Uma das características humanas mais marcantes e
vulgares nos dias de hoje é o extremismo. Estamos a viver um tempo em que
deixou-se de praticar a moderação e desapareceu a capacidade de compreender e
aceitar visões distintas.
Neste contexto, não será estranho que também se
assista nas artes à proliferação de opiniões radicais defendidas com base na
famosa frase "Bushiana": «Ou estão comigo, ou estão contra mim».
Ultimamente, tenho assistido a um aumento considerável
de textos em que se advoga que a poesia já não se compadece com rimas, métricas
e algumas temáticas. Esses textos, por si só, não encerram mais relevância que
aquela que deve ser dada a uma opinião, seja ela qual for. O que choca é ver
alguns desses eruditos modernos vomitar postas de pescada, de forma ofensiva e
pouco construtiva (ao contrário do que sustentam), em comentários que fazem aos
poemas de terceiros.
A falta de competências académicas impede-me de
escrever teses ou tratados, com fundamentos claros e precisos, que desmontem o
radicalismo dessas opiniões, no entanto, a capacidade de pensar pela minha
cabeça, permite-me colocar, à consideração de todos, alguns argumentos óbvios
que justificam as razões pelas quais esses opinadores caem no ridículo.
Em primeiro lugar, dizer que um poema rimado, com
métrica e que aborde, por exemplo, a temática do amor (tão querida dos poetas),
já não é poesia é cair na suprema asneira de considerar que Camões, Bocage,
Florbela, Torga, entre outros, deixaram de ser poetas. Isso é ridículo. Dizer
que rima, métrica e algumas temáticas já não fazem parte da poesia é negar que
grande parte do acervo de Pessoa seja poesia. Isso é ridículo.
Em segundo lugar, considerar que os derivados do
romantismo, nascido no século XIX, são os únicos e verdadeiros poetas é negar a
importância de todos os outros movimentos artísticos que ajudaram a consolidar
a grandeza da poesia e a fazer que a mesma tenha uma história rica, pela
influência que tiveram nas tremendas modificações que as sociedades sofreram ao
longo dos séculos. Isso é ridículo.
Alardear que a única e verdadeira via é a corrente
romântica é contradizer as bases fundadoras do próprio romantismo. E isso, para
além de ridículo, é uma demonstração de incoerência.
Mas mais ridícula é a forma extremista com que estes
eruditos da modernidade passam a sua mensagem. Ao invés de se limitarem a
tornar públicas as suas opiniões e, através delas, angariarem para a sua causa
os outros autores, estes senhores da única e verdadeira via, andam activamente
a espalhar ofensas e a denegrir tudo o que não estiver dentro dos parâmetros
das suas teses radicais, com o argumento que o fazem de forma construtiva e em
nome da grandeza e elevação da arte poética.
A grandeza da arte poética eleva-se com base na tolerância
e respeito pela diferença. A grandeza da arte poética eleva-se com a capacidade
multifacetada dos agentes criadores e das suas criações. A grandeza da arte
poética eleva-se no momento em que cada autor tem a liberdade de escolher a via
que pretende, os passos que quer dar no seu percurso e a forma que acha mais
adequada para fazer passar a sua mensagem.
Por último e porque acredito piamente neste argumento,
a poesia não é privilégio nem propriedade de alguns eruditos. A poesia é de
todos.
MANU DIXIT
Esses radicais, por norma, são as unicas pessoas a quem colo rotulos! Marco-os com um "estúpido" e sigo em frente!
ResponderEliminarAs palavras não pertencem a ninguém. As correntes literarias aparecem e desaparecem, as palavras e as ideias ficam. E o que interessa é a relevância das palavras para quem as escreveu, sejam prosa, poesia ou outra coisa qualquer, e a relevância que podem ter para quem as leia. o resto, como diriam os Americanos, é "bullshit"!
:)
Nem mais!
EliminarGrato por mais uma visita comentada.
Abraço.