sábado, 19 de fevereiro de 2022

Augusto (excerto) - MARIA FERNANDA MELGAÇO

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

Nunca soube o que era amor. Tinha vagas memórias de sua mãe, quando ele, ainda filhote, era amamentado por ela. Esperava sempre que ela chegasse, naquele horário, para matar a fome e ser aquecido. Mas, um dia, ela não chegou. Triste e sozinho, ele decidiu esperar mais um dia. Sabia que conseguiria aguentar e que mamãe não o deixaria morrer de fome. Em vão. No dia seguinte, naquele horário de sempre, ele estava novamente sozinho. Decidiu, então, que era chegada a hora de encontrar uma nova forma de sobreviver.
Saiu do cantinho em que se mantinha escondido e, pela primeira vez, viu o mundo sobre quatro patas. Muros, árvores, telhados para escalar e, dentro de cada janela, seres que andavam de um lado para o outro sobre duas patas. Viu que eles também tinham olhos, como os da mãe, que ora se voltavam para ele. Foi assim que ele soube o que buscava: olhos que o observassem como os olhos da mãe. E passou por ruas, vielas, veredas em sua busca. Subiu muros, adentrou casas. E, quando já estava prestes a desistir, de longe, ele a viu.
Era daqueles seres que andavam sobre duas patas. Tinha o pelo cor de mel na cabeça. No corpo, não soube se decidir se eram listras ou manchas, mas, distinguiu com clareza as patas brancas como as suas. Foi quando ela o viu em cima do telhado. Um pequeno filhote de gato, de pelagem negra e patinhas brancas. Seus olhos azuis se encheram imediatamente de amor e sorriram para ele quando ela disse “Ah, Augusto!”.

EM - ECOS BRASIL - COLECTÂNEA - IN-FINITA 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Toca a falar disso