domingo, 13 de fevereiro de 2022

Yin-Yang (excerto) - FÁTIMA D'OLIVEIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Já tinha sido há uma série de anos, mas aquela história não lhe saía da cabeça: atormentava-a. Mais do que isso, assombrava-a.
Recuou, na sua mente, até quando ainda era estudante e mais uma vez reviveu aquele episódio… Ele tinha-lhe roubado a caneta, a sua muito estimada caneta, Ana Lis sabia-o, tinha mesmo a certeza. Absoluta, sintética, analítica e mais que fosse. Mas Dinis negava que tinha qualquer coisa a ver com o desaparecimento da caneta. Veementemente.
A caneta, preta e amarela, até tinha algum valor monetário, mas, mais do que isso, tinha muito valor sentimental.
Porque aquela tinha sido uma das poucas vezes em que os pais tinham aceitado pagar, gastar dinheiro, só porque sim. Não que a sua família fosse daquelas considerada, ainda que em tom depreciativo, pobretanas ou remediada: antes poupada. A Ana Lis, sempre lhe tinha sido incutido o valor do dinheiro: o mesmo não caía do céu nem nascia nas árvores. Por isso, ela tinha ficado agradavelmente surpreendida quando os pais de propuseram a oferecer-lhe a caneta que tanto desejava. E Dinis já tinha demonstrado, por mais do que uma vez até, um gosto quase que excessivo pela sua caneta: mais do que admirá-la, cortejava-a descaradamente. Se isso, por um lado, incomodava-a, pelo outro, lisonjeava-a. Afinal, mais do que pertencer ao grupo de meninos bem, Dinis era parte integrante do grupo dos fixes.
Quando Ana Lis tinha dado pelo desaparecimento da caneta, imediatamente perguntou a Dinis se por acaso tinha visto a sua caneta, pois não só era ele que se encontrava mais perto, como ela sabia que a tinha tido na sua posse até há bem pouco tempo. Também imediatamente Dinis negou qualquer responsabilidade.
Mas o que convenceu Ana Lis da culpabilidade de Dinis, foi a forma como ele respondeu: com desdém e arrogância. Até soberba.

EM - ECOS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA 

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