Uma vez mais, senti a necessidade de escrever na
sequência de um artigo anterior porque, por incrível que possa parecer para a
generalidade das pessoas, ainda há quem, apesar de letrado, não consiga fazer
interpretações correctas daquilo que escrevo.
No meu artigo anterior, sem ter entrado em detalhes,
fiz questão de dizer que o evento de apresentação do meu livro, no Porto, tinha
sido um fiasco no seu propósito. Pois bem, para aqueles que não sabem qual é o
propósito de um evento do género, aqui fica um pequeno esclarecimento.
Quando um autor, editora, ou espaço, se propõe
realizar uma sessão de apresentação, tem como finalidade dar a conhecer
publicamente uma obra. Em circunstâncias normais, esse evento é pensado para um
determinado público alvo, sendo que, na generalidade dos casos, esse mesmo
público é conhecedor do trabalho do autor.
Considerando que eu, a editora e o Luis Beirão
(responsável do Olimpo) estivemos perto
de um mês a fazer divulgação do evento, junto dos nossos contactos, ninguém se
pode queixar de falta de informação e assim justificar a ausência.
Sim, o evento que nos propusemos realizar foi um
fiasco! À hora marcada não havia mais ninguém para além de mim, do Luis e da
Ana, ambos do Olimpo.
No artigo anterior eu referi que apesar do fiasco, a
minha ida ao Porto tinha sido gratificante por ter conhecido duas pessoas
fantásticas que, perante o cenário desolador, mesmo para eles, decidiram não
perder a oportunidade de ter no seu espaço um autor de poesia e sugeriram-me
que dissesse algumas palavras sobre o livro perante as pessoas que ali se
deslocariam para um outro evento, este musical.
Foi para um público diferente que eu acabei por fazer
a minha apresentação e, embora inicialmente, tenha sentido alguma resistência,
o que é natural, aos poucos comecei a notar que estava a ganhar a atenção e o
interesse dos presentes, e daí até à interacção total foi um passo. Não, não
vendi um único exemplar. Mas nem só de livros vendidos vivem os autores. Aliás,
são poucos aqueles que o conseguem fazer, ainda menos os que escrevem poesia.
Mais importante foi o que ganhei.
Tenho a consciência que, para muitos outros autores,
uma situação semelhante seria razão suficiente para desmotivar. Contudo, eu não
sou "outros autores" e é preciso bem mais que um fiasco para me
desmotivar. E a prova do que acabo de dizer é que já tenho agendado um evento
em Braga, onde falarei de novo sobre o meu livro POETAS QUE SOU, seja para que
público for, independente de vender ou não alguns exemplares.
Ao contrário do que já me disseram, ter considerado o
evento um fiasco não é, de modo algum, uma ofensa para o Olimpo e seus
responsáveis. A esses não aponto um dedo acusador. Não foi por eles que o
evento fracassou. A culpa desse fracasso é essencialmente daqueles que tanto
apregoam a falta de eventos literários e não aparecem. A culpa é daqueles
autores que gritam ao mundo pela solidariedade dos restantes mas não retribuem.
A culpa é daqueles que para se mostrarem socialmente activos fazem questão de
dizer a meio mundo que vão a mil e um eventos e nos locais ninguém os vê.
Já disse várias vezes, e não me cansarei de repetir, a
mim não me incomoda absolutamente nada a ausência, seja de quem for. Sou um
positivista por natureza e apenas me pode afectar aquilo que eu deixar. Assim
sendo, e para não me alongar mais neste tema, termino deixando um recado a
todos os autores: façam-me o favor de não aparecer em Braga, a vossa falta não
será sentida, mesmo que tenha de qualificar esse evento como um novo fiasco,no seu propósito.
MANU DIXIT