quarta-feira, 2 de novembro de 2022

O homem, a barba (excerto 1) - TEREZINHA PEREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

Faz frio. Chove. Donaldo rola na cama. Há horas. A barba crespa, avultada, de cor branca amarelada desinquieta-o. Justo a porção de pelos do rosto que cultiva desde que se manifestou homem na dúbia luminosidade do quarto da Dinair. Hoje, a barba o incomoda.
− Diná, como ela preferia ser chamada. Diná era tida pelos marmanjos da vila como a dama ideal para a estreia de um rapazote. Diná, a primeira. Durou algum tempo. Até quando eu, ainda sem eira nem beira, supliquei-lhe, com humildade, que fosse mulher só minha. Ela se arredou. Amava muitos outros no mesmo tanto que me amava. Não era mulher de se deitar com um homem único. Ainda mais com algum imberbe a cheirar cueiros. Habituara-se a vários odores. Cada um na sua vez, nas várias horas do dia ou da noite. Bem, terá mesmo dito que me amava?
Donaldo puxa o cobertor até cobrir a barba e se aninha por baixo dele.
− De modo que, como eu insistia em amor exclusivo, ela não mais permitiu minha presença no Cabaré Azul. Nem mesmo para tomar um café na sala de seu randevu de cubículos separados por biombos, sem ventilação e iluminados por uma única lâmpada metida num quebra-luz de tecido fino de vários tons de azul. A vantagem é que, desde então, dediquei-me ao cultivo da minha barba.

EM - CONTOS E CASOS - TEREZINHA PEREIRA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário

Toca a falar disso