quinta-feira, 30 de abril de 2020

Em tempos de quarentena - CRISTINA AMARO CASADINHO


Sem milagres 

Parece perdido 
o vento do sonho que soprava 
renovando de inteira felicidade
as respirantes partículas  do ar.

Parece perdido o fogo das folhas
as palavras mais doces,
as mais verdes.

E os rios de frescura sangram hoje
no leito do teu coração. 
Hoje descobres em silêncio 
o mapa  de um mundo estranho. 
Estradas sombrias
de poeiras irrespiráveis.

Descobres um mistério  complexo,
incapacitante,
para que os caminhos 
não  te mostrem nada.

Descobres o vazio
de um inteiro universo, 
de um tempo que enfrentas
Sem memória  e sem milagres. 

Cristina Amaro Casadinho

Todos os textos publicados na rubrica EM TEMPOS DE QUARENTENA são da responsabilidade exclusiva dos autores e os direitos respectivos apenas a eles pertencem.


DEZ PERGUNTAS A... MANOEL BARBOSA


Agradecemos ao autor MANOEL BARBOSA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 – O livro SANGUE E BLUES foi lançado em 2018. Conte-nos um pouco sobre o livro e todo o processo até a sua produção.

O livro “SANGUE E BLUES” é resultado de uma seleção de textos escritos ao longo de alguns anos. Alguns desses textos foram escritos com o foco não em publicação de livro impresso, mas a interpretação em um espetáculo teatral performático que produzi para minha atuação solo. Outros textos ao contrário eram para publicação em livro. Juntando esses textos para formar o repertório, pesquisei algumas editoras quanto à condição para publicação através delas, então decidi que faria uma publicação independente. Eu, autor editor e as parcerias de afinidade para as devidas etapas da produção que resultou nessa obra que já está circulado desde 25 de julho de 2018.

2 – Os poemas apresentados é um resgate de sentimentos e percepções pessoais ou mera criação do autor?

É um mesclado de ambas as situações, pois alguns poemas foram escritos a partir de minha constante observação dos fragmentos da vida cotidiana em diversos seguimentos da sociedade, outros como forma de expressar algumas de minhas ideias e sentimentos pessoais. Quanto ao imaginário, ah, esse está sempre latente e com ele muitas das composições contribuirão para formar o repertório do livro.

3 – Quem é Manoel Barbosa?

Ator, escritor, poeta, dramaturgo e também diretor e produtor teatral. Brasileiro de Minas Gerais, residente em Belo Horizonte desde a infância, nascido em 06 de outubro de 1964 - Central de Santa Helena.

4 – Esteve em Lisboa para divulgar o livro, conte-nos um pouco sobre essa trajetória...

Muito favorável! Foi a “temporada Europa 2019” segundo semestre na qual consegui o aproveitamento de diversos eventos e boas parcerias. Cito alguns iniciando pelos promovidos pela “IN-FINITA” em parceria com “Zénite Bar Galeria”, sendo encontros semanais para “Leitura de A a Zénite” e os saraus aos domingos no Palácio Baldaya, ambos possibilitando um excelente intercâmbio entre os autores de todos os gêneros literários e uma valiosa oportunidade de contato com os apreciadores. Também o “Festival de poesia de Lisboa” com diversas atividades incluindo sarau e lançamentos de livros, “Tertúlia Poética América Miranda” realizada no Palácio Baldaya e coordenação do poeta Frassino Machado. Para encerramento da temporada tive a apresentação do recital poético “Manoel Barbosa - poesia e fragmentos performáticos” no Zénite Bar Galeria.

5 – Quais as diferenças mais significativas que encontrou na divulgação do livro no Brasil e em Portugal?

Foram quanto aos saraus. Já apresentei minhas interpretações poéticas em saraus de diversas cidades do Brasil e quase todos são realizados uma vez ao mês e mesmo em Belo Horizonte, cidade na qual resido, por várias vezes em função do meu trabalho de ator e produtor teatral eu não consigo disponibilizar-me nas devidas datas e isso implica em não realizar nessas fontes uma divulgação presencial dos livros já publicados. Se fossem realizados mais vezes ao mês, possibilitaria em alguma das datas estar presente e também prestigiar outros autores.
Em Portugal essa situação foi diferente com relação aos saraus e outros eventos, pois além da continuidade e por serem realizados semanalmente, ainda que não me fosse possível comparecer numa semana, mas em outra sim. Isso favorece à divulgação, intercâmbio com outros autores e o público apreciador de literatura.

6 – O que espera do mercado e o que acha que seja importante para um autor e o seu livro?

Espero que continue tendo os autores e produtores comprometidos com esse grandioso propósito de manter vivo o movimento literário de todos os gêneros.
Acho importante a assessoria literária prestada por uma empresa como a “IN-FINITA” que se compromete com a divulgação de um autor e o seu livro principalmente em Portugal, mesmo sem a presença do autor. Também, todos nós, autores e produtores atentos para desenvolver ações que cativam e aproximam o público apreciador de literatura aos autores e aos livros e assim ampliando as possibilidades de circulação e venda.

7 – Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita nos dias atuais?

Como pontos positivos eu vejo as oportunidades. Toda essa diversidade de possibilidades para publicação, tais como; as coletâneas impressas, redes sociais, os grupos na web que sempre acolhem tantas publicações. Tendo em vista que produzir um livro solo, impresso ou digital tem custo bastante significativo principalmente para o autor em início de carreira, quase sempre sem experiencia, sem algumas informações primordiais, tomado pelo entusiasmo fica vulnerável a investir e não obter um produto com resultado satisfatório, até mesmo frustrante. Vejo as formas alternativas de publicação como tempo de oportunidade para amadurecimento da escrita, consciência quanto ao propósito e realidade de mercado.
Como pontos negativos ainda insisto nas questões quanto aos custos para publicação de livros como autor independente e sem patrocínio, custos que também são inevitáveis para manter uma boa divulgação que resulte em circulação e venda do produto.

8 – Em tempos de pandemia, reavaliou os seus projetos, acredita que haverá alguma mudança na forma de se trabalhar a escrita e quais as suas impressões para um futuro próximo?

Sim! Reavaliei. Acredito que realmente haverá mudanças não só na forma criativa quanto à tendência atual que estará predominante, mas também nas estratégias de mercado que provavelmente exigirá muito mais empenho para produzir, divulgar, circular e vender. “Vender! Isso é sem dúvida imprescindível em questão profissional”.

9 – Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

A curto prazo cito a publicação de mais uma edição do livro “ATMOSFERA”, também de poemas do qual foi produzido anteriormente apenas uma pequena remessa e vendido muito rápido.
Como projeto a longo prazo posso citar a publicação de três novos livros, sendo eles: Uma coletânea poética bilíngue em formato impresso e digital com alguns textos de cada livro de minha autoria já publicado. Também um livro de contos e um de romance. Já trabalho intensamente nesse projeto para tê-lo compondo o legado para esse tempo que me está sendo permitido viver.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

10 – Pergunta: O que você ambiciona quanto ao universo da escrita?      
Resposta: Continuar trabalhando com essa atividade que para mim é profissão e sendo capaz de proporcionar a apreciação, reflexão e transformação para o bem entre as pessoas através da escrita literária e dramatúrgica!


Manoel Barbosa é escritor, poeta, ator, performer, e dramaturgo. Também é diretor e produtor teatral. Nasceu em 06 de outubro de 1964. É brasileiro de Minas Gerais. Já publicou os livros de poemas: “SANGUE E BLUES”, “ATMOSFERA” e “UIVOS URBANOS”. É coautor em diversas coletâneas publicadas no Brasil, Portugal e outros países.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Em tempos de quarentena - NUNO SANTOS


Noite

Novos hábitos, no entanto as horas parecem não passar, os dias todos iguais, as notícias iguais, o que muda são os números sempre crescentes com isso o desespero, a dor, a incerteza de quando tudo isto irá ter fim e poderemos sair, respirando sem esconder a cara nem as mãos.
Nestas noites intermináveis, as dúvidas tomam conta das mentes que dizem tudo vai passar, frases repetidas, ditas a familiares, conhecidos e mesmo a desconhecidos que aprendemos a conhecer graças a este inimigo comum.
Mais uma semana como todas as outras, dia, noite, a nós de fazer a diferença para que as noites tragam a força, coragem, determinação, fé, de que o dia será diferente nesta luta desigual mas vitoriosa para todos nós.

Nuno Santos

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Em tempos de quarentena - ANA MENDES


E NASCE A PAZ EM MIM

Perdida nos meus pensamentos e desalentos, com a minha taça de café já frio...
Apreciando esta linda noite de luar, como tantas outras da minha varanda.
Ao longe ondas mansas se desfazem, acariciando o areal, som melodioso que faz bem ao moral.
Deste período de confinamento, guardo a esperança que me trás paz.
Aquele tesouro que nasce depois da incompreensão, da dor, da revolta e desolação...
Como pode o mundo despertar a cada manhã e concordar em carregar tanta tristeza?!
Quanta energia para poder aceitar, que o homem só existe através do poder, do dinheiro, da glória, abandonando por isso tudo, algo bem maior?!
Esquece, abandona ou troca o valor da vida simples e pura, por momentos de prazer sem remorsos ou por segundos de ilusórias aventuras.
Agora a terra acorda e grita de alegria, os pássaros esvoaçam pelos céus de cores intensas, em liberdade, não seguem os traços de aviões apressados de chegar ou voltar e sem fumaças de chaminés altas ou baixas. Apenas esvoaçam por prazer.
Outros correm em pradarias ou florestas sem medos, mas talvez invente eu um postal efêmero para enviar ao meu melhor amigo.
O mundo já não é só nosso, agora o devolvemos... Ou foi pelo rei de corôa, sem cavalo ou reino rico, fatal vírus que nos tormenta e nos coloca em perigo.
E se o dia nasce na separação da noite e o horizonte, acompanhado de nuvens ansiosas por libertar sobre o mundo um doce chover, é a primavera a querer espalhar as suas cores sobre as flores, o trigo e pomares a crescer.
O vento levantou-se de mansinho e o sono fez-se presente, nos meus olhos e pelo corpo uma moleza se aconchegou  devagarinho.
Ligo o telefone e leio com alegria, uma mensagem de um ente querido. Desejos de um amanhecer suave, com carinho.
O silêncio enche o espaço e acompanha-me com pudor ao leito. Sabe ele tão bem o que me vai na alma e no peito.
Hoje houve aplausos e cânticos, ainda que se carregue a dor, foi por agradecimento e amor aos amigos de farda verde, azul, vermelha ou branca.
Heróis plastificados, mascarados e prontos para a guerra, sem taças, medalhas ou louvores.
Talvez amanhã nos possamos reunir, olhar nos olhos, agarrar mãos e beijar quem nos quiser sentir...
Assim me deito esperançada, pois a paz nasceu-me na alma, vai-me até amanhã embalar...
                                                                          
Ana Mendes

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DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - BETH BRAIT ALVIM


Agradecemos à autora BETH BRAIT ALVIM pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 – Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

Como uma tragédia anunciada. 

2 – Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Estou postando muito mais poemas do que sempre postei, participando de salas de leitura, organizando meus livros, respondendo entrevistas, diariamente.

3 – Quando isso passar, qual a lição que ficou?

Somos todos iguais e, de uma vez por todas, temos de nos reumanizar e cuidarmos uns dos outros.

4 - Os movimentos de integração da mulher, influenciam no seu cotidiano?

Sim, meu olhar é mais detido, minha crença renovada diariamente e minha lucidez cada vez mais aguda quanto à história cultural da mulher até nossos dias.

5 – Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Não faço. É preciso que haja estrutura que nos ajude a divulgar nossas obras. Em minhas postagens, minhas performances e diversos saraus dos quais participo só faço o que minha poesia dita. E só faço porque desejam que eu faça.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

O preconceito é entranhado. Quando digo que minha lucidez está mais aguda, é sobretudo porque percebo nitidamente a preferência, mesmo nos círculos mais amigáveis, pelo escritor. Positivamente, sou muito mais respeitada do que antes de me tornar reconhecida. Mas, mesmo com esta aceitação e reconhecimento, o espaço, o trato, as deferências e o agrupamento literário é flagrantemente mais  dinamizado no âmbito masculino. 

7 – O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Curto prazo: lançar meu novo livro bilíngue em países lusófonos e hispânicos. Longo prazo: não penso em longo prazo, mas um desejo da vida toda é conhecer mais e mais outras culturas.

8 – Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

- Rede de ações e circulação da produção poética feminina lusófona.
- Revista trimestral  impressa e online regular sobre literatura lusófona feminina.
-Fundo de apoio, solidariedade e difusão de escritoras lusófonas.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita

Wislawa Szymborska, Poemas.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Você é feliz?
Resposta: não sei.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Em tempos de quarentena - SANDRA RODRIGUES


O Amor é Tudo

Pequenas lágrimas derramadas
Pelos meus olhos
Rolam pelo meu rosto abaixo.
O sentimento de tristeza
Invade o meu coração.
Uma inquietude alastra-se
Na minha alma.
Grito em silêncio,
E o único ruido vem da minha respiração!
O que será de mim?
O que será de vós?

Sairemos desta catástrofe mais unidos,
Mais humanos!
Os abraços terão mais valor
Do que o dinheiro,
Do que a desigualdade!
Os abraços serão dados
De forma carinhosa, sincera, aberta…
Um simples afeto trará a calmaria,
A paz, o bem-querer!
Será como um íman, atrairá
Os melhores sentimentos,
Os mais profundos, verdadeiros!
Os que temos guardado no nosso íntimo
Durante muito tempo,
Chegará a hora de os partilhar,
De os demonstrar!
De sermos nós a ligação:
À vida; à alegria; à felicidade; ao amor!
Nada voltará a ser como antes,
Tudo estará diferente!
Um abraço não voltará a ser só um abraço,
Depois de tanto tempo,
Será o nosso bem mais valioso,
O maior dos afetos!

O amor é a arma mais poderosa
Do universo!
O amor é tudo!

Sandra Rodrigues

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Em tempos de quarentena - OLÍVIA CLARA PENA


Há um silêncio profano em cada rua e calçada.
Há um compasso de medo que nasce no casario.

Falta o riso das crianças
E a inocência p´las esquinas.

Faltam guitarras de fundo
E amantes que se enlaçam.

As horas batem certeiras
E o tempo finge que passa.

As árvores, em pausa de primavera,
Esqueceram os convites aos pássaros.

E, ainda assim, ao longe no horizonte,
lambendo o rio, o arco-íris.


Olívia Clara Pena

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DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - ANA MENDES

Agradecemos à autora ANA MENDES pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

Como pertencente ao corpo medical, fomos todos surpresos pela amplitude da pandemia. E ninguém estava à espera de tamanha tragédia humana.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Enquanto autora foi-me fácil falar disto, pois como humana antes de tudo, fui sensibilizada ao isolamento do homem livre, à adaptação às restrições, à distância a manter entre os entes queridos e à necessidade de ficar no trabalho tornado o factor principal da nossa existência, antes de tudo o resto. Enquanto outros foram privados dele.

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

Quando passar?! Nunca mais será a mesma coisa e estamos longe do final... portanto de o esquecer. Então acho que o que me resta de importante é que devemos abraçar e beijar quem queremos bem, a cada vez que estivermos com ele! Como se fosse a última vez!

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano? 

Como mulher, ocupo um lugar necessário na cadeia de um hospital e gosto de saber que outras mulheres lutaram para que eu esteja aqui hoje. Mesmo se não recebo o mesmo salário que os meus colegas homens...

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Como escritora recente, pouco divulguei as minhas obras, mas participante de coletâneas ou antologias, gosto de saber que me leem, que talvez alguém goste do que digo ou se identifique às minhas histórias.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Só vejo positivismo na ação da escrita feminina. Ela é positiva, sensitiva e portadora da complementaridade da escrita masculina. Adoro o equilíbrio que encontro nela.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Gostaria de lançar vários livros sobre histórias verdadeiras, para que essas vidas sejam conhecidas e entendidas e que ajudem outras pessoas a se sentirem identificadas e compreendidas. A longo prazo, gostaria de criar uma livraria que recebesse todas as idades, que tomassem um café e que actividades fossem organizadas regularmente a nível familiar, para que a leitura, o livro fosse indiciado desde pequeno na vida de todos nós.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

Os temas são todos importantes, interessantes... Talvez sobre o lugar da mulher como núcleo da sociedade e família em simultâneo, a compatibilidade no mundo, não só nos países livres...

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Sempre gostei da Agatha Christie quando jovem, mas descobri Florbela Espanca, embora a achasse melancólica, que se suicidou aos 36 anos,  uma das obras dela ex.: LIVRO DAS MÁGOAS / Maria Archer, mulher ultra moderna e contemporânea para o  seu tempo, que viajou por vários países, com o livro:  FILOSOFIA DUMA MULHER MODERNA.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

- Porque não ousei começar mais cedo a escrever?
- Porque achava que só tinha assuntos a tratar e partilhar com os meus filhos. Pois foi com eles que comecei a escrever e só para eles, durante a infância de cada um deles. Mas mudei de opinião e gosto dessa mudança.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Em tempos de quarentena - ANA MARTA


Estávamos em Julho de 2019, quando foi dado o veredicto: a Humanidade tinha um prazo de 18 meses para reverter os efeitos nefastos da sua pegada ecológica.
Após essa data, seria impossível.
Dezoito meses.
Cerca de 547 dias que muitos contariam com receio e descrença, vaticinando um apocalipse crescente que, aos poucos, mas cada vez mais depressa, iria transformar o planeta azul num paraíso de desgraças.
A humanidade estava no limbo, condenada pela sua própria inconsciência, enganada pelos Senhores de Mundo que negavam veementemente o futuro expectável, cegos pela ganância, convencidos de que o papel verde de tudo os protegeria.

Mas o destino gritou.
A mãe natureza decidiu que não.
"Basta! Se vocês não conseguem perceber..."
Surgiu o milagre, mascarado de vírus.
Mais uma vez, o Homem foi confrontado com a sua insignificância e, recolhido em casa, num isolamento físico sem precedentes, acabou por ter de socializar, trabalhar e viver completamente dependente de uma tecnologia e de um desenvolvimento que não os protegeu contra o inimigo invisível.
Medidas de confinamento, mais e mais teorias, economia estagnada, pessoas estressadas, hospitais lotados e o número de mortos a crescer.
Uma nova realidade para aquele mundo industrializado e desenvolvido que se julgava invencível e impenetrável.
Tudo ruiu...
Ruíram as crenças e as descrenças...
O valor do ouro negro...
E ruiu a fé no futuro.
Cresceu, finalmente, a consciência global de um futuro incerto, de um futuro difícil.

E o Planeta Azul ficou mais azul, ganhou cor e tempo.
Até quando?
Que este susto seja uma lição.
Que esta horrível realidade permita que o relógio não acelere, novamente, e que a Humanidade entenda o que nunca quis entender!

Ana Marta

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Em tempos de quarentena - LUIS M. GUERREIRO


Transportas o coldre
Pejado de munições

Não és guerreiro
Nem herói 
Não és força 
Nem bravura

És anjo negro
Calado
À toa
Pela rua

Assassino
Ignorante 
Inconsciente

O tiro a ti não mata
Mas dizima à tua frente 

Fazes da morte cliente
Que se ri
E alimenta
Com a morte de quem matas
Com as tábuas que tu pregas

Negas
Tu ser o culpado
Mas és tu e outros cem
Que sem
Qualquer cuidado
Fazem o outro refém 

Ninguém! 
Ninguém! 
Mas ninguém! 

Pode matar asssim! 

Ninguém! 
Ninguém! 
Mas ninguém! 

Pode viver assim! 

És tu! 
Que não és risco

Serves tu! 
És tu o isco
Para a rede cheia voltar
De corpos que antes 
Nadavam livres
em qualquer mar

Acorda Assassino! 

Acorda!

Antes que os tiros que dás 
Matem… 

A ti também! 

Luís M Guerreiro

Todos os textos publicados na rubrica EM TEMPOS DE QUARENTENA são da responsabilidade exclusiva dos autores e os direitos respectivos apenas a eles pertencem.