SOLIDARIEDADE AUTORAL
Todos
sabemos e sentimos na pele que esta época em que vivemos fica marcada pela
feroz concorrência que a sociedade no geral nos obriga a enfrentar em todos
os aspectos da vida. Enquanto autor sei e compreendo que aqueles que escrevem
querem ganhar o seu espaço mas também tenho consciência que nem todos jogam com
as mesmas regras e valores.
Serve o
parágrafo anterior de introdução a um tema que já abordei neste blogue, embora
numa perspectiva diferente. Nesse artigo falei de autores que nunca são vistos
em outros eventos que não sejam os seus ou efemérides das editoras pelas quais
editam, neste falarei da falta de solidariedade entre autores e as razões que
levam a que dentro do universo de escritores existam filhos e enteados.
A
generalidade das pessoas sabe que à partida tem de “contribuir” com um
determinado valor para poder editar. Quer se queira, quer não, a escrita é um
negócio e é perante este cenário que temos de analisar as dinamicas de alguns
autores. Existem aqueles que se sujeitam e investem nestas circunstâncias e
outros que se recusam a fazê-lo. Entre aqueles que arriscam, alguns não ficam
satisfeitos, para não dizer desagradados, e não voltam a editar enquanto
outros, apesar de tudo, persistem. Até aqui nada contra.
No
entanto, e falando em termos gerais porque conheço alguns autores que se
recusam a editar nestas condições mas mantêm o espírito aberto e apoiam os
restantes, este cenário inicial provoca em alguns “amargurados” um sentimento de
rancor por aqueles que continuam em busca do sonho, em especial os que, aos
seus olhos, são escritores “inferiores” a si. Não interessa se escrevem bem ou
mal, conseguem editar e isso é suficiente para serem apelidados de “vendidos”
ou “comerciais” e acusados de só editarem porque têm dinheiro para o fazer
(pasme-se a descoberta), e por isso não lhes merecem qualquer incentivo ou
apoio.
Apesar de
não concordar com esta postura, consigo entendê-la melhor do que aquela que
adiante mencionarei.
Deixemos
de lado os autores que não editam ou que após a edição do primeiro livro deixam
de editar e concentremo-nos naqueles que o fazem com alguma frequência.
Faz parte
da natureza humana criar laços, sejam familiares, profissionais, sociais ou
culturais. Nesta lógica é perfeitamente legítimo que entre autores também haja
empatias e amizades muito fortes. Da mesma forma, também é natural ver autores
que editam numa determinada editora terem contactos mais estreitos entre si do
que com autores de diferentes chancelas. No entanto é neste ponto que a porca
torce o rabo e muitos autores misturam alhos com bugalhos transformando laços
de amizade em grupos quase hermeticamente fechados, sendo que, quem não joga com
as suas cores deixa de ser bom escritor e por consequência deixa de contar com
o apoio desse grupo. Eu digo “desse” mas existem inúmeros.
Para
ilustrar o que acabei de referir, darei como exemplo uma situação que ocorreu
comigo e que sempre desvalorizei, embora o mesmo não possa dizer de algumas
pessoas que se aperceberam do que se estava a passar e que tomaram como suas as
dores que deveriam ter sido minhas mas que, repito, nunca cheguei a sentir.
O episódio
ocorreu no Verão de 2011 após a minha primeira presença na POPULAR FM, onde
anunciei em primeira mão que o meu terceiro livro, LICENÇA POÉTICA – duetos lomelinos, seria editado pela Lua de
Marfim.
Logo
nessa noite foram publicados alguns textos na internet que, apesar de não
dizerem expressamente a quem se dirigiam, eram endereçados a mim. No dia
seguinte a essa entrevista na rádio, fiz questão de marcar presença num evento
e pasmem-se (eu não) algumas pessoas com quem tinha um relacionamento saudável,
pura e simplesmente não me falaram, havendo inclusive quem me tenha virado a
cara. Há testemunhas disso e durante toda a semana que se seguiu recebi
chamadas de pessoas que se aperceberam do ocorrido, tanto na net como no evento
e que se sentiam mal perante tudo aquilo. Mas tal como referi anteriormente,
toda esta situação mereceu da minha parte uma completa desvalorização.
O mesmo
nível de desvalorização que dei em Abril de 2012 a todas as mensagens, chamadas
e comentários que recebi quando anunciei que iria apresentar o mesmo livro no
Porto a convite da editora Universus.
Para mim
sempre foi muito claro que existe uma diferença substancial entre o Emanuel
Lomelino – pessoa – e o Emanuel Lomelino – autor. Enquanto o primeiro tem uma
postura social uniforme e sem distinções, o segundo encara com realismo todas
as situações que o podem beneficiar, a si e à obra.
Sem
querer dar importância a algo que não a merece, usei este exemplo para dizer
que a generalidade dos autores não consegue ver para além do seu próprio umbigo
nem assimilar que existem outros que procuram diferentes saídas, soluções e
caminhos quando confrontados com oportunidades de dar outro rumo à sua obra.
Infelizmente, para muitos ainda é difícil aceitar que alguém do mesmo meio
tenha mais sucesso ou maior visibilidade.
Enquanto
autor, sei quais as dificuldades que outros têm para verem os seus sonhos
transformados em livro e por isso não me custa absolutamente nada dar uma mão e
ajudar através das ferramentas que tenho ao meu dispor e em algumas
circunstâncias comparecer nos eventos para dar uma força extra e incentivar.
Também
tenho consciência que o facto de neste momento ter um contrato de edição não
quer dizer que sou melhor do que outros nem que continuarei a receber propostas
de edição nos mesmos termos ou semelhantes. Pura e simplesmente aproveitei,
enquanto autor, uma oportunidade sem que o homem deixasse de tratar todos os
outros da mesma forma que até aí.
O mesmo
não poderei dizer de alguns individuos que mudam completamente a sua forma de
estar quando conseguem entrar em alguns núcleos mais elitistas (os que publicam
em editoras maiores e/ou em órgãos ligados às artes) muitas vezes evitando
misturar-se com os demais em público. Por acaso conheço um que fica
embaraçadissimo quando me encontra em eventos de “amigos” seus.
Aqueles
que me conhecem e convivem mais de perto comigo sabem o quanto fico satisfeito
quando outro autor consegue alcançar voos mais altos, mesmo mais altos que os
meus.
Mas, como
referi no início deste artigo, vivemos numa sociedade em que quase é exigida
competição e a maioria das pessoas actua em conformidade esquecendo que estamos
todos no mesmo barco, independente da chancela pela qual editamos e das
condições em que o fazemos.
Por minha
parte, podem ter a certeza que continuarei, dentro das minhas possibilidades, a
dar destaque a todos os autores lusófonos, seja na divulgação de eventos, com
presenças nas sessões de lançamento e apresentações, ou utilizando os meus
espaços da internet para lhes dar maior visibilidade. Tenho a certeza que
ajudando outros a crescer também o Emanuel Lomelino autor cresce.
MANU DIXIT