quarta-feira, 29 de junho de 2022

Uma jangada chamada esperança (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Inicialmente, ainda via a água límpida, transparente, ondulante de um azul-esverdeado único, misturada com um outro azul, não menos belo, acima dela. Também ainda alcançava com a vista a jangada que abandonara à mercê das intempéries e das fracas forças que a sustinham à tona da vida. Também ela, agora, sobrevivia só.

Luz! Era a luz que ia perdendo à medida que ia descendo e engolindo o sal que lhe inundava os pulmões, lhe asfixiava a respiração, lhe toldava os sentidos e o fazia perder a consciência. Sentia o corpo entregue à uma única via que penosamente o fazia descer a caminho da escuridão e do silêncio.

E descia. Já não sentia o corpo, nem o fardo de culpas, de desculpas, de castigos, de momentos dolorosos, de perdas, de sofrimentos, de perdões, de desgosto sofridos e infligidos, de desilusões... apenas ia descendo e mantendo os olhos abertos, bem abertos para tudo absorver, enquanto podia.

E, assim, foi vendo passar por si todos os companheiros de viagem de uma vida, como num filme ao contrário, do fim para o princípio, num paradoxo sem igual para com quem ia descendo para o fim onde iria encontrar outro princípio.

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

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