Ao longo dos anos, muito tenho escrito sobre a
discrepância entre o que grande parte dos autores diz e aquilo que faz. Já por
diversas vezes escrevi sobre a tremenda falta de solidariedade que existe no
universo da escrita e senti, todas as vezes, estar a pregar no deserto.
Muitos interpretaram as minhas palavras como sendo um
desabafo de carácter pessoal resultante da minha experiência aquando das
apresentações que fiz fora do meu circulo natural, nomeadamente quando estive
duas vezes no Porto e uma em Braga. Essa interpretação não podia estar mais
errada.
Em todas as vezes que abordei este tema dei como
exemplos essas minhas experiências como forma ilustrativa da mensagem que
pretendia passar.
Desta vez darei como exemplo o que se passou neste
Sábado em Lisboa e que afectou sobremaneira a afluência de público no evento de
uma autora vinda do Porto.
Sinto-me completamente à vontade para o fazer pela
simples razão que, ao longo destes anos, cruzei-me apenas duas vezes com esta
autora em eventos sem que houvesse sequer troca de palavras.
Mais à vontade fico se disser que estive no evento
apesar do mau tempo e das limitações próprias de quem está desempregado há três
anos, sem direito a subsídios, e sem dinheiro para gastar em transportes.
Tenho perfeita consciência que podia ficar quieto no
meu canto e evitar voltar a passar a imagem de enfant terrible, irreverente,
desbocado e má-língua, no entanto, valores maiores se levantaram quando quase
no final do evento ouvi algumas das coisas que foram ditas à autora e que,
perante a inocência que lhe reconheço, a levarão certamente a pensar que a
escassa afluência de público se deveu a uma sobreposição infeliz de eventos e a
escolhas óbvias que as pessoas fizeram na hora de escolher ir a outro em
detrimento deste evento.
Não tenho problema algum em dizer que nada disto foi
ao acaso porque já assisti a situações semelhantes e afirmo com todas as letras
que, em parte, foi propositado.
A sobreposição de eventos é a coisa mais natural neste
universo da escrita porquanto existem inúmeras editoras e autores com
lançamentos e apresentações e, convenhamos, é completamente impossível conjugar
tudo sem que as sobreposições aconteçam.
O que já não é tão natural, mas norma, é assistir-se
ao prolongamento propositado de eventos para que as pessoas não tenham tempo de
sair de um e marcar presença noutro, logo de seguida. O que não é natural, mas
norma, é fazer de tudo para agradar a autores enquanto eles dão retorno e
tentar prejudicá-los quando deixam de o fazer.
Mas se o que escrevi anteriormente não chegar para
fazer prova de como foi propositada a fraca afluência, posso sempre usar como
argumento o facto de, neste caso, estarmos a falar de eventos que começaram com
duas horas de diferença e três quilómetros de distância. Mais, alguns dos que
marcaram presença estiveram num outro evento que começou com as mesmas duas
horas de diferença mas tiveram de atravessar a ponte e a cidade inteira (15
kms) para acompanhar e prestigiar esta autora.
Como disse anteriormente, cruzei-me apenas duas vezes
com esta autora em eventos e nunca interagimos mas há coisas que não esqueço, e
uma dessas foi a sua presença num evento, realizado no IPO do Porto, sem que
conhecesse o autor da obra, para além das redes sociais. O autor em causa é da
zona de Lisboa mas isso não a impediu de aparecer. E da mesma forma que o fez
nessa altura, também eu quis agora homenageá-la, com a minha presença, no seu
evento realizado fora do seu circulo natural. E como me soube bem aquele:
"eu conheço esta cara mas não sei de onde" e após reconhecimento:
"não esperava a tua presença".
No final do evento e porque tinha que ANDAR duas horas
de regresso a casa, furei a fila dos autógrafos para me despedir da autora e
desejar felicidades mas apenas fui capaz de lhe dizer: "Já conhecia a tua
inocência. Mais tarde entenderás o que quero dizer".
E aquilo que quero dizer é que a fraca afluência não se deveu à sobreposição de eventos. Simplesmente, uns não quiseram aparecer e outros
fizeram tudo para que mais gente não aparecesse. É assim, de hipocrisia, que se
constrói a solidariedade entre autores.
MANU DIXIT
Como te compreendo!
ResponderEliminarContinua a ser a pessoa recta e solidária que és.
Grato pela visita.
EliminarPois...
ResponderEliminar..o costume, portanto...
:)
Tudo na mesma como a lesma, infelizmente.
EliminarPelo menos desta vez já não podem dizer "lá está o gajo das barracas a lamuriar-se e a mal-dizer a sua sina", infelizmente.
Eu já nem digo nada, só me silencio e rio. Falar para quê... se bem que esqueces alguns pormenores, como os que são mal amados! Os completamente ignorados e a inveja absurda, mais a estupidez gritante que neste meio leva as pessoas a denegrir o próximo umas vezes para o tirar do "caminho" outras, porque sim, sem mesmo fazerem ideia do que as pessoas são. Neste meio está tudo cada vez mais podre. Por isso prefiro o meu canto, cada vez mais! Há muita conversa, mas verdade nas intenções e nas palavras... nenhuma? Há alguém que se levante e defenda o outro? Não! É melhor abster-se e ficar mais visto do lado do que é conveniente. Enfim... e quanto às editoras? Pois! Nunca percebo porque a promoção de uns é diferente para os outros e como certos livros e autores têm visibilidade e outros são autores sombra, fantasmas. Mas, no entanto escrevem. Vivem! Produzem, mas lá está, não dão show, não engrossam a turba, não vão com a manada! Desculpa lá a minha opinião. Já sabes o que a casa gasta, da parte de alguém cujos "colegas" têm sempre outros eventos sobrepostos, algum inconveniente à última da hora (quando antes se comprometeram a que estariam presentes nas minhas apresentações) ou então ouvir esfregarem-me na cara que para ter pessoas nas minhas apresentações tenho de dar contrapartida. Afinal é assim que funciona? EStá tanta, tanta coisa podre! Tanta! Um abraço!
ResponderEliminarMaria Fátima Soares
Há sempre muito mais para dizer...
EliminarGrato pela visita e testemunho.
Beijos.