Para quem acompanha, com alguma proximidade, o que é
editado, é fácil perceber que a grande maioria dos autores limita-se a
transformar em livro um punhado de poemas escritos durante um determinado
período de tempo (normalmente reduzido), sem qualquer tipo de preocupações,
sejam de natureza técnica, estilística, ou temática. Mas isso é matéria para
outro filme.
É minha convicção que um autor, para além da vertente
criadora e criativa, deve possuir uma apurada capacidade de intuir quando um
trabalho está terminado ou exige continuação. Evidentemente, este pressuposto
depende, sobremaneira, dos objectivos e natureza da obra criada e/ou a criar.
Apesar do elevado grau de auto-exigência que sempre
tive, confesso que, somente após ter começado a escolher os textos para o meu
primeiro livro, senti a necessidade de repensar a forma como agrupava as minhas
criações. O mesmo é dizer: só comecei a dar importância ao valor do todo quando
confrontado com a perspectiva de editar.
Essa forma de raciocínio explica, não só, as linhas
mestras de cada um dos sete livros que editei, mas também, todos aqueles que
tenho guardados para possível edição.
Já me ouviram dizer muitas vezes: eu não escrevo
porque edito, eu edito porque escrevo. Tendo em conta esta máxima e o facto de,
felizmente e contra o vaticínio de muitos, continuar a receber convites para
editar, tenho tido a preocupação de emprestar alguma coerência e linha
condutora em cada uma das propostas que, entretanto, tenho produzido.
No entanto, e ao contrário do que alguns pensam, eu
não me sento em frente ao computador num determinado momento a escrever um
livro de rajada; o eclectismo que existe em mim não o permite.
Eu vou escrevendo o que tenho a escrever no momento, e
apenas na hora de guardar o texto é que surge a decisão de o colocar neste ou
naquele ficheiro, o mesmo é dizer, só depois de terminado o poema é que decido
em que possível livro é que ele encaixa melhor. Também sendo verdade que muitas
vezes não encaixa em lugar algum, seja por não ter o grau qualitativo que me
auto-exijo, seja por estar desenquadrado com as temáticas e/ou estilos que
requerem complementaridade.
Porém, há alturas em que um poema, apesar de
corresponder aos critérios de um determinado projecto, cria em mim um
sentimento agridoce que passo a explicar e é a razão primeira para toda esta
dissertação.
Não sendo uma situação virgem, creio que nunca abordei
esta questão e desconheço se o mesmo acontece com outros autores.
Falo daquele momento em que encaixo um poema no
projecto de livro que julgo mais adequado e, ao reler o todo, nasce a sensação
que não há mais nada a acrescentar a esse projecto, tendo chegado a hora de o
dar por terminado e colocá-lo na "gaveta" à espera de uma
oportunidade para ser transformado em livro.
Foi o que aconteceu hoje quando terminei de escrever o
primeiro poema deste ano e o fui colocar num projecto que tem o nome, talvez,
provisório: VERDADES INDUZIDAS. Ao reler a totalidade dos textos que coloquei
neste esboço de livro, dei-me conta que não há mais nada que eu possa
acrescentar a este trabalho que iniciei há mais de três anos.
O sentimento agridoce de que falo deve-se ao facto de
conseguir saborear o momento em que dou por terminado este trabalho sem,
contudo, deixar de sentir também a certeza que estará relegado a uma espera sem
tempo.
Resta, tal como em momentos anteriores e outros que
virão, esperar que apareça a sua hora e começar a dar vida a outros esboços de
livros, porque ideias não faltam.
MANU DIXIT