sábado, 26 de novembro de 2016

EU FALO DE... RIMA FORÇADA


Independentemente das temáticas, existe uma questão que é, quase sempre, aflorada nas tertúlias, ou em conversas sobre poesia, e exemplo perfeito para abordar uma tese que defendo há algum tempo.

Quando se fala da rima na poesia, muitos autores, para justificar a sua não utilização, dizem não ter paciência para escrever com rimas e que a maioria, daqueles que as usam, só faz rima forçada. Mas depois, para consubstanciar essa opinião, dizem que são usadas sempre as mesmas, como por exemplo: amor/dor, paixão/coração, carinho/caminho, lua/tua/nua, etc.

Se, por um lado, concordo que muitos escrevem versos de forma forçada, por outro, discordo nos exemplos que são dados porquanto a rima forçada tem muito pouca relação com as combinações utilizadas. Aquilo que provoca a rima forçada é o caminho que se faz para chegar à rima. Por essa razão é que existe uma ligação muito forte entre a rima e a métrica. Escrever com esses dois elementos é meio caminho andado para se escrever rimas não forçadas (vejam-se os sonetos de Florbela e Bocage). No entanto, também é possível rimar de forma natural sem utilizar a métrica (atente-se em Torga).

Quando digo "caminho que se faz para chegar à rima" estou a falar das enormes assimetrias que se criam entre os versos de um poema para que a rima possa aparecer. Muitas vezes lêem-se poemas mesclados com versos curtos e longos e logo se percebe que isso se deve à tentativa de usar uma determinada rima. A rima não é forçada por si mesma mas por tudo o que a antecede.

Usar o argumento das "mesmas combinações" é errado. Quanto muito, a utilização sistemática das mesmas combinações é uma falta de originalidade.

E, cá entre nós que ninguém nos ouve, acho que, quem usa o argumento da falta de paciência para escrever poemas rimados, está apenas a ocultar o facto de não saber escrever rimas sem que elas saiam forçadas.

MANU DIXIT

2 comentários:

Toca a falar disso