Agradecemos à autora GRAÇA MARQUES pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Poesia, prosa ou conto, porquê?
Como leitora gosto de mais dos três gêneros, mas como escritora, é no conto que atuo como deusa das possibilidades.
2 – Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?
Toda a dinâmica social muda e nossa sensibilidade e inspiração também é afetada. Escolho para mim dois movimentos que fortaleçam meu viver e minha escrita na atual realidade: Primeiramente perceber/respeitar o ser humano na escritora, reconhecendo limites, angústias, dores e fragilidades um tempo em pandemia provoca. Enlutar quando a alma pedir, escrever sempre que não puder calar. O outro movimento é manter ativa a conexão com o universo literário nos formatos que o tempo presente oferece.
3 – O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projetos em tempos tão restritos?
Participado de cursos on-line de escritas criativas, em saraus virtuais e coletivos com desafios da palavra do dia para produção de micro contos. Me inscrito em concursos literários e lido autoras e autores que tenho como referência. Acima de tudo, tenho mantido firme a crença de que a arte é transformadora, de que a escrita é minha voz, mas também pode ser a voz de outras.
4 – Pontos positivos e negativos na sua trajetória de escrita
Vejo como negativo ter demorado me assumir como escritora devido a um padrão onde não me via representada, agravada ainda, pelas dificuldades para se publicar. Muitas histórias não colocam a cara no mundo por conta do universo literário ainda ser, na sua maioria, dominadas por pessoas brancas e grande parte delas de homens, além do mercado ser bastante fechado para quem é desconhecido do grande público. Na contramão das barreiras, foi super positivo não ter desistido da minha escrita. Ter criado publicações alternativas com livretos artesanais, exposições de postais com colagens e poesias, participado de coletivos de leituras e pesquisado sobre temas e autoras e autores que me interessam. São experiências que amadurecem meu olhar e fazer literário. Mostram que escritoras negras precisam ter mais visibilidades e que devo me somar nessa ocupação.
5 – O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar as LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?
Esses recursos têm aliviado e promovido sobrevivências em tempo de tantas restrições. Com a arte e a literatura não foi diferente, talvez até de forma mais intensa devido à especificidade do setor para criar, se expressar e manter ativa as diferentes manifestações artísticas.
6 – Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?
Acredito que não. Assim como o livro físico e o digital já experimentam uma convivência harmoniosa, penso que os encontros literários também vão existir nos dois formatos. A pandemia só acelerou algo que já estava em curso. Há potência nos dois. Imagine um encontro virtual com escritoras/escritores de diferentes lugares e podermos acompanhar ao vivo da nossa sala, e ainda termos também a opção de ir a um lançamento presencial com autoras/autores e comprarmos o livro autografado. Vão caminhar juntos.
7 – Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?
Ter-me dedicado a escrita literária mais cedo.
8 – Indique um livro que lhe inspirou.
Mulheres que correm com os lobos
9 – Quem é Graça Marques no reflexo do espelho?
Uma mulher negra em travessia que escolhe ser protagonista da sua história e da sua escrita.
10 – Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Para que público você escreve?
Escrevo preferencialmente sobre temas relacionados às questões de classe, gênero, raça e mais especificamente a situação da mulher negra na sociedade. Isso não quer dizer que escreva só para estes seguimentos. Escrevo para leitores que tenham interesse em temáticas sociais, empatia com a situação do outro, somado é claro, a quem gosta de poesia, contos e crônicas, e também, recentemente, para quem é fã dos micros contos, caminhos que tenho me aventurado.
Graça Marques, é escritora, educadora popular, mediadora de leitura e aprendiz de bordadeira. Publica em 2019 o livro Quando os olhos são livres nenhum conto é pequeno (Um passeio por cem pequenos contos que falam de lutas, sonhos e resistência no cotidiano). Ainda em 2019, é selecionada com duas crônicas para a antologia Negras Crônicas da editora Villardo de São Paulo. Uma escrita atrevida, poética e inspirada pela realidade e ancestralidade das mulheres negras.
Parabéns Graça , você nos representa.
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