, é cada um para seu lado com os olhos pregados nas redes sociais e sem contacto algum com a realidade da vida.

Tal como identifica José Flórido, num texto sobre Agostinho da Silva, esta falta de comunicação é a origem dos graves problemas psicológicos dos nossos tempos e urge concentrar esforços – de forma colectiva – para fazer ressurgir hábitos de vida conversável – colocar as pessoas a falarem com pessoas, cara a cara, olhos nos olhos.

Mas para combater a incomunicabilidade temos de nos desfazer dos “saberes parciais” e das "referências comuns” sob pena de reduzirmos o conhecimento ao banal (futebol, condições climatéricas e vida privada das figuras públicas). A vida conversável é bem mais ampla e saudável, para além de ajudar no entendimento dos outros e de nós próprios.

EMANUEL LOMELINO

O Artista (excerto 1) - Daniele Barbosa Bezerra

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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A família nunca tivera dinheiro para mandá-lo de férias seja lá para onde fosse, mas ele não se esquentava muito com isso, sua mãe e seu pai é que se sentiam culpados por não poderem dar oportunidade ao seu filho de conhecer outros locais, mas ele fazia de suas férias o que mais gostava.
Não era um adolescente com muitos amigos, mas era um jovem de muitas ideias trancado em seu quarto. Quando não estava no colégio -o que era o seu martírio- pois as pessoas o achavam muito esquisito; estava nas ruas catando objetos ensacados e desprezados pelas pessoas nos lixos improvisados da cidade sem educação. Uma tampinha de refrigerante era o suficiente para reacender os seus olhos de alegria, pois a partir dela conseguia vislumbrar mil e uma ideias e assim passava horas e horas perdidas entre materiais recicláveis, a buscar um arsenal de matéria prima para a produção de suas obras.

EM - OS DOZE CONTOS DE SOLIDÃO - DANIELE BARBOSA BEZERRA - IN-FINITA

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 224 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

224

Na escola, aprendemos que a grande diferença entre os humanos e os outros animais é a faculdade de raciocinar. Na vida confirmamos que nos distinguimos por, ao contrário dos restantes animais, sermos mestres da complexidade. Não nos deixámos ficar pelo simples. Ousámos mais.

A verdade é que toda a fauna do mundo continua a funcionar tal qual faziam, os da sua espécie, na antiguidade mais distante, exceptuando nós.

As aves, os peixes, os herbívoros, etc... continuam a migrar de acordo com as estações. Outros reproduzem-se em condições específicas e até protelam os nascimentos para ocasiões mais favoráveis. Há muito que os humanos agem contranatura.

Mas entre todos os exemplos que podemos usar para fazer distinção, entre uns e outros, há um que sobressai: os animais matam por questão de sobrevivência, os humanos fazem-no por ambição.

EMANUEL LOMELINO

Sol Interior (excerto) - Cátia Sousa

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... um mistério de Vida, em que valerá confiar, sempre!
... talvez o principal desafio de quem escolhe viver e honrar quem é!
O Mundo precisa que ocupemos esse lugar que é nosso, que ninguém ocupará exatamente como nós... que permanecerá vazio se não o ocuparmos...
Afinal, Sol Interior é esta Humanidade que palpita no coração de todos e de cada um, desejosa da nutrição certa...
... é esta criança que vive em nós, que “escondemos” ou a quem permitimos saltitar...
... é esta velhinha sábia e de luz, que nos ampara e dá colo, que nos “espera lá à frente” ...
... é a Luz que levamos “cá dentro” e trazemos “cá para fora”, sempre que nos permitimos o Abraço, assim, tal como somos!
Sol Interior...
... assim aconteceu naquela manhã... juntas e em roda... em Verdade!

EM - CONVERSAS MADURAS - COLETÂNEA - IN-FINITA

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Diário do absurdo e aleatório 223 - Emanuel Lomelino

Imagem cope

Diário do absurdo e aleatório 

223

A plateia levantou-se, em uníssono, para ovacionar Severina, com a mesma intensidade emocional que a cantora emprestou à sua actuação.

Apesar de sentir no peito todo o esforço despendido durante as duas horas de espectáculo, Severina não precisou forçar um sorriso perfeito e repleto de humildade genuína, na hora de demonstrar agrado pela devoção do público.

Ela vivia para aqueles momentos de louvor. Os únicos que lhe transmitiam paz e davam motivos para não desistir. Durante o tempo que estava na sala de espectáculos, o mundo parava, a vida suspendia-se e Severina conseguia usufruir de algo que era mais do que um sonho. Era uma pausa no pesadelo diário que vivia fora dos palcos.

Entregar-se de alma e coração à sua arte, ver as lágrimas de comoção em alguns rostos e, entre gritos de reverência e admiração, escutar soluços pungentes e emocionados, por muito incoerente que pudesse soar, eram os estímulos que necessitava para esquecer momentaneamente todas as agruras que a vida lhe proporcionava diariamente, após perder a criança e descobrir que não poderia voltar a engravidar, e que o generoso público ignorava completamente.

EMANUEL LOMELINO

Silêncio ensurdecedor (excerto 2) - Luís Vasconcelos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Será que um dia nos voltaria a ter e a ver? Não sabia. Não tinha como saber. Resumia-se tudo a uma ténue esperança, baseada sabe-se lá no quê! Pouco, muito pouco, para quem não queria partir, lutando desesperadamente para viver. À sua frente apenas uma ida sem volta, uma estrada sem regresso, uma noite imensa sem fim. Uma mortalha, um exíguo e asfixiante caixão, uma cova funda escavada na terra lamacenta, o mármore duma sepultura tão solitária e gélida. Ele que em vida sempre se levantara contra qualquer injustiça estava agora, ironicamente, a ser, sem piedade, castigado e flagelado por ela. Ele que sempre vivera duma forma altruísta, acima de tudo, pensando no bem do seu semelhante, assim estava a morrer também. Não se focava em si. A sua preocupação era o futuro daqueles que mais amava. Que iria ser deles, agora que já cá não estaria para cuidar, para os proteger? Tanto suplicou para que os amparassem! Para quê? Ingénua expetativa… Credulidade vã!

EM - COMEÇAR DE NOVO - LUÍS VASCONCELOS - IN-FINITA