quinta-feira, 29 de setembro de 2016

EU FALO DE... III ENCONTRO DE POETAS DE LÍNGUA PORTUGESA

Quem acompanha a minha forma de estar no universo da escrita sabe que, apesar de ser cidadão português, sempre me considerei um autor lusófono. Seguindo essa condição, quando em 2013 a poeta Mariza Sorriso me falou do seu projecto de lusofonia, não tive qualquer dúvida em disponibilizar-me para colaborar, dentro das minhas capacidades e no que pudesse ser útil.

A ideia original transformou-se numa feliz realidade abraçada por algumas pessoas e o projecto ganhou corpo de evento em Setembro de 2014. Assim nasceu o I Encontro de Poetas de Língua Portuguesa. 

Ao contrário de muitas outras boas ideias, a continuidade deu-se como desejado e em Setembro de 2015 foi possível dar vida ao II Encontro de Poetas de Língua Portuguesa, com a novidade do mesmo ser celebrado em eventos realizados no Brasil e em Portugal e da adesão dos participantes ter aumentado substancialmente.

Com esse reforço moral confirmou-se a validade do projecto e ficou desde logo definido que havia margem de manobra suficiente para crescimento. O III Encontro de Poetas de Língua Portuguesa veio provar essa análise e, mantendo a multiplicidade de eventos do ano anterior, voltou-se a constatar um aumento considerável na participação dos autores, em 2016.

Foi bonito ver a Sala Nobre do Palácio da Independência cheia de autores, em representação de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor. Foi bonito presenciar o quanto uma língua pode servir de motivo aglutinador e de intercâmbio entre as diversas sensibilidades, diferentes sotaques e distintos modo de estar. Foi bonito assistir a esta união da lusofonia. Foi bonita a festa e o contributo de cada um dos presentes. Foi bonito o III Encontro de Poetas de Língua Portuguesa e é um orgulho fazer parte de algo com tamanha beleza.


MANU DIXIT 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

EU FALO DE... EMPRESTA-ME A PALAVRA


Regra geral, é complicado escrever umas quantas palavras sobre a obra de um autor que conhecemos sem evitar que as mesmas se façam escutar como meros elogios de amizade, no entanto, não podia deixar passar a oportunidade de, correndo o risco de ser entendido de forma incorrecta, tecer algumas considerações sobre o mais recente trabalho do poeta e amigo António MR Martins.

António MR Martins é um dos autores cuja vasta obra editada acompanho desde o início. Ao longo dos anos, e a cada livro colocado nos escaparates, este poeta de mão cheia, tem brindado os seus leitores com uma poesia inconfundível. Independentemente das temáticas e dos géneros utilizados no acto de criação, a escrita que nos apresenta tem uma forte marca identitária que o separa dos restantes. Comummente, esta característica, é designada por "voz própria" e é através dela que os autores se distinguem, ganham algum destaque pela diferença e se transformam em referência, pela capacidade de influenciar/inspirar as criações de outros autores.

Neste novo trabalho (EMPRESTA-ME A PALAVRA) António MR Martins, quis elevar a fasquia e proporcionar aos seus leitores um verdadeiro manual de como escrever sob influência/inspiração de outros autores mantendo a "voz própria". Por outras palavras, neste livro o autor, que conquistou com a sua obra o estatuto de referência, cria os seus textos em redor de fragmentos de obras de outros autores, que são as suas referências.

À primeira vista, e para aqueles que simplesmente escrevem, esta pode parecer a mais fácil das formas de criação; puro engano. Para realizar-se algo desta índole são necessárias muitas horas de leitura, pesquisa e trabalho exaustivo com as palavras. Este género de empreitadas exige grande conhecimento das obras e dos autores e uma enorme capacidade de filtrar, entre as informações recolhidas, o essencial e transformá-lo em material relevante para a construção de novos textos.

Em resumo, EMPRESTA-ME A PALAVRA acaba por ser quase um livro de diálogos, entre António MR Martins e todos os autores cujos versos/frases utilizou como epigrafes. De um lado temos uma miríade de autores e suas "sentenças" e do outro temos António MR Martins a contribuir com a sua "voz própria".

Um livro que recomendo vivamente.

MANU DIXIT  


sexta-feira, 16 de setembro de 2016

EU FALO DE... TERTÚLIAS VERSUS SARAUS


Um dos aspectos que caracteriza o ser humano é a capacidade/necessidade de estar permanentemente em contacto com os seus semelhantes.

Desde o momento que nascemos, passamos a fazer parte de uma família e, por consequência, à sociedade, e ao longo da vida vamos tentando a inserção em vários grupos, quase de forma natural. Todos nós frequentámos a escola e tivemos as nossas turmas, depois passámos a trabalhar e passámos a fazer parte de um grupo restrito de pessoas lá da empresa. E passámos a pertencer à ordem dos advogados, dos engenheiros, dos médicos, dos enfermeiros, aos sindicados ou inscrevemo-nos como sócios de clubes desportivos e/ou culturais.

Esta busca pela integração em diversos grupos justifica, por si só, o aparecimento de colectividades, clubes restritos e/ou organismos com características específicas e particulares.

Neste contexto e dando seguimento a iniciativas que remontam a séculos passados, surgiram duas espécies de eventos culturais, com conceitos e objectivos distintos. Falo das tertúlias e dos saraus.

Ignorando os aspectos sociais-elitistas que estiveram na génese de ambos os movimentos e cingindo-nos apenas às fórmulas, devemos ter em conta que os saraus surgiram com base mais performista e as tertúlias com cunho de debate. Isto é, enquanto nas tertúlias os intervenientes dialogavam sobre temáticas específicas e limitavam-se a argumentar sobre o assunto dessa tertúlia, nos saraus era possível escutar música, ouvir poesia e assistir a pequenas peças de teatro. Enquanto nas tertúlias variavam, a cada encontro, o tema a discutir e incentivavam o aparecimento e intervenção de novos tertulianos, nos saraus não havia rigidez temática mas as performances limitavam-se a dois três "artistas" da moda.

Serve esta pequena e resumida comparação para explicar a proliferação errada das tertúlias e o quase desaparecimento dos saraus, sendo que o aumento de um e a diminuição de outro devem-se, única e exclusivamente ao desconhecimento, daqueles que os promovem e/ou frequentam, sobre como cada um deles deve ser organizado. A confusão é tal que, hoje em dia, dá-se o nome de tertúlia a todo e qualquer encontro de autores e depois, aqueles que aparecem para uma verdadeira tertúlia são confrontados com saraus de poesia onde, regra geral, se assiste a um desfile de vaidades por membros de um grupo específico, quase elitista.

Felizmente ainda há verdadeiras tertúlias onde podemos exprimir as nossas opiniões sobre temas específicos sem nos preocuparmos com a nossa condição de autor e/ou leitor. E eu, como tertuliano que me quero e considero, não perco a oportunidade de chamar os "bois pelos nomes" e aponto o dedo de peito aberto.

MANU DIXIT

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

EU FALO DE... PÁSSAROS SEM NINHO


Uma das vantagens evidentes das parcerias dos meus blogues com editoras é, sem sombra de dúvida, a possibilidade que me é dada de conhecer autores que, de outra forma, me passariam despercebidos, porquanto são tantos a serem editados que é humanamente impossível acompanhar todos. Neste contexto, e através da parceria com a Edições Vieira da Silva, chegou até mim PÁSSAROS SEM NINHO de ISABEL BRANCO, autora com um largo percurso que me era completamente desconhecido.

Com uma linguagem simples mas, nitidamente, com muita burilação das palavras e dos versos, neste livro, a autora transporta-nos numa viagem/busca, que é a sua e na qual conseguimos rever-nos com facilidade.

Tal como o título sugere, PÁSSAROS SEM NINHO é uma demanda irrequieta, constante e cheia de perseverança por um lugar ideal. Ao longo da leitura dos poemas somos confrontados com as dúvidas/incertezas da poeta que também são as nossas. E apesar de algumas respostas, a insatisfação/inconformismo permanece. Talvez porque o “ideal” seja um sonho utópico (muitas vezes demasiado longe) ou, estando perto, mantém-se longe do olhar de forma camuflada. E, mesmo quando se julga ter encontrado o “objecto” de busca, há sempre algo em falta que justifica a continuidade da tal demanda; de um recomeço.

Este livro é composto por poemas que alertam para a inexistente ligação que temos com tudo aquilo a que pensamos estar umbilicalmente ligados. No fundo, a mensagem principal está em algumas máximas que podem até chocar mas que são verdades incontornáveis. Ninguém é de ninguém mesmo sendo parte de um todo. Ninguém é de lugar algum mesmo pertencendo a este mundo.

PÁSSAROS SEM NINHO, de Isabel Branco, teve o condão de me proporcionar inolvidáveis momentos de leitura e recomendo vivamente. Um dos melhores livros de poesia que li, em muito tempo.

MANU DIXIT