Agradecemos à autora BETH BRAIT ALVIM pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Poesia, prosa ou
conto, porquê?
Poesia, sobretudo. Porque
sem o poema a garganta devora o coração, e a alma fica perdida no
limbo sem nem um vulto da Flor Azul.
2 - Quase um ano de
pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?
Deixo o poema me tomar a
cada dia mais. Ressignifiquei com delicadeza meu embate com a minha obra,
relaxei a auto-crítica, assumindo que o meu dizer poético importa. E é lindo e
radical vivenciar que meus poemas importam e daí, meu amor pela humanidade também
importa; não há poesia sem ele. Nada de concreto armado, nada literal ou
tangível, nada messiânico ou engajado, tão somente a palavra poética e minha
atitude poética, destinadas ao desregramento dos sentidos de Rimbaud, situada,
se preciso, no que preconiza Octavio Paz. Do contrário, nada resta. Aprendi por
necessidade a criar vídeos poemas sem condições, sem produção, sem edição, sem
medo. Cresço (no sentido libertário e pleno) com o confronto que temos sofrido,
e com o confronto comigo mesma.
3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projectos
em tempos tão restritos?
Principalmente me
articular com parceiras e parceiros artistas. Olhar o outro, somar, trocar.
Criar junto. Impulsionar poetas. Em três meses escrevi três prefácios, todos de
ex alunos; orientei publicações, fiz debates, saraus, orientei a
potencialização poética de autores, graciosamente.
Isso é a minha atitude
poética no mundo. Assim fico plena: fazer com e para o outro, ver poesia no
mundo. E, quando sobra tempo, cuidar da minha escrita.
Por exemplo, estou
iniciando a digitação de cerca de três livros prontos, datilografados, que
estavam esquecidos há décadas. Iniciei também a escritura de cerca de 20
páginas para a revista Errância, da UNAM, a convite, da universidade que amo,
por ser do México, de Octavio Paz, cujo país me é caro, e com quem
mantenho estreitas relações, sobretudo com o Estado de Sonora e suas escritoras
e escritores, há quase 15 anos. Recebi também um convite para escritura de um livro de contos
de um especialista que admiro muito, e logo irei iniciar. Enfim, convites têm
surgido regularmente, e isso eleva meu espírito, atenua minha falta de ar,
mesmo tendo de diariamente efetivar projetos literários e teatrais muito
lindos, mas mais tensos e submetidos às circunstâncias, visto terem como meta ampliar
meus recursos financeiros.
4 - Pontos positivos e
negativos na sua trajetória na escrita.
Positivos: todos,
sobretudo aceitação do que escrevo, embora restrita, como ocorre com a poesia e
com a leitura no Brasil. Relação com pessoas, com o mundo e apoio para
publicações, o que tem sido determinante. A opção pelo mercado editorial
independente, fora do circuito de produção capitalista, que favorece o
pacto, a empatia, o amor.
Negativos: digitar muitas
e muitas páginas datilografadas e manuscritas guardadas por várias décadas.
Lidar com prazos, burocracias, formatos fechados, ganância.
5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a
utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?
É mais ampla,
aparentemente mais democrática, porém tendo consciência de que somos
privilegiadas. Aproxima afetos e provoca manifestações altamente humanizantes.
Espero que saibamos validar isto quando nos reunirmos de corpo e alma de novo.
6 - Acredita que o virtual, veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos
encontros literários presenciais, pós pandemia?
Não acredito que o
virtual vá sobrepujar os encontros. Todos os dias nós e poetas de nosso
convívio manifestamos ardorosamente o desejo de nos vermos, nos tocarmos,
brindarmos à vida e à poesia, “ao vivo”, com odores, suores e muita poesia.
7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?
Acreditar mais cedo na
minha obra.
8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou
Os Passos em volta,
Herberto Helder.
9 - Quem é Beth Brait
Alvim no reflexo do espelho?
Vida.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
O que é mais importante
em sua vida?
Tudo. Cada segundo e cada milésimo de segundo, viva.
Beth Brait Alvim, São
Paulo, poeta, escritora, atriz, é mestre pela USP. Tem obras em mais de 30
publicações nacionais e internacionais, é curadora de prêmios literários, e
poeta performer da Orquestra SPIO. Obras: Mitos e ritos, Ciranda
dos tempos-espaços do desejo, Visões do medo, A febre e
a mariposa, A noite e o meio.
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