sábado, 27 de março de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... SANDRA SANTOS

Agradecemos à autora SANDRA SANTOS pela disponibilidade em responder ao nosso questionário


1 - Poesia, prosa ou conto, por quê?


Tanto faz, contanto que saia da alma.


2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?


Trabalho só em casa desde março de 2020, tendo ido duas vezes ao escritório entre junho e outubro de 2020. O que era provisório, virou permanente.


3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos em tempos tão restritos?


Tenho sido muito produtiva nesta pandemia, acho que todos os criativos estão muito ativos no momento da pandemia. Já participei de mais de cinco coletâneas e lancei um livro, o HERstory – escreva a sua história! (com prefácio de Maria Valéria Rezende). Agora no começo de 2021, mais algumas participações em coletâneas já estão garantidas, também junto do Mulherio das Letras Portugal.


4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.


Positivos: ter ganho amigos para toda a vida, ter ido com meus livros a lugares que ainda não visitei pessoalmente. Negativos: revisões intermináveis antes dos lançamentos!....


5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?


Excelente forma de divulgação, populariza a arte! Como diz a minha mãe e aquele velho ditado, a necessidade faz o sapo pular!


6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?


Acredito que o virtual veio para ficar e no momento pós-pandemia teremos um misto híbrido, proporcionando o encontro presencial e virtual de forma paralela.


7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?


Ter podido lançar meu novo livro HERstory de forma presencial em minha cidade natal, Belo Horizonte. Ainda lançarei em um futuro próximo!


8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou.


O Presente do Mar, de Anne Morrow Lindbergh

Cassandra Speaks – when women are the storytellers, the human story changes


9 - Quem é Sandra Santos no reflexo do espelho?


Uma mulher que sente orgulho de quem é, porque lutou para ser quem é. E uma menina de maria-chiquinha sonhadora, que desde cedo se interessou por idiomas e por temas sociais, pela Justiça e quis conhecer o mundo.


10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?


Quais são os seus próximos projetos literários? Tem um sonho literário?

Escrever poemas, artigos, livros.... e quem sabe também traduzir meus livros para outros idiomas e outros livros para o português. Escrever e viver da escrita!


Sandra Santos, a Mineirinha n‘Alemanha

Mora no país desde 1993. Desde 2003 ela tem um blog homônimo, desde 2008 vem publicando livros e participando de coletâneas. A Sandra é mineira de Belo Horizonte, é casada e tem dois filhos, escreve para ela e para o mundo por acreditar que tudo está interconectado, que somos e devemos passar luz para os outros e por ter fé em um mundo mais justo e fraterno. O último livro dela fala de sororidade e sobre o feminismo consciente, leva à reflexão e empodera: HERstory – escreva a sua história!

@mineirinhanalemanha

www.mineirinhanalemanha.de

www.sandrasantos.de

sexta-feira, 26 de março de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... RITA QUEIROZ

Agradecemos à autora RITA QUEIROZ pela disponibilidade em responder ao nosso questionário


1 –Poesia, prosa ou conto, porquê?

 

Escrevo os dois, mas prefiro poesia, sinto-me mais à vontade, mas a prosa tem me tomado também.

 

2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?

 

Enquanto autora, não mudou, pois continuei escrevendo, publicando livros, participando de coletâneas/antologias/revistas literárias, me apresentando em saraus virtuais e eventos diversos, como feiras e festas literárias.

 

3 – O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos em tempos tão restritos?

 

Tenho buscado a meditação, o que tem me ajudado bastante. Além disso, as ideias fervilham na mente e eu escrevo, dando vazão aos sentimentos.


4– Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.

 

São poucos pontos negativos, pois os positivos superaram minhas expectativas. Tenho participado de vários grupos nas redes sociais, conhecido muita gente, o que favoreceu a minha inserção em muitas publicações e eventos literários.

 

5– O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?

 

Essa nova forma de estar propiciou a aproximação de pessoas que vivem muito distantes. Hoje é possível falar com pessoas que estão em outros continentes, dialogar, partilhar as mesmas dúvidas e alegrias. As modalidades presenciais são ótimas, nada substitui o abraço afetuoso, o calor humano, mas nem sempre, por questões diversas, se pode ir a todos os eventos. Nessa nova forma de estar, o “estar” se fez possível.

 

6 – Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?

 

Acredito que teremos pós pandemia um modelo híbrido: presencial e remoto, favorecendo a uma partilha mais ampla e irrestrita.

 

7– Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?

 

Nenhum.

8 – Indique-nos um livro que lhe inspirou.

 

Tereza Batista cansada de guerra, do escritor baiano Jorge Amado. A história de Tereza, apesar de todo o sofrimento porque passou, é de superação e encorajamento da luta feminina e feminista.

 

9 – Quem é Rita Queiroz no reflexo do espelho?

 

É uma pessoa sonhadora, que gosta de realizações e que vai em busca disso. É uma pessoa que gosta de desafios e que não tem medo de encará-los.

 

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

 

Por que você escreve? Porque a escrita me leva a mundos diversos, fazendo-me uma pessoa mais feliz.

 

Rita Queiroz - Natural de Salvador – BA.

Pós-doutorado em Estudo de Linguagens (UNEB), doutorado em Filologia e Língua Portuguesa (USP), mestrado e graduação em Letras (UFBA). Professora universitária. Autora de 5 livros de poemas para o público adulto e 5 livros para o público infantojuvenil; organizadora de 8 coletâneas. Integra os seguintes coletivos: “Confraria Poética Feminina”, “Mulherio das Letras” e “Coletivo de autoras de literatura infantojuvenil da Bahia”; além de fazer parte das seguintes academias: AVAL, AILB e ACILBRAS.

quinta-feira, 25 de março de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... VIEIRINHA VIEIRA

Agradecemos à autora VIEIRINHA VIEIRA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário


1 - Poesia, prosa ou conto, porquê?

 

A poesia é uma necessidade de expressão, já quanto ao conto e prosa é a necessidade de evolução, uma forma de alongar, começar a melhorar e aventurar em histórias cada vez mais elaboradas.

 

2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?

 

Quebrou a minha vontade de escrever sem dúvida, mas continuo ativa em vários projetos. 


3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projetos em tempos tão restritos?

 

Tenho optado por fazer formação e assumido alguns projetos os quais depois comprometida obriga-me a cumprir.


4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.

 

Tenho encontrado vários pontos positivos, tais como a minha evolução como ser humano a melhora da minha escrita, minha saúde. Quanto aos menos positivos, creio que foi a seleção que a escrita fez por si só na minha vida. Tal como um crivo… 


5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?

 

Sou muito mais exigente comigo do que com a media das pessoas, mas gosto, gosto em particular de ver as partilhas e do ato saudável de partilhar amores comuns.


6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?

 

Não creio que seja permanente, não acredito que existam coisas permanentes, mas que cada vez mais haverá essa necessidade, sim. Até porque existe em algumas pessoas uma enorme fome pela exposição, aparecer e estar na linha da frente.


7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?

 

Não mudaria nada. Costuma-se dizer que cada um dá o que tem no coração e recebe com o coração que tem, tem sido um aprendizado constante e eu sinto-me confortável por baixo da minha pele. 


8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou

 

Não tenho lido muito nos últimos tempos, optei por adquirir e formalizar minha formação, como tal a leitura teve de ficar para um outro plano. Muito embora exista um livro que não vejo tanto como inspirador, mas sim, uma força, motivação "Um homem em busca de um sentido de Victor E. Franki.


9 - Quem é Vieirinha Vieira no reflexo do espelho?

 

No reflexo do espelho vejo alguém de coragem, audácia e amor. Um alguém disposto a transmutar e viver, alguém que se recusa a seguir caminhos predefinidos.


10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

 

Eu estou na área do coach, as perguntas são a nossa praia :) O porquê do teu silêncio? Até para falar há um tempo certo.

 

Vieirinha Vieira

Nascida a 10.05.76 em V. N. Gaia. Nome próprio Cláudia Vieira.

Professional & Self Coach, Psicologia positiva. Hipnoterapeuta, escrita, escrita criativa, dança (diversos tipos), canto, teatro e comunicação, teatro musical e psicologia.

Participação mais 80 livros como co-autora, e autora de 2 livros , membro de diversas academias Blogger: peemviagem.blogspot.com.

 

domingo, 21 de março de 2021

Remando contra a correnteza (excerto) - SANDRA HELENA DOS SANTOS FARAH

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Minha vida seguia o curso normal. Quando digo normal, me
refiro ao que aprendemos desde pequenos: estudar, se formar,
arranjar um emprego, casar e ter filhos. Como uma correnteza
suave que te leva pela vida, sem que você perceba, claramente,
que está sendo levado.
Estava tudo fluindo regularmente: formada, empregada, vivendo
em outra cidade e casada. E, como acontece com todo casal
nessa fase, a pergunta sobre filhos começou a surgir. Mas, não
estávamos com pressa. Queríamos curtir a vida a dois e aproveitar
aquilo que construímos. Por que passar para a próxima fase sem
desfrutar dessa?
Eis que chegou o momento em que o curso normal foi mais
forte e nos empurrou para a próxima fase.
Que fase difícil! Foi mais de um ano tentando engravidar e
nada. Fiz vários exames, estava tudo bem, coube então ao meu
marido.
Foi quando descobrimos que ele é estéril, que, pela primeira
vez, saímos da correnteza e paramos para pensar: “E agora?”
Um choque para nós e para a família e, em meio a um turbilhão
de sentimentos e pensamentos, entramos em um segundo
curso normal.
Essa nova correnteza nos levava para o caminho das consultas
com especialista em fertilidade, baterias de exames, congelamento
de óvulos, inseminação e possível gravidez. Começamos a seguir
esse curso, mas, depois de muitas conversas, escutar familiares,
amigos e falar com pessoas que passaram pela mesma situação,
decidimos não seguir adiante.
E não é que, quando nos demos conta, já estávamos flutuando
em outra correnteza? A da adoção.
Nesse momento, eu e meu marido, que já lidávamos com todos
esses assuntos a cerca de dois anos, decidimos parar e fazer
outra escolha.

EM - MÃES - COLECTÂNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 18 de março de 2021

À Vó (z) da Gratidão - ALDIRENE MÁXIMO

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Não tive o privilégio de conhecer minha avó paterna. Ela partiu muito antes de eu nascer. Dizem que somos parecidas.

O que sei é que ela era muito especial.

Seu sonho era que meus pais se casassem. Porém, partiu antes desse sonho se realizar.

Meu nome foi originado do seu. Irene, do grego, “Paz”. Sim, a pacificadora. A raiz da sabedoria.

Em fotografias, percebo o quanto foi feliz.

Cumpriu sua missão!

Linda de alma e coração, inspirou-me lindos poemas de Amor e esperança.

Queria ter podido sentir o seu abraço, seu perfume e conhecer a magia de suas belas palavras. Queria poder dizer o quanto sou grata por ser sua neta, o quanto sou grata por pertencer as suas profundas raízes, dizer que também tenho grandes cicatrizes e que quero ser uma linda árvore de belos frutos, para assim, honrar a semente que um dia ela plantou.

EM - ELAS E AS LETRAS (INSUBMISSÃO ANCESTRAL) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 11 de março de 2021

Eles e eu (excerto) - JÉSSICA RODRIGUES

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Esta história fala de um triângulo amoroso. Conta de gente comum,
mas cheia de afinidade e cujas tramas da vida se cruzaram
de um jeito muito peculiar. Ela, aos vinte e um, foi surpreendida
pela chegada de uma menina; eu, aos vinte e quatro, de um menino.
Engraçado dizer, mas quando engravidei ela afirmou que
eu ainda era muito jovem, que podia ter esperado mais. Logo ela,
que me teve ainda tão cedo. Saldo de três para mim. Porém, entendo
o seu ponto de vista – hoje mais do que ninguém. Aprendi
a ser mãe, me inspirando nela também.
Filhos não vêm com rótulo de identificação dos componentes,
não têm peças de reposição nem manual de instruções, não é
mesmo? Eu, a primogênita dos três dela, fui piloto, e ela se virou
muito bem. Ele meu unigênito, e eu me virei também. Três gerações
distintas, muitas trocas e possibilidades para aprender: ela,
ele e eu.

Entre idas e vindas o casamento dela durou dezoito anos
(pode ser que eu esteja enganada com os números, mas foi aos
dezoito que me lembro de meu pai indo embora pela última vez.
Eu fui casada por quase oito (a tal crise dos sete anos parece que
valeu para mim) e nesta conta maluca ela ficou com saldo de dez.
Foi aqui que descobri que antes de ser mãe, a gente é mulher,
acreditam? Sim, porque a chegada dos filhos nos leva a certa anulação
de nós mesmas por um tempo. Os cuidados que as crianças
demandam nos transformam em seres quase exclusivamente
maternos. Suga força, energia, fôlego... Ufa! Pois bem, vê-la se
interessando por outro homem não foi fácil para mim. Não foi
fácil para ele também, quando chegou a minha vez. É... O mundo
dá mesmo muitas voltas.

EM - MÃES - COLECTÂNEA - IN-FINITA

segunda-feira, 8 de março de 2021

Relicário - ADRIANA MAYRINCK

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O ar quente, com o cheiro de maresia que só Recife tem, fazia-me sentir novamente em casa, quando ia passar as férias de verão. Uma lar que nunca deixei, ao mudar-me para o Rio de janeiro aos três anos de idade. Também sentia-me em casa nas areias de Copacabana. Mas metade das lembranças de infância, são do colo do avô paterno na rede, enquanto desenhava seu famoso burrinho (único desenho que sabia fazer), a avó sempre na cozinha, fazendo doces ou biscoitos (de Natal)... depois puxava a cadeira para longas conversas, sobre bons costumes, família e religiosidade. Na época, preferia ver os burrinhos ganhando forma, mas hoje, ainda ecoam as palavras da minha avó e seus olhos profundamente azuis e sua mania de mordiscar a língua.

A praia bem ao pé de casa, os coqueiros balançando junto com a brisa que acarinhava os meus cabelos e os passeios pelas ruas de Olinda e Recife, com uma caixa de “isonor” no colo cheio de sorvete de graviola, mangaba e pitanga. Sabores que guardo ainda hoje, que permanecem na lembrança das férias na casa em Pau Amarelo. O Avô médico (anestesista) e muito bem disposto com suas anedotas e um jeito muito peculiar de falar palavrão. A Avó professora, extremamente católica, vivia de terço na mão. Tantas estórias e histórias eu ouvia, naquele tempo que passava junto com eles e como adorava ver o avô de roupa e sapatos brancos ajudando aquela gente que aparecia no portão em seu dias de férias na casa da praia. E a avó com a chave na mão, trancando a dispensa, pois a comida da casa, só ela quem cuidava.

Sair daquele fresquinho perto do mar, sempre descalça e despenteada e ter que colocar vestido e sapato para almoçar na casa dos bisavós no calor escaldante de Recife era uma penitência, só esquecida ao chegar lá, olhar para aquela casa imensa, catar azeitonas pelo chão, que deixavam a boca e toda a roupa manchadas de tinta roxa, ou pegar carambola no pé e balançar tentando chegar às alturas no banco de balanço, que ficava na varanda para os velhotes apreciarem o final da tarde, e nós, primos reunidos de diversas idades, querendo que se transformassem em objetos voadores, sem sucesso. E aquela mesa enorme farta, que estava sempre arrumada com iguarias a qualquer hora do dia, todos os dias, para quem chegasse. A família tinha sempre que bater o ponto de encontro, e todos sabiam que ali era o porto, de chegada, de acolhimento, de fartura, de amor, chamado Mãe Berta (minha Bisavó). Tias, tios, primos, avós e bisavós, meus pais e irmãos, com suas vozes e risadas misturadas, me faziam sorrir e acreditar que era pra sempre. A Zefa (tb já idosa) e a Zefinha (não necessariamente mãe e filha, estavam lá toda uma vida, ajudando a manter a casa e a cozinha em ordem. Lembro de um quarto só com quadros de todos os filhos, netos, sobrinhos e bisnetos nas paredes, em retratos e de uma escada enorme com tapete cor de vinho que levava para um lugar que criança não podia entrar para não fazer bagunça para não incomodar a bisavó que descansava. O bisavô se foi, quando eu ainda era bem pequena. E apesar de bem velhinha, Mãe Berta (a bisavó) permanecia em sua cadeira, a balançar e a receber a família, com o passar dos anos, um pouco menor, netos adultos, bisnetos mais crescidos, casamentos, batizados, viagens e mudanças de cidades... Um dia, a bisavó, foi para junto do bisavô. A família silenciou e a casa foi vendida.

A minha avó (também Berta) assumiu a união da família, pelo menos uma vez na semana, fazia questão de receber em sua casa, bem menor e sem tanta mordomia esses encontros com a família, já bem mais dividida. Mas as quatro irmãs (Berta, Maun, Zeca, bem alvas e de olhos claros e Nelsa – negra com olhos de jabuticaba) sempre muito unidas, eram o que eu mais admirava, quando recebia as notícias da minha família em Recife. As minhas férias deixaram de acontecer, e no ir e vir do tempo... alguns anos se passaram sem ver os avós. O avô com a doença de Parkinson, já não mais desenha e não ouvia, sem a ajuda do seu aparelho auditivo, que desligava quando não queria chatear-se e um dia, dormiu e não mais acordou. E anos mais tarde, foi a avó que já não reconhecia mais ninguém com uma doença que a fazia esquecer a família, a casa da Mãe Berta e tudo o mais, o tal do Alzheimer. E a avó, após muito sofrer, foi para junto daquele que ela tanto se agarrava em seus terços e orações. Assim como o meu pai, o meu tio e três primas, que deixaram seus ecos naqueles encontros na casa da Mãe Berta.

Percebo a força feminina, de uma família regida em sua maioria, por mulheres.

As tias, tão velhinhas e queridas, ainda encontrando-se às terças-feiras na casa da Tia Maun, e a minha tia Preta, também vai, representando minha avó Berta.

Ao longe, com quase cinquenta anos e na outra margem do oceano, trouxe o livro que a minha tia Maum escreveu, e com ele nas mãos, esse LEGADO DE AMOR, à beira do Tejo, vejo imagens e relembro esse tempo bom.

Ficaram os ecos das vozes, os cheiros, os sabores e as presenças, das mulheres que deixaram lembranças e muita saudade. Que marcaram, meu tempo de infância e depois que tornei-me mãe, compreendi a importância da palavra família, aquelas lições que tanto a minha avó, queria me ensinar, quando puxava a cadeira e me chamava para sentar.

São ricas memórias, herança ancestral - guardadas em um relicário.

EM - ELAS E AS LETRAS (INSUBMISSÃO ANCESTRAL) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

segunda-feira, 1 de março de 2021

Do senso comum ao bom senso (excerto) - ROSA ACASSIA LUIZARI

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Gabriel nasceu em noite conflituosa e me perguntei por que escolhi
ser mãe. A autorresposta fluiu como ocorre com o corpo feminino
quando deseja abrigar uma extensão.doc da própria vida.
Além de ser fruto de uma época em que as mulheres tinham a
maternidade como condição sine qua non, eu queria internalizar
o sentido de sê-lo, sair do senso comum e exercer meu bom senso
ao dar voz a uma nova vida. Eu queria descobrir o sentido de
materializar o desenvolvimento da extensão de meu corpo que,
ao mesmo tempo, não é meu. É outro.
Gabriel cresceu longe de mim, fato decorrente de minha separação.
Se estivesse comigo durante toda a infância, essa teria sido
tão conflituosa quanto a noite de seu nascimento.
Três anos foi tempo suficiente para Gabriel experimentar o
doce e o amargo de ser meu filho e de Renato. Nascido no intervalo
de nove brigas intensas, era uma criança alegre. Aproveitei
bastante o sorriso dele em meio às brigas que motivaram a minha
separação.
Eu era doutoranda em uma conceituada universidade e Renato
pensava que isso fosse perda de tempo. Não era. Conquistei
meu espaço. Resolvi que em minha vida tudo seria uma sucessão
de avisos prévios concedidos a mim por mim mesma. Só não o
era a rejeição de Renato em relação a Gabriel.
Quando a mistura de nossas personalidades veio ao mundo,
nenhum sorriso ou foto. Na memória do pai, apenas o fato.
Ainda bem que as mães registram o nascimento de seus filhos de
um modo diferente dos homens. Não precisam de fotografias. O
calor da extensão de seus corpos é a certeza de que o filho está ali
e de que tudo se renova.
Gabriel foi um bebê muito amado por mim e por Renato. Ele
amava o nosso filho. Do jeito dele.

EM - MÃES - COLECTÂNEA - IN-FINITA