sábado, 17 de abril de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... ANA LIA ALMEIDA

Agradecemos à autora ANA LIA ALMEIDA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Poesia, prosa ou conto, por quê?

Escrevo somente prosa por não ter sido escolhida pela poesia. As palavras são voluntariosas: escolhem as mãos das pessoas que vão escrevê-las, na forma exata que elas querem.

2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?

Eu tenho me afirmado como escritora há pouco tempo, embora escreva desde criança. A pandemia me motivou a definir melhor o lugar da escrita em minha vida, como parte desse processo de autoconhecimento que tem se colocado para muitas pessoas em meio a todo esse momento dramático. Isso trouxe mais disciplina para garantir momentos voltados à escrita e à leitura todos os dias, para que as demandas do trabalho remoto e a rotina doméstica não sufocassem todo o meu tempo. Essa disciplina está garantindo a minha participação em projetos como esta Coletânea, para a qual escrevi o conto “O enterro do baiacu”.

3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos em tempos tão restritos?

Tenho sido teimosa. Passei a escrever todos os dias de manhã logo cedo, antes de todos acordarem na casa, e a ler nos momentos de intervalo e repouso. Também organizei em uma planilha todos os meus projetos, para não perder prazos e manter um registro da produção. Vejo isso como uma grande teimosia, porque as condições atuais são muitíssimo precárias para garantir esse tempo literário. Sou professora universitária e a docência é um trabalho apaixonante, mas que não deixa muito espaço para outras coisas, ainda mais nessa confusão do ensino remoto. Sou mãe de uma criança, também, o que tornou-se muito mais complexo com o isolamento social. Por isso não idealizo a pandemia simplesmente como um período de grande potencial criativo. Se não houver muita teimosia, organização e condições mínimas (garantia de renda e divisão de tarefas domésticas, por exemplo), não há espaço para escrever.

4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.

Eu me arrependo muito de não ter me dedicado com mais vigor à literatura mais cedo, já que desde criança eu apresentava inequívoca inclinação para isso. Sempre escrevi, mas nunca até então, já com 37 anos, havia conseguido me dedicar a isto com maior afinco. Diários, contos, bilhetes, rascunhos, blogs, me acompanham desde que aprendi a escrever, mas a dedicação ao trabalho e também certas trajetórias de gênero dificultaram o meu desenvolvimento como escritora. Sempre contou a meu favor, no entanto, o incentivo intelectual familiar (muitos livros em casa, uma mãe leitora, um pai escritor) e a minha facilidade de inventar estórias.

5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?

Para mim é difícil se adaptar. Tenho dificuldade de acompanhar eventos virtuais, talvez pela superexposição à tela em função do trabalho remoto. Eu tenho a sensação de que é muita gente produzindo conteúdo para poucas pessoas dispostas a interagir com qualidade. É uma maravilha, de fato, criar interações sem depender das fronteiras territoriais, mas sou reticente com o real alcance e qualidade dessas interações. 

6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?

Creio que sim, trata-se de um espaço permanente, mas jamais substituirá os encontros presenciais pós-pandemia. Provavelmente os encontros passarão a ser mistos, e, dessa forma, serão mais inclusivos, pois quem não puder se deslocar poderá participar on line. No entanto, a prioridade continuará sendo a das interações presenciais, incomparavelmente mais ricas de afeto e de qualidade. 

7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?

Teria me dedicado mais cedo à disciplina da escrita.

8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou.

“Cacos para um vitral” (1980), romance de Adélia Prado.

9 - Quem é Ana Lia Almeida no reflexo do espelho?

Uma mulher que participa das lutas de seu tempo e tem muito gosto de viver.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

A quais projetos principais está se dedicando agora?

Vou lançar em breve o meu primeiro livro, “Curtinhas da Quarentena” (Ed. Venas Abiertas), um conjunto de pequenas crônicas, às vezes contos, que tematizam o cotidiano da pandemia e do isolamento social. Também estou trabalhando noutro livro, ainda para este ano, voltado às experiências e emoções conflituosas da maternidade.

Ana Lia Almeida 

37 anos, é brasileira, professora universitária e ativista em defesa dos direitos humanos. Autora das mini-crônicas “Curtinhas da Quarentena”, tem publicado até então seus escritos em blog pessoal (www.saltodepalavras.blogsot.com).

2 comentários:

Toca a falar disso