sábado, 29 de maio de 2021

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... BETH BRAIT ALVIM

Agradecemos à autora BETH BRAIT ALVIM pela disponibilidade em responder ao nosso questionário


1 - Poesia, prosa ou conto, porquê?


Poesia, sobretudo. Porque sem o poema a garganta devora o coração, e a alma fica perdida no limbo sem nem um vulto da Flor Azul.


2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?


Deixo o poema me tomar a cada dia mais. Ressignifiquei com delicadeza meu embate com a minha obra, relaxei a auto-crítica, assumindo que o meu dizer poético importa. E é lindo e radical vivenciar que meus poemas importam e daí, meu amor pela humanidade também importa; não há poesia sem ele. Nada de concreto armado, nada literal ou tangível, nada messiânico ou engajado, tão somente a palavra poética e minha atitude poética, destinadas ao desregramento dos sentidos de Rimbaud, situada, se preciso, no que preconiza Octavio Paz. Do contrário, nada resta. Aprendi por necessidade a criar vídeos poemas sem condições, sem produção, sem edição, sem medo. Cresço (no sentido libertário e pleno) com o confronto que temos sofrido, e com o confronto comigo mesma.


3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos em tempos tão restritos?


Principalmente me articular com parceiras e parceiros artistas. Olhar o outro, somar, trocar. Criar junto. Impulsionar poetas. Em três meses escrevi três prefácios, todos de ex alunos; orientei publicações, fiz debates, saraus, orientei a potencialização poética de autores, graciosamente.

Isso é a minha atitude poética no mundo. Assim fico plena: fazer com e para o outro, ver poesia no mundo. E, quando sobra tempo, cuidar da minha escrita.

Por exemplo, estou iniciando a digitação de cerca de três livros prontos, datilografados, que estavam esquecidos há décadas. Iniciei também a escritura de cerca de 20 páginas para a revista Errância, da UNAM, a convite, da universidade que amo, por ser do México, de Octavio Paz, cujo país me é caro, e com quem mantenho estreitas relações, sobretudo com o Estado de Sonora e suas escritoras e escritores, há quase 15 anos. Recebi também um convite para escritura de um livro de contos de um especialista que admiro muito, e logo irei iniciar. Enfim, convites têm surgido regularmente, e isso eleva meu espírito, atenua minha falta de ar, mesmo tendo de diariamente efetivar projetos literários e teatrais muito lindos, mas mais tensos e submetidos às circunstâncias, visto terem como meta ampliar meus recursos financeiros.


4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.


Positivos: todos, sobretudo aceitação do que escrevo, embora restrita, como ocorre com a poesia e com a leitura no Brasil. Relação com pessoas, com o mundo e apoio para publicações, o que tem sido determinante. A opção pelo mercado editorial independente, fora do circuito de produção capitalista, que favorece o pacto, a empatia, o amor.

Negativos: digitar muitas e muitas páginas datilografadas e manuscritas guardadas por várias décadas. Lidar com prazos, burocracias, formatos fechados, ganância.


5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?


É mais ampla, aparentemente mais democrática, porém tendo consciência de que somos privilegiadas. Aproxima afetos e provoca manifestações altamente humanizantes. Espero que saibamos validar isto quando nos reunirmos de corpo e alma de novo.


6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?


Não acredito que o virtual vá sobrepujar os encontros. Todos os dias nós e poetas de nosso convívio manifestamos ardorosamente o desejo de nos vermos, nos tocarmos, brindarmos à vida e à poesia, “ao vivo”, com odores, suores e muita poesia.


7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?


Acreditar mais cedo na minha obra.


8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou


Os Passos em volta, Herberto Helder.


9 - Quem é Beth Brait Alvim no reflexo do espelho?


Vida.


10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?


O que é mais importante em sua vida?

Tudo. Cada segundo e cada milésimo de segundo, viva. 


Beth Brait Alvim, São Paulo, poeta, escritora, atriz, é mestre pela USP. Tem obras em mais de 30 publicações nacionais e internacionais, é curadora de prêmios literários, e poeta performer da Orquestra SPIO. Obras: Mitos e ritosCiranda dos tempos-espaços do desejoVisões do medoA febre e a mariposaA noite e o meio.

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