sexta-feira, 23 de abril de 2021

A Valsa, o Samba e o Sapateado - MARLI AGUIAR

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
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Sr. João, aquele homem pequeno, magro, tão miúdo que dá medo, pois se der um vento forte a impressão é que poderia levá-lo. Este poderia ser meu pai, meu avô, meu tio, pela idade que aparenta ter, que não menos que 70 anos. E também pela ternura e carinho com que olha o mundo. Parece fraco, aparências, Sr. João, trabalha e trabalha. Poderia estar curtindo a vida, os netos, mas trabalha, trabalha e trabalha. Sr. João é negro, é pobre, é periférico, é catador de materiais recicláveis, mas gosta de uma cachaça, gosta de samba, ainda dança, e dança, menos do que trabalha. Olhando bem para ele, vem a imagem de sua juventude, a vida de artista e boêmio que deveria ter nas noites paulistana. Com a força de suas mãos, negras, finas, arranca sons de tambores, de latas e tampas velhas, chocalho de garrafas de pet. Ela canta Adoniram Barbosa “despejo na Favela”, seu olhar ilumina o barracão e o mundo, parece carregar o mar neles, e para disfarçar, limpa as desesperanças. Canta a música como se já vivera, em algum momento em uma história do passado, e no momento presente permanece a poesia, que intensifica o ardor nos olhos, potencializando as lagrimas que já não cai mais. Pois, Sr. João, já não chora, pois acredita na sua força, na força das mulheres que o rodeia e uma delas em especial, que observando suas mãos protegidas, e movimentos rápidos na separação de cada objeto na esteira produzidos pela civilização humana.

Ele com seu corpo “velho”, magro, equilibrando nas pernas cansadas que carregam o tronco. De um lado a outro ele arrasta sacos, caixas, papelões, faz lembrar Carolina Maria de Jesus, sua força e sua coragem de mulher negra e catadora de recicláveis. Ele coloca toda sua força, aquela que ainda lhe resta após as várias horas de trabalho, e sabe que tem que continuar, e mantê-la para subir um pacote imenso com outras mãos companheiras no veículo. Todo material coletado, separado, triado, enfardado ao longo da semana pelas mãos de cada um e cada uma. Sr. João com seu corpo fino-negro, cansado, rodopia, rodopia como dança de salão. É uma valsa infinita e cada minuto suas parceiras de dança são trocadas, ora são as Pets, ora as aparas de papel. E quando Sr. João não está dançando valsa pelo salão, ele está com os óculos grandes e transparentes no rosto negro azulado e um pedaço de pau com um peso na ponta, como uma mão de pilão, e começa a sambar e a sapatear dentro de uma caçamba esverdeada de vidros preparando a próxima carga. Sr, João, às vezes, cansa, senta um pouco para aliviar as pernas magras e cansadas, depois de alguns minutos, lava o rosto, observa o sapato de proteção para retificar se está ok, e volta novamente a valsar, o sambar e o sapatear até o findar do dia em seu galpão de zinco e madeira.

EM - ELAS E AS LETRAS (INSUBMISSÃO ANCESTRAL) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 22 de abril de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... IDYANE FRANÇA

Agradecemos à autora IDYANE FRANÇA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Poesia, prosa ou conto, porquê?

Literatura! Sou apaixonada pela escrita de uma forma geral. Mas sou arrebatada pela poesia desde o primeiro contato. E a poesia tem sido uma das formas que encontro de me expressar no mundo.

2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?

Acredito que houve uma nova conexão. Pois o atual cenário em que estamos inseridos me levou para um processo mais autópsico da minha escrita. Com isso houve uma necessidade maior de colocá-las ao mundo, uma vez que, os corpos estão em clausura.

3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos em tempos tão restritos?

Acreditar no poder revolucionário da arte, da literatura, da escrita. Acreditar que escrever é uma forma de afeto. E o que mais precisamos nesse estado pandêmico é o afeto, a atenção, o afago.

4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita?

Por muito tempo acreditei que minhas escritas não fossem boas o bastante. Não era capaz nem de sussurrar sobre elas. Veja, uma menina preta, de periferia, escrever poesia é muita audácia, pensava eu. E agora muito recente venho lutando contra esse pensamento. Estou libertando minhas escritas, que há muito foram abafadas.

5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?

Acredito que é uma forma de continuidade, e que bom que elas estão acontecendo, pois seria tudo mais triste se as não tivéssemos. E também foi uma forma de se conectar com mais pessoas de vários lugares do mundo, que talvez pessoalmente não fosse possível.

6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?

Não acredito que possa substituir o presencial, mas que continuará sendo um formato possível e opcional sempre. E espero que possamos voltar o quanto antes ao contato físico.

7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?

A insegurança, o medo e a descrença na minha própria escrita

8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou.

Quarto de despejo de Carolina Maria de Jesus.

9 - Quem é Idyane França no reflexo do espelho?

Uma sonhadora! Uma sonhadora que vem na contramão do mundo.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

“Vamos revolucionar o mundo?”
E com o sorriso nos lábios responderia: Tenho feito revolução desde que nasci e sobrevivi.

Idyane França

Artista, poeta, jornalista, ativista do movimento negro e antifacista e da mídia livre. Ganhadora do XXII Prêmio Estadual de Direitos Humanos Emmanuel Bezerra dos Santos, pela Câmara Municipal de Natal/RN, juntamente com a Mídia Ninja.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Ela nascia e eu renascia (excerto) - DANIELA MENDES

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
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Tudo começou aos 36 anos com a minha primeira gestação. Em
meio ao silêncio daquela notícia ensurdecedora de que a gestação
não tinha evoluído, ouvi o grito de um desejo até então desconhecido:
eu queria ser mãe!
Precisei de tempo para entender. Eu já era mãe. Pouco importava
se estava com o bebê nos braços, ou se ele havia apenas passado
pelo meu ventre, a transformação já havia começado. Essa
criança cumpriu sua missão. Vivenciei o luto, me recolhi, busquei
respostas, me acolhi e me despedi dela, agradecendo por ter me
ensinado tanto em tão pouco tempo.
Celebrei meus trinta e sete anos com um misto de sentimentos:
a alegria da boa nova e o pavor de uma nova perda. Outro
aprendizado, essa tal maternidade é cheia de ambiguidades. E
assim, de mãos dadas com a alegria e com o medo vivenciei a
gestação.
Minha filha nasceu junina, numa noite chuvosa e fria. Quando
a vi, lembro de ter sentido como se o meu coração tivesse parado
por alguns instantes e do tremor que tomou conta do meu
corpo inteiro. Ela nascia, e eu renascia.
Começamos a escrever uma nova história, saímos da maternidade
não só com os braços preenchidos, mas com o coração
transbordando. Recordo-me que quando entramos em casa, nossas
paredes pareciam ter ganhado novas cores, estavam mais intensas,
vibrantes, como a gente! Novamente senti medo, medo
de não dar conta, medo de não bastar para ela. Aos poucos, fui
reconhecendo os dias cinzas que fazem parte de todo maternar.
Fundamental foi dar espaço para a cura.
Os meses foram passando e com eles, pequenas realizações e
grandes frustrações, frutos de uma expectativa inatingível que
criei. Por diversas vezes, me senti cansada, exausta, esgotada física
e mentalmente, logo deixei de lado minha meta de querer dar
conta de tudo.

EM - MÃES - COLECTÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 20 de abril de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... MARIA JOSÉ ESTEVES

Agradecemos à autora MARIA JOSÉ ESTEVES pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Poesia, prosa ou conto, porquê?

Gosto de escrever em qualquer dos tipos de texto.
A poesia é a que me sai naturalmente, embora a prosa livre também seja uma forma que me é natural. Recentemente tenho explorado a escrita de contos, tendo participado na coletânea "O Tempo das Palavras com Tempo", publicada em e-book.
Como participei com poesia na Toca a Escrever 2021, optei por participar com um texto em prosa sobre Lisboa. A cidade para onde olho todos os dias, na outra margem do Tejo, o qual é muitas vezes a minha fonte de inspiração.

2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?

A pandemia não alterou muito a minha vida, porque há 6 anos que um cancro me obrigou a viver confinada. Estar em casa passou a ser a minha rotina. A pandemia trouxe-me a oportunidade de participar em grupos de aprendizagem e de partilha e ajudou-me a criar novas rotinas de escrita.

3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos em tempos tão restritos?

Fazer parte do "Clube dos Writers" e dos "Encontros Literários O Prazer da Escrita" ajuda-me a encontrar estímulos e estabelecer compromissos para produzir.

4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.

Durante a minha vida profissional escrevi principalmente temas técnicos em publicações científicas ou oficiais.  Isso fez com que desenvolvesse uma escrita formatada com uma linguagem muito formal. O ano de 2020 foi um tempo de aprendizagem de técnicas de escrita criativa e de me assumir como autora, participando em diversas publicações.

5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?

Foi o melhor que a pandemia nos trouxe. Por um lado, permitiu mostrar projetos, desenvolver um novo modelo de apresentação e, também, rentabilizar atividades.  Por outro, proporcionou momentos de aprendizagem, de desenvolvimento pessoal e de construção de comunidades de interajuda e motivação.

6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?

Veio ocupar um espaço necessário, mas penso que não eliminará por completo os encontros presenciais.
Os dois modelos poderão servir em simultâneos públicos distintos. Permitirá a aproximação geográfica e cultural alargando o que era restrito, a grandes públicos.

7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?

Teria iniciado a escrita literária há mais tempo. Nunca acreditei que seria capaz de mostrar os meus textos e os meus poemas.

8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou.

Nos últimos tempos tenho lido muito, desde os autores clássicos aos escritores mais recentes, numa revisitação pela literatura. Mas passei por uma fase em que li muitos livros de autoconhecimento que me ajudaram a aceitar a vulnerabilidade e a encontrar um caminho. Houve dois desses livros que mudaram a minha perspetiva perante a vida:
- UM NOVO MUNDO, Despertar para a Essência da Vida, de Eckhart Tolle
NASCER DE NOVO, de Anita Moorjani 

9 - Quem é Maria José Esteves no reflexo do espelho?

É uma Mulher que se construiu com esforço, determinação e resiliência.
De uma criança tímida e que se considerava um “patinho feio” foi conquistando o seu espaço com empenho e confiança nas suas capacidades.
Quando se olha ao espelho vê uma mulher que continua a acreditar na vida e na realização dos seus sonhos.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Porque escreve?
Porque me sai da alma. É uma necessidade passar para uma folha branca de um caderno sem linhas o que sinto, o que penso, o que vejo… é ser livre.

Maria José Esteves

Nasceu no Cartaxo, em 1956, mas mudou-se ainda criança para Santarém. Com o olhar no rio Tejo e a alma nas ondas do oceano, vive no concelho de Almada, desde 1981. Licenciada e Mestre em Sociologia, foi aposentada após um cancro lhe ter interrompido o percurso profissional. As dores do corpo e da alma fizeram renascer a paixão pela escrita criativa, a poesia e a fotografia. Começou a participar em cursos online, concursos e coletâneas, nomeadamente a coletânea de contos “O Tempo das Palavras com Tempo”, e-book editado na Escrytos (www.leya.com) e Toca a Escrever 2021, In-Finita. Participa nos Encontros Literários O Prazer da Escrita. É no seu blogue e nas redes sociais que mostra as suas criações.  www.olharesememorias.wordpress.com

 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... ROSÁRIO PEREIRA

Agradecemos à autora ROSÁRIO PEREIRA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Poesia, prosa ou conto, por quê?

Poesia, porque é a forma mais direta e mais livre para libertar as emoções da alma.
Outras vezes, contos, para dar vida à imaginação.

2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?


Passei a escrever mais e a abordar os temas da atualidade para escrever.

3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos em tempos tão restritos?


Tenho publicado mais poemas nas redes sociais e inclusive fiz o lançamento online do meu segundo livro de poesia.

4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.


Pontos positivos: ter a oportunidade de conhecer outros autores e estar em contato direto com eles; publicar os meus poemas em antologias com outros autores.
Pontos negativos: não ter publicado mais cedo o meu primeiro livro.

5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?

Para o momento em que nos encontramos, acho que é uma forma de dar continuidade aos nossos trabalhos e/ou mostrar projetos novos mantendo o contato com os nossos leitores. De todas formas, espero que não seja para ficar, pois prefiro, de longe, os convívios de forma presencial, são muito mais enriquecedores e a interação é maior e de mais qualidade.

6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?

Espero que seja só nesta fase e que não venha ocupar nem se sobrepor aos encontros literários que são tão benéficos para escritores e leitores. O contacto direto com os nossos leitores faz-nos falta e vice versa.

7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?

Teria publicado o meu livro “Sentimentos” mais cedo.

8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou.

De certa forma todos os livros me inspiram. Gosto de ler romances para alimentar a minha inspiração e gosto muito de ler os poetas contemporâneos.

9 - Quem é Rosário Pereira no reflexo do espelho?

Uma “bandida” que procura conforto na poesia.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

E se a poesia morresse? 
Morreriam todos os sentimentos dentro de mim.

Rosário Pereira 

Nasceu em Valença. Em Junho de 2015, publicou “Sentimentos” e em Junho de 2020 “Poeta Bandida”. Participou em 36 coletâneas e um dos seus poemas está afixado no “Muro dxs poetas, Festival Internacional Kerouac, na Rua Londres em Vigo (Espanha). 

 

sábado, 17 de abril de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... ANA LIA ALMEIDA

Agradecemos à autora ANA LIA ALMEIDA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Poesia, prosa ou conto, por quê?

Escrevo somente prosa por não ter sido escolhida pela poesia. As palavras são voluntariosas: escolhem as mãos das pessoas que vão escrevê-las, na forma exata que elas querem.

2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?

Eu tenho me afirmado como escritora há pouco tempo, embora escreva desde criança. A pandemia me motivou a definir melhor o lugar da escrita em minha vida, como parte desse processo de autoconhecimento que tem se colocado para muitas pessoas em meio a todo esse momento dramático. Isso trouxe mais disciplina para garantir momentos voltados à escrita e à leitura todos os dias, para que as demandas do trabalho remoto e a rotina doméstica não sufocassem todo o meu tempo. Essa disciplina está garantindo a minha participação em projetos como esta Coletânea, para a qual escrevi o conto “O enterro do baiacu”.

3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos em tempos tão restritos?

Tenho sido teimosa. Passei a escrever todos os dias de manhã logo cedo, antes de todos acordarem na casa, e a ler nos momentos de intervalo e repouso. Também organizei em uma planilha todos os meus projetos, para não perder prazos e manter um registro da produção. Vejo isso como uma grande teimosia, porque as condições atuais são muitíssimo precárias para garantir esse tempo literário. Sou professora universitária e a docência é um trabalho apaixonante, mas que não deixa muito espaço para outras coisas, ainda mais nessa confusão do ensino remoto. Sou mãe de uma criança, também, o que tornou-se muito mais complexo com o isolamento social. Por isso não idealizo a pandemia simplesmente como um período de grande potencial criativo. Se não houver muita teimosia, organização e condições mínimas (garantia de renda e divisão de tarefas domésticas, por exemplo), não há espaço para escrever.

4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.

Eu me arrependo muito de não ter me dedicado com mais vigor à literatura mais cedo, já que desde criança eu apresentava inequívoca inclinação para isso. Sempre escrevi, mas nunca até então, já com 37 anos, havia conseguido me dedicar a isto com maior afinco. Diários, contos, bilhetes, rascunhos, blogs, me acompanham desde que aprendi a escrever, mas a dedicação ao trabalho e também certas trajetórias de gênero dificultaram o meu desenvolvimento como escritora. Sempre contou a meu favor, no entanto, o incentivo intelectual familiar (muitos livros em casa, uma mãe leitora, um pai escritor) e a minha facilidade de inventar estórias.

5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?

Para mim é difícil se adaptar. Tenho dificuldade de acompanhar eventos virtuais, talvez pela superexposição à tela em função do trabalho remoto. Eu tenho a sensação de que é muita gente produzindo conteúdo para poucas pessoas dispostas a interagir com qualidade. É uma maravilha, de fato, criar interações sem depender das fronteiras territoriais, mas sou reticente com o real alcance e qualidade dessas interações. 

6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?

Creio que sim, trata-se de um espaço permanente, mas jamais substituirá os encontros presenciais pós-pandemia. Provavelmente os encontros passarão a ser mistos, e, dessa forma, serão mais inclusivos, pois quem não puder se deslocar poderá participar on line. No entanto, a prioridade continuará sendo a das interações presenciais, incomparavelmente mais ricas de afeto e de qualidade. 

7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?

Teria me dedicado mais cedo à disciplina da escrita.

8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou.

“Cacos para um vitral” (1980), romance de Adélia Prado.

9 - Quem é Ana Lia Almeida no reflexo do espelho?

Uma mulher que participa das lutas de seu tempo e tem muito gosto de viver.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

A quais projetos principais está se dedicando agora?

Vou lançar em breve o meu primeiro livro, “Curtinhas da Quarentena” (Ed. Venas Abiertas), um conjunto de pequenas crônicas, às vezes contos, que tematizam o cotidiano da pandemia e do isolamento social. Também estou trabalhando noutro livro, ainda para este ano, voltado às experiências e emoções conflituosas da maternidade.

Ana Lia Almeida 

37 anos, é brasileira, professora universitária e ativista em defesa dos direitos humanos. Autora das mini-crônicas “Curtinhas da Quarentena”, tem publicado até então seus escritos em blog pessoal (www.saltodepalavras.blogsot.com).