sexta-feira, 30 de junho de 2023

Amanheceu - LUÍSA RODRIGUES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Amanheceu. Uma brisa suave entrava pela janela aberta do quarto enquanto a meu lado ainda dormias. Observei o teu peito seminu, movendo-se a cada aspiração e expiração, enquanto na minha mente permaneciam ainda vívidas as memórias da nossa breve, mas intensa, noite de amor. Fechei os olhos e inspirei fundo para absorver o odor do teu perfume que ainda restava no ar, camuflado agora pelo cheiro intenso a suor dos nossos corpos cansados.

Como era bom estar envolta nos teus braços, sentir o calor do teu corpo, e o aroma do teu perfume inebriante. Tentei absorver cada imagem, cada sensação, cada aroma disperso no ar, para os conservar de alguma forma na memória, porque sabia que aquele momento era único, e irrepetível.

E senti-me de súbito envolver pela nostalgia e pela saudade que todos os grandes momentos deixam perpetuadas na mente e no coração.

EM - EXPRESSÃO - COLETÂNEA - IN-FINITA

Santuário da Santíssima Trindade (excerto) - TEREZINHA PEREIRA

E-BOOK GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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“Valei-me, Santíssima Trindade.”

O Santuário da Santíssima Trindade tem traçado semelhante ao de outras igrejas da cidade, porém é bem singelo no interior. Neste dia mais importante, tinha os altares ornados com muitas flores, os bancos cheios de gente. O casal se aproximou do altar-mor para Letícia conhecer a imagem do Pai Eterno, que fica lá no alto. Os dois se ajoelharam junto ao altar. Por um tempo, ficaram em silêncio. Enquanto rezavam, viam as pessoas que passavam próximo à imagem por detrás do Cristo crucificado, para levarem o seu beijo, fazerem a sua oferta em dinheiro, expressarem suas queixas, a cura de alguma doença, uma graça. Alguns escolhiam o agradecer. O homem perto do seu Deus.

Saíram, após Letícia visitar cada um dos altares laterais e a capela do Santíssimo. Na capela, ficou curiosa com o efeito luminoso de uma gota de sangue que saía do coração de Jesus e escorria para dentro de um cálice.

EM - TRINDADE - TEREZINHA PEREIRA - IN-FINITA

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Envelhe-Ser (excerto) - KATYA KATAJIMA BORGES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Já não tenho a mesma idade, envelheço na cidade... naqueles primeiros dias cantei com Ira - a banda e o sentimento - para os males espantar, cantei alto para me entusiasmar como fazia na juventude. A maturidade chegou, trouxe novas sensações e descobertas. A ausência das minhas regras mensais provoca medo do novo, uma percepção de inadequação e de estranhamento no tempo das carências hormonais. Iniciei a travessia para a menopausa no auge da pandemia, um complexo caminho labiríntico, aquele que quanto mais se tenta fugir mais desnorteia. Incertezas, solidão, dava-me conta de que adentrava num misterioso portal, tive que lidar com a dupla desconhecida a duras penas.
Perversa fase da vida, pensava eu, nos momentos desestabilizantes de ninho vazio, mudança de carreira e de perdas afetivas importantes. A hipertensão se instalou para marcar os novos tempos. Em meio a campos ocultos, pude encontrar também campos férteis que possibilitaram semear as adaptações necessárias.

EM - EXPRESSÃO - COLETÂNEA - IN-FINITA

O abismo (excerto 12) - CARLA SANTOS

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O caso de António, um rapaz de 17 anos, natural de Aveiro, filho mais novo de uma família com três filhos, Cátia de 23 e João de 20. Seu pai, professor secundário colocado a 450 km de casa, e sua mãe, médica de família colocada a 320 km de casa. Apenas se viam aos fins de semana e quase sem tempo para falarem uns com os outros. Os três irmãos viviam juntos na mesma casa, Cátia estava a terminar um curso de Estética e massagem, João estudava num curso de mecânica automóvel e o António, ainda no secundário, frequentava o 12º ano na área de artes e passava a maior parte do tempo fechado no quarto a jogar no PC World War Heroes – Guerra FPS, Snipers e outros jogos de guerra. Com o tempo e a interação com outros jogadores em direto na internet foi ganhando amizades que o levaram a extremos. Um dia saiu de casa e apenas deixou um bilhete endereçado aos pais a dizer:

“... encontrei uma família real, que me entende, que se preocupa comigo, que está sempre comigo, a meu lado, nos bons e maus momentos... vou ser um herói! Talvez assim vocês os dois estejam mais presentes para os meus irmãos...”

EM - O ABISMO - CARLA SANTOS - IN-FINITA

terça-feira, 27 de junho de 2023

Caso 25 (excerto) - DALMO MEDEIROS

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Dia de sábado no Rio, no verão, é dia de pensar em ir a Praia. Acordei cedo e me dirigi a Padaria, que fica na Rua São Clemente, entre as ruas Dona Mariana e Eduardo Guinle. Um sábado quente, que me fez lembrar os fins de semana em que a família ia para Copacabana, com o programa duplo, praia e almoço, na casa da Dona Iracema. Ainda mais se no dia seguinte, Domingo, fosse aniversário da minha filha Julia. Saí da Padaria com pressa, uma bisnaga, um litro de leite e 300 gramas de queijo prato e presunto.

Ao entrar na Rua Dona Mariana, havia um carro em frente ao nosso prédio. Estava parado e com o som ligado. Ao me aproximar do carro, ouvi um trecho da canção Carinhoso. Entrei em casa correndo para contar a Angela o ocorrido. Ficámos os dois pensativos. E, claro, pensámos nela imediatamente, em sua luz, sua generosidade, sua doação e amor.

EM - ESTAVA ESCRITO NAS ESTRELAS - DALMO MEDEIROS - IN-FINITA

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Não vai rolar comer mal no hospital! (excerto) - ANGELA RODRIGUES

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Duas questões me incomodaram na internação: a qualidade da comida e a forma de alguns profissionais de me assustarem a respeito do risco nos próximos passos do processo. Os profissionais costumavam pintar um quadro bem dramático em cada etapa cumprida: “Prepare-se para vomitar muito, ter diarreias, tonturas, fraqueza… A febre certamente virá e nem adianta porque não sairá daqui tão cedo!”

O tom de voz parecia manso, mas a intenção “salamaligna” era me prevenir para o pior. Só que uso crenças e possibilidades diferentes, como “nada disso acontecerá comigo!”. Eu desafiei todas essas crenças cabeludas e todos se surpreenderam comigo!

Quanto à comida, foi uma novela à parte. As nutricionistas entravam no quarto, lindamente uniformizadas, com o cardápio recheado de fotos tentadoras. No segundo dia, passei a me esconder embaixo dos lençóis pela comida intragável, “incomível”. Eu não conseguia comer nada e passei a subornar os acompanhantes e enfermeiras a recolherem dos outros quartos requeijão, biscoitos e frutas para me sustentar. Também ameacei ligar para o “delivery” para comer bem.

EM - OS CAMINHOS DA CURA - ANGELA RODRIGUES - IN-FINITA

Peabiru (excerto 6) - CARLOS DOMINGUEZ

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A incansável Rosana deu-me muitas dicas e mostrou mapas mentais da dimensão continental do estudo do Peabiru. Falou de livros e pessoas. E quem faz apuração, sabe. Contatos valem ouro neste exercício. Mais que os incontáveis navios onde os mercenários espanhóis carregavam o fruto da pilhagem para enriquecer os soberanos católicos financiados por banqueiros que já, nesta época, não tinham nacionalidade relevante e financiavam as expedições, armando os barcos que cruzavam o oceano Atlântico. E, nos primeiros anos, o caminho era descer o litoral brasileiro até o Sul, buscando uma forma de cruzar a passagem mítica para as Índias, delírio coletivo do reino português e do reino espanhol. Este navegar tinha como último porto amigável a ilha de Santa Catarina, onde os guaranis comerciavam com os navegantes, suprindo-os de água e comida. Um destes foi um marinheiro quase desconhecido que teve o nome perpetuado por sua coragem e determinação: Aleixo Garcia, o primeiro homem branco europeu que trilhou o Caminho do Peabiru. Depois dele, há mais de 500 anos o mito do Caminho do Peabiru atrai pessoas com os mais variados propósitos. Principalmente jornalistas em busca de boas histórias.

EM - PEABIRU - CARLOS DOMINGUEZ - IN-FINITA

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Maria Dulce (excerto) - FÁTIMA D'OLIVEIRA

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Como já era habitual, Maria Dulce sentia-se meio perdida e incompleta. Ela sempre tinha atribuído esse sentimento, essa… essa sensação ao desaparecimento precoce da mãe. Não devido à morte desta última, mas simplesmente porque ela tinha mesmo desaparecido: era o dia do sexto aniversario de Maria Dulce e ela estava a brincar com a boneca que tinha acabado de receber, quando ouve a mãe dizer “Já chega!” e vê-a sair porta fora. E foi assim: sem saber como nem porquê, Maria Dulce viu a sua mãe sair da sua vida e nunca mais lhe pôs a vista em cima. Infelizmente, esse dia tinha ficado gravado a ferro e fogo na sua memória e nas suas entranhas: Maria Dulce lembrava-se de cada momento daquele dia, até ao mais ínfimo pormenor: desde o vestido cor-de-ameixa da mãe, até ao seu perfume pautado pelo toque das flores de cerejeira.
Essa fuga para a frente sempre a tinha assombrado, inundando-a de uma culpa que quase a afogava. Maria Dulce sabia muito bem e tinha plena consciência de que essa culpa, propriamente dita, não lhe pertencia, mas a verdade é que a sentia: e por mais que tentasse sacudir esse malfadado fardo, era inútil: aquela era uma batalha logo perdida, à partida, pois mais que atropelada, era abafada, até esmagada pela tal culpa que, verdade verdadinha, não era dela, nem de perto nem de longe.

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O mundo precisa de mim feliz... - CECÍLIA DIAS GOMES

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Nos teus olhos esconde-se a tristeza de não poderes amar,
No silêncio revelam-se desejos de nós.
– O mundo precisa de mim feliz.
Os meus lábios são efeito para meu rosto, e uso do teu beijar, são suaves e doces
almofadas onde se aninham os teus lábios ao acordar.
– O meu corpo é o sonho onde o teu se esconde em meu deitar.
Em ti eu existo; em mim me justifico, no nosso embalar.
– Atrevo-me a dizer... amor da minha vida faz-me feliz, pois em ti preciso estar!
– Longe de ti, não existe harmonia entre o meu eu, só porque te quero amar, sonho acordada,
a alegria, mal a sinto passar.
– Na privação do teu olhar mora
a triste distância, o sufoco de um
moribundo medo, por não te ter a meu lado, sinto o desespero de minha alma perdida!
– A vida precisa de mim feliz!
Longe de ti não existe felicidade, apenas,
o vazio da nossa ausência, o mesmo vazio que comandava
a minha vida se não te tenho comigo.
– Sublime existência do nosso amor.
Temos todo o direito em amar, sermos felizes, te poder abraçar. Basta de injustiças... vem daí, vem ter comigo, porque a vida precisa de nós felizes.
– Com todas as cores vieste pintar
meu sorriso, colorir meu pensamento, fazer de mim a mulher mais requintada.
Ai meu amor!
Tu, que tens poesia no corpo e nem disso sabias, melodia
no meu tocar, no universo dos sonhos, o mais lindo amor para amares.
Vem...
O mundo precisa de mim feliz a teu lado.
Mulher apaixonada.

EM - EROTISMO E SENSUALIDADE - COLECTÂNEA - IN-FINITA

O abismo (excerto 11) - CARLA SANTOS

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Sentada no meu gabinete olhei pela janela... e fiquei ali estática durante um tempo enquanto o meu pensamento voava para bem longe... perdido numa imensidão de conversas e temas que tentava aos poucos encaixar, como se fosse um puzzle. Qualquer coisa estranha se estava a passar e tinha de juntar todas as peças para que esta intuição e a minha voz interior se calassem.
No meio de tantos documentos e arquivos revistos a pente fino... rostos e mais rostos, uns vivos outros já mortos. Relatórios por esclarecer, outros encerrados, mas que juntos poderiam ter um ponto em comum nesta investigação.
Os extremistas islâmicos são movidos por metas políticas ou religiosas. Recrutam novos membros através da internet para fazerem ataques suicidas, sequestros de aviões, em especial espalhar o pânico e o medo generalizado entre os povos.
As interpretações extremas do Alcorão levam a que pratiquem atos violentos contra o que acreditam ser uma violação da lei Islâmica. Tendo como recompensa a glória celestial pelos seus atos ditos heroicos.

EM - O ABISMO - CARLA SANTOS - IN-FINITA

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Caso 17 (excerto) - DALMO MEDEIROS

 LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA

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Nesse momento, eu estava participando com minhas amigas de vocais, Angela Lopo e Tita Alves, do Festival Perc Pan, que tinha como Produtores: Nana Vasconcelos e Gilberto Gil.

As cantoras, amigas de estúdio, Angela Lopo e Tita Alves, com mais outro bom cantor, Vainer Dias Gomes, formaram comigo o Grupo Dendê Diet, nome criado por mim. O grupo praticamente era uma seleção de ótimos músicos, com 4 cantores e mais um Power trio atrás, com Gerson Silva na guitarra, Marquinhos Carvalho no Baixo, George Soares na bateria e mais dois percussionistas excelentes, Hudson e Leonardo Reis. O Dendê Diet era uma banda poderosa nos arranjos vocais e instrumentais que revolucionou o momento musical em Salvador, diferente de tudo que havia. Gravámos dois discos, sendo o primeiro com obras do Axé que possuíam letras de qualidade transformadas em música Pop. O segundo, produzido pelo grande Produtor Roberto Santanna, com um repertório do compositor baiano Assis Valente, digno de prêmio pela qualidade desse trabalho, fantástico.

EM - ESTAVA ESCRITO NAS ESTRELAS - DALMO MEDEIROS - IN-FINITA

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Preparação para o autotransplante - ANGELA RODRIGUES

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Onde fica a medula óssea mesmo? Onde entra o meu sangue nessa história? Qual a relação do mieloma com as dores na coluna? Pois é, nunca estudei sobre isso e vi sua importância por se tratar da fonte da minha vida. A medula fica no lado direito da bacia e nela brota o nosso sangue. E o meu contaminou-se com células cancerígenas – o mieloma múltiplo.

Aos poucos, pela Internet, familiarizei-me sobre todos esses procedimentos. Eu limparia meu sangue e retornaria para reintroduzi-lo já limpo. Só isso? Será uma coisa tão simples assim, achei que era uma cirurgia! E a história da medula óssea, onde entraria?

EM - OS CAMINHOS DA CURA - ANGELA RODRIGUES - IN-FINITA

Peabiru (excerto 5) - CARLOS DOMINGUEZ

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Uma amiga querida, acadêmica, diz que o Peabiru foi um bacharelado, mestrado e doutorado que a vida me deu, tudo junto e misturado. Um “intensivão” com carga horária completa, apaixonada e dedicação exclusiva. Concordo, em parte, que foi uma escolarização. Não desconfiei, na medida adequada, que, para pesquisar o Peabiru, iria ter que estudar História (São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Brasil, América do Sul, Polinésia, Espanha, Portugal), Geografia, Hidrografia, Cartografia, Arqueologia (incluindo acervo rupestre), Antropologia, Astronomia (o percurso peabiruano tem o traçado da Via Láctea), Agricultura, Etnologia, Mitologia, Cosmogonia, Paleografia, Etimologia, Línguas e Linguagens, Semiótica. Mas esse atletismo de aprendizado em ritmo de marcha-de-fundista só ocorreu e continua ocorrendo porque sou uma figura obsessiva. Talvez mais que um apaixonamento, uma porfia. Teimosice. Birra – pontua Rosana.

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terça-feira, 20 de junho de 2023

Autênticas atenções - CARMEN LÚCIA DE QUEIROZ PIRES

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Às vezes nos deixamos levar pela falta de atenção.
Às vezes deixamos de dar atenção.
Às vezes vamos vivendo a vida sem nos dar conta da importância das atenções.
O sentimento entre as pessoas é grandioso quando vivenciados com autênticas atenções, sejam estas pequenas ou grandes.
Sem elas às relações pessoais acabam disseminadas.
Um dia concluímos que não encontramos mais o outro, que se perdeu no tempo, sem reciprocidade e interação.
O olhar murchou, o sorriso minguou, as palavras sumiram, nosso tempo acabou...
O que se passou? Por que será que isso ocorreu? Falta de empatia, de simpatia?
O fato é que o nosso interesse acabou, nossas atenções migraram para outro foco e a vivência passada se transformou!
Será que os sentimentos, sustentáculos da amizade, são assim, tão vulneráveis?
Arriscaria dizer que somos como as plantas, que necessitam de delicados cuidados regados pela atenção. O que pressupõe carinho, respeito e consideração.

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Alice (excerto) - TEREZINHA PEREIRA

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Casos de gente da terra. Rodrigo saiu do estúdio do Sebastião sem ao menos se despedir. Se ouviu bem o caso que o fotógrafo havia-lhe contado, não lhe deu importância. Viu que passava das dez. Precisava chegar à pousada a tempo de tomar o café da manhã com Letícia.

Encontrou-a sentada num banco do Largo das Forras, distraída. Olhava as charretes atreladas aos cavalos, prontas para levar turistas a passeios pela cidade.

– Não conseguiu ficar na cama?

– Dormi muito bem. Imagina! Faz pouco tempo que estou aqui. Vamos dar uma volta? Estive a falar com aquele senhor que vende aquelas coisas de cozinha, jarras e apitos em forma de passarinho. Veja, tudo feito de barro.

– É o Tião Paineira. Vamos falar com ele.

– Como vai, Tião?

– Uai, você se alembra de mim! É tanta gente que me conhece! Tenho muito prazer de falar com esse povão todo que aparece aqui na praça. De onde veio essa moça tão bonita? O senhor tem muito gosto...

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segunda-feira, 19 de junho de 2023

Dúvida (excerto) - CARLA DE SÀ MORAIS

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Uma orquestra, são vários músicos que tocam em conjunto e ao mesmo tempo e por vezes cada um toca individualmente.
Poderemos comparar as relações humanas a uma orquestra que nem sempre flui como deveria e alguns veem-se confrontados com certas dificuldades e complexidades.
O diálogo aberto e franco é o grande maestro desta orquestra, pois, sem ele, corre-se o risco não só de se desafinar, como também de se criar alguma desordem.
Assim, numa relação, ninguém é totalitário. Tem-se a obrigação de se expor os sentimentos, sejam eles gerados pelo medo, pelas incertezas ou pelas vontades e pelos sonhos de cada um. Dever-se-ia ser honesto e sincero de maneira que o outro consiga compreender, se um dia lhe for dito que já não se poderá continuar a viver como casal, como fora outrora.
Há situações em que ninguém conversa, ninguém diz nada e um belo dia, a frase fatídica é dita sem aviso prévio. Tudo acabou! Mas, acabou quando? Nem deram por isso, nem sequer desconfiaram de nada. Porque se algo muda, se a relação se torna frágil, se os pontos de interesse comum deixam de existir, é preciso que o outro o saiba, para ter consciência do que eventualmente poderá acontecer. Não se pode, de um dia para o outro, dizer que tudo acabou. Não se tem esse direito: pôr fim à relação sem dar a conhecer os antecedentes que o conduziram até ali.

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domingo, 18 de junho de 2023

O abismo (excerto 10) - CARLA SANTOS

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Apetecia-me olhar o oceano profundo e libertador... perder-me nele e encontrar-me num lugar onde a vida fosse apenas e nada mais que um mundo de paz, amor e harmonia... será que isso existe???
Junto ao rio Tejo, os pássaros voavam em bandos e as gaivotas piavam e esvoaçavam em voos baixos procurando comida. Os barcos navegavam ao vento que soprava de sudoeste... velas soltas e abertas... velejando nas ondulações, molhando quem estava a bordo..., mas era a alegria que se via nos seus olhares de liberdade e de luz... em paz com a natureza.

– Como posso ser assim… livre e repleta de paz e harmonia... sentir-me viva... viva?!

Naquela berma do rio... sozinha e sonhadora... os sonhos não passavam de sonhos... como a vida poderia alguma vez ser assim... o mundo ser perfeito? Nunca!

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sábado, 17 de junho de 2023

Fase final do período baiano (excerto) - DALMO MEDEIROS

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Por volta do final dos anos 90, a música baiana, o famoso Axé Music, dava claros sinais de desgaste, por diversos motivos. Já havia uma concorrência grande dos grupos de Pagode, a reserva de mercado para os autores baianos, que não permitia que as editoras do Sul colocassem seus autores nas gravações de artistas baianos, o que provocaria mais tarde um fechamento das rádios do Sul para as músicas de artistas baianos, e além disso, o suporte físico CD sofria concorrência desleal de downloads de músicas em sites da Internet como o Napster, que disponibilizavam música de forma gratuita, aumentando ainda mais a pirataria crescente.

Com isso, Indústria Fonográfica começou a “descer a ladeira”, como se dizia na Bahia. Era visível a deterioração do mercado de música, não só em Salvador, mas em todo o país. Esse processo de transformação afetou diretamente o trabalho dos estúdios de gravação, ninguém queria gravar nos moldes tradicionais, e com isso os estúdios foram fechando, parando de gravar.

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sexta-feira, 16 de junho de 2023

Ella (excerto) - ANA TEIXEIRA

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Aquele bebê gordinho e com os olhos mais vivos que os outros bebês era uma menina valente, que lutaria muito por sua vida e suas ideias.
Parecia uma criança normal, mas durante o acompanhamento de seus pais às primeiras visitas médicas, foi detectada uma distrofia muscular congênita grave.
Após muitos exames, o médico foi taxativo: a menina teria, no máximo, dois anos de vida.
Mas quisera o destino que Ella sobrevivesse aos seus dois primeiros anos de vida e a muitos outros que ainda viriam, pois, sua vontade de viver fortalecia seu coração.
Então, os remédios e as sessões de fisioterapia tornaram-se cada dia mais frequentes. Seus pais sempre incentivando na escola e no tratamento que já ultrapassava a fronteira do milagre da vida.
Dez anos se passaram e o coração de seu pai parou de repente. Não aguentou tanto sofrimento e um infarto o levou para a outra vida.
Mas sua mãe tirou forças do fundo da alma e continuou a acompanhar Ella, incentivando-a e mimando-a com todo o carinho que podia lhe dar.

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Como lidei com o perdão? (excerto) - ANGELA RODRIGUES

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Depois de quebrar barreiras espirituais, me senti amparada espiritualmente na nova caminhada. Foram inúmeras orações, pensamentos e movimentos de solidariedade que me sustentaram até então. Não imaginei que a tarefa seria tão difícil. Foram potes de mágoa, rios de raiva por eu ter arrumado essa doença!

Tive muita dificuldade em me perdoar e aos outros. Continuava a ser salvadora dos fracos, oprimidos – eu, a heroína e os outros, vilões. Sair dessa polaridade foi difícil e, por mais conhecimentos que eu tivesse, continuei julgando os outros. Eu passava longe da realidade, ela na minha cara, e nem era comigo!!! Que prepotência a minha!…

A mudança mais difícil foi perdoar algumas pessoas. Eu não queria algo falso na onda de só falar da boca para fora das religiões: “perdoai a todos seus inimigos…” Mas, como ser sincera, autêntica e perdoar de verdade?

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Peabiru (excerto 4) - CARLOS DOMINGUEZ

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Yvyporã, penso, a casa do sol e da lua, uma referência que lera no livro da jornalista Rosana Bond – A História do Peabiru, descobertas e segredos da rota indígena que ligava o Atlântico ao Pacífico – no qual a cosmologia guarani, um tema vasto e profundo, é detalhada em linguagem simples pela repórter que se dedica ao assunto há mais de 25 anos.
– O Peabiru é para mim uma teimosia – diz, categórica, Rosana.
A teimosia que fez com que escrevesse três volumes específicos sobre o Peabiru, mais livros sobre Aleixo Garcia, o náufrago europeu que trilhou pela primeira vez o caminho por terra da ilha de Santa Catarina até as bordas do império Inca, na região de Potosi, a montanha maciça de prata. Além de livros sobre o Peru e a luta inglória e heróica dos camponeses para combater a exploração que os herdeiros dos saqueadores espanhóis mantêm no país andino, a repórter engajada e investigativa, foi a primeira jornalista brasileira a entrevistar lideranças do grupo Sendero Luminoso, ligado ao Partido Comunista do Peru. Rosana leva o ethos da apuração jornalística à sua maior extensão, praticando a imersão e a investigação rigorosas sobre os temas de que trata.

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quarta-feira, 14 de junho de 2023

A mulher da minha vida... (excerto) - ALINE BRANDT

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Augustin Pullmann, personagem principal do livro Extraordinário (de R. J. Palacio), disse que “todo mundo deveria ser aplaudido em pé, pelo menos uma vez na vida, porque nós vencemos no mundo”. Depois da edificante leitura de Extraordinário não pude deixar de pensar nas milhares de pessoas que, apesar das lutas diárias, dos desafios inevitáveis (quase sempre superados) e das conquistas obtidas (por menores que possam parecer aos olhos dos outros) não têm suas histórias oficialmente contadas e não experimentam o gosto de serem aplaudas em pé. Afinal: costumamos reconhecer (e aplaudir) somente quem alcança visível poder, abundante riqueza material ou espaço privilegiado no cenário das celebridades.
Entre estas milhares de pessoas, que não têm nomes em livros de história ou destaque nas colunas sociais, está minha mãe. Sim!!! Minha amada mãe Clari que, ao lado de meu pai Celito, supera constantes dificuldades e pode dizer, de peito aberto, que criou, com muita dedicação e carinho, quatro filhos aptos para a ação em sociedade.

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terça-feira, 13 de junho de 2023

Pela escrita é que vamos (excerto) - ALEXANDRA FERREIRA

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O sono tardava em chegar e ela dava voltas na cama a pensar no percurso que a tinha levado até ali.
Sempre gostara de escrever. Na escola primária, a professora lia as suas redações como bons exemplos para os colegas. No 1.º Ciclo, escrevera um diário da turma para oferecer à professora de Português. Também fazia as suas confissões nos diários, que escondia atrás das gavetas do roupeiro, temendo que os pais pudessem ler os seus amores e desamores. No 3.º Ciclo, aventurara-se no conto, mas acabara por abandonar a escrita e nunca mais pensara no assunto.
Anos mais tarde, numa formação de coaching, a paixão ressurgiu. Escrevia para se conhecer, para dar forma aos sonhos, para se incentivar. Atreveu-se a publicar os seus escritos nas redes sociais. Para seu espanto, foi bem acolhida pelo público feminino que parecia aguardar as suas publicações matinais para começar bem o dia. Nos meses seguintes, os gostos, os comentários, as partilhas de experiências aumentaram e deram-lhe confiança para continuar.

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