Conheçam a IN-FINITA neste link Cidinha
adorava chapéus. Admirava todos que via, apreciava quem usava e sonhava ter um.
Realizar seu desejo era difícil, pois dependia da mãe, uma faxineira que usava o
salário pra o sustento da família e pra as despesas da casa.
Antes de concluir o Ensino Médio,
Cidinha arranjou um emprego de meio período numa farmácia; quando recebeu o
primeiro pagamento, comprou um chapéu floppy, ele era rosa, branco e preto.
No
outro dia, foi trabalhar de chapéu. Lépida, fagueira, sentindo-se linda, lá foi
ela. Ao sair de casa, a vizinha perguntou admirada se ela ia trabalhar de
chapéu. A menina respondeu que sim. Quando entrou na farmácia:
─ Por
que tá com esse chapéu na cabeça?
Cidinha
pensou: “Nem respondeu meu boa tarde”.
Ao
passar pelo caixa, ouviu um comentário irônico:
─ De
chapéu?! Esquisito! Nem lhe reconheci...
No dia
seguinte, foi à escola com o adereço. Os questionamentos se iniciaram: “Por que você tá de chapéu? Vai à praia?” “
Não tá sol!” “Não tá chovendo!” A
alguns, Cidinha respondia: “Eu gosto”.
A outros, fazia de conta que não os escutava: “Ela tem vergonha do cabelo.” “Será que essa jovem é de esquerda ou de
direita?
Aqueles
maldosos, faziam interpretações: “Essa
menina tem alguma ferida na cabeça.” “Ela tem problema na pele” “Coitada, tá
fazendo químio, o cabelo tá caindo!”
Já em
casa, todos respeitavam seu estilo. Num domingo, foram à igreja, a garota de
chapéu foi sem chapéu: “Que milagre!” “Era
só o que faltava, assistir à pregação usando chapéu!” “Seria um absurdo!”
Certo
dia, Cidinha amanheceu doente, não foi à escola nem trabalhar por dois dias.
Outra vez, seu irmão, se envolveu numa briga, levou uma facada, ficou internado.
Cidinha ficou três dias sem ir à escola, sem trabalhar. Veio a pandemia de
2019, sua mãe teve COVID, a família foi orientada a ficar confinada em casa por
quinze dias.
Ao voltar
aos afazeres após esses eventos, as pessoas continuavam a comentar sobre o
chapéu. Então, entendeu que usar chapéu incomodava. Por que tanta inquietação
acerca da aparência de alguém?
Assim,
a jovem concluiu que as pessoas não se importavam com seus sentimentos. Queriam
apenas criticar seu estilo. Será que um acessório altera a personalidade, muda
o caráter de alguém?
A
garota, então, resolveu que utilizaria chapéu onde e quando quisesse. Quis e
usou um maravilhoso quando a mãe recebeu o certificado do Curso de Gastronomia,
um grande quando um irmão se casou, um colorido quando o outro irmão concluiu o
Ensino Médio.
Cidinha
desfilou com um deslumbrante chapéu na sua formatura em Administração pela UFRJ;
colocou um lindo na festa de inauguração do seu primeiro estabelecimento
comercial que viria, mais tarde, se tornar uma rede de lojas, que vendia... chapéus,
é claro!
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