Agradecemos à autora RENATA MAURÍCIO pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua
percepção para essa pandemia mundial?
Em consideração à pandemia do novo coronavírus -
COVID-19 e aos grandes impactos na saúde, em todos os níveis, percebo que
estamos diante de questões complexas, uma vez que situações de isolamento
social envolvem alterações repentinas no comportamento, nas percepções, no modo
de relacionarmos conosco mesmos e com os outros à nossa volta. Novos
hábitos, novos valores e novos modelos de trabalho nos mostram que precisamos
nos preocupar mais conosco e com os outros, valorizar momentos especiais,
cuidar sempre de nossa saúde e higiene... Tudo isso nos convida a um mergulho
dentro de nós para repensar a sobrevivência não mais como indivíduos, mas como
seres humanos em constante evolução.
2 - Enquanto autora,
esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena,
está menos ou mais inspirada?
Decorridos quase noventa dias de
quarentena, concluo que foram várias as fases durante esse período. Muitas
vezes, o cenário trouxe incertezas e muita angústia, sentimentos que, de
alguma forma, paralisaram o processo produtivo. Por outro lado, esses
mesmos sentimentos, ao serem acolhidos e ressignificados, passaram a nos
motivar a aprender algo diferente, a corrigir rumos, mudar prioridades, o que
acaba estimulando a criatividade e potencializando nossos trabalhos.
3 - Quando isso
passar, qual a lição que ficou?
Quando tudo
isso passar, nada mais será como antes. É preciso olhar para dentro, reconectar
com quem somos e com o que almejamos... É preciso ter empatia, pois somos todos
um.
4 - Os movimentos de
integração da mulher influenciam no seu cotidiano?
Muito. Eu me vejo como um espectro
de todo esse movimento, que tem possibilitado a inserção e participação
feminina em espaços variados, da família aos movimentos
sociais, campos de trabalho e outros. É cada vez maior o contingente
de mulheres que lidam, com maestria e competência, com as lutas e desafios da
vida pública e da vida privada, sem que uma influencie negativamente a outra.
Vibro com cada vitória conquistada!
5 - Como você faz para
divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?
As ferramentas contemporâneas
envolvendo as tecnologias de comunicação e informação disponíveis são bastante
eficazes, pela sua abrangência, para a divulgação de conteúdos e interação
entre as pessoas, sobretudo em tempos de isolamento e distanciamento físico. Há
algum retorno do público em relação às publicações, principalmente de pessoas
mais próximas. Com isso, percebo que é preciso investir mais nessa propagação.
6 - Quais os pontos
positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?
Percebo que há, na
contemporaneidade, um progresso relevante acontecendo: a produção intelectual
feminina tem conquistado mais espaço, juntamente com o avanço dos estudos
acadêmicos e críticos envolvendo esse universo. Mas, ainda há muito a ser
feito, no sentido de movimentar a produção intelectual e criativa de mulheres
que precisam ser lidas, saírem do anonimato e desengavetar rascunhos e projetos
de escrita.
7 - O que pretende
alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
Desejo que minhas produções alcancem
as pessoas e toquem seus corações, e que sirvam de incentivo a escritas e
leituras múltiplas que reverberem arte e poesia. Inicialmente, minha escrita
tem se expandido por meio de publicações esparsas via redes sociais, mas,
futuramente, gostaria de contar com o apoio de algum editor que acolha meu
projeto de publicar o que eu chamaria de “faíscas poéticas”.
8 - Quais os temas que
gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em
Portugal?
Seria muito bom discutir os temas do
protagonismo feminino, das igualdades entre gêneros, do empoderamento da mulher
e, sobretudo, de suas reconstruções no cenário contemporâneo.
9 - Sugira uma autora
e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.
Sugiro uma poeta brasileira ímpar
chamada Laís Corrêa de Araújo (1928-2006), cuja produção poética foi estudada
por mim durante o curso de doutoramento. Sua coletânea “Inventário”, publicada
em 2002, é composta por sete livros escritos ao longo de mais de
cinquenta anos, e contempla questões as mais diversas, especialmente aquelas
ligadas ao universo feminino, por meio de uma visão muito crítica, corrosiva,
concisa e, ao mesmo tempo, muito lírica. Infelizmente,
sua obra ainda permanece pouco conhecida pela crítica e pelo público, e ainda
carece de outros estudos mais aprofundados.
10 - Qual a pergunta
que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
“Como você vislumbra a poesia no
cenário contemporâneo?”. Em resposta, diria que a poesia é antídoto para o
sufoco diário. Em sentido amplo, a literatura, como arte da palavra escrita, é
enfrentamento, que impulsiona o tempo presente e a vida presente, no sentido do
que expressou o poeta Carlos Drummond de Andrade em “Mãos Dadas”, parte do
livro “Sentimento do Mundo”. Sigamos, pois, de mãos dadas.