Ao contrário do que algumas pessoas podem pensar, as
minhas posições mais contestatárias, críticas e irreverentes em relação às
questões ligadas ao universo da escrita (sendo quase uma marca registada do meu
comportamento), não me impedem de, sempre que assim o entender, reconhecer
publicamente (como já o tenho feito em diversas ocasiões) aqueles que têm
mérito nas suas acções.
Dito isto, quero falar-vos hoje do nascimento da
Livraria da Lua de Marfim, localizada na Avenida Conde Castro de Guimarães,
22A, na Amadora, cuja inauguração será no próximo dia 7 de Fevereiro, às 15
horas.
Tendo em conta as dificuldades que o país tem passado
e toda a instabilidade que ainda existe por estes dias, esta iniciativa do
editor Paulo Afonso Ramos é uma opção de risco mas também revela grande coragem
e ambição. E conhecendo-o como conheço não é de admirar esta sua aposta que,
disse-lhe pessoalmente no dia 29 de Janeiro, muito louvo. Mais ainda pelo facto
de este espaço não se restringir aos livros editados pela Lua de Marfim e
disponibilizar-se para receber de braços abertos os autores editados por outras
editoras que pretendam usar o espaço para apresentações públicas dos seus
trabalhos, como prova o convite que me foi feito nesse sentido.
Numa altura em que se escuta cada vez mais os
responsáveis das chamadas "pequenas editoras" a reclamar pela falta
de união e parcerias entre si, tenho constatado que o verdadeiro motivo para a
existência desse afastamento reside na vaidade pessoal.
Nesse sentido, creio que a posição de Paulo Afonso
Ramos, sendo contrária ao que referi no parágrafo anterior, pode bem ser o
ponto de partida para que a tão propalada união possa finalmente ser atingida.
Haja vontade dos outros editores de aceitar este gesto de aproximação que, sei
do que falo, é genuíno. Dito isto, deixo aqui expresso o desejo que este novo
projecto seja um sucesso e que os outros editores saibam responder em
conformidade.
O Paulo Afonso Ramos não precisa que venham a público
interceder por si mas eu não podia deixar passar em branco este seu grande
momento. Independentemente das divergências de pensamento que nos separa, a
realidade é apenas uma, ele foi o primeiro editor que valorizou a minha
escrita, ele foi o editor dos meus primeiros cinco livros, ele foi o editor que
me colocou à frente um contrato editorial único que não voltarei a ter.
Se mais razões não houvessem, estas seriam suficientes
para que eu viesse a público reconhecer o mérito deste novo projecto. Como se
costuma dizer: "a César o que é de César" ou como é mais justo neste
caso: a Paulo Afonso Ramos o que é de Paulo Afonso Ramos.
MANU DIXIT