sexta-feira, 10 de março de 2023

A cruz haitiana (excerto 20) - IARA LEMOS

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Sendo religiosas de posicionamentos, como Santina conclui posteriormente, mais flexíveis, as brasileiras do Imaculado Coração de Maria tiveram de aprender que, num país como o Haiti, até mesmo determinadas regras impostas pela Igreja Católica precisam de passar por um processo de adaptação, sob pena de ficarem obsoletas e jamais serem assimiladas pela sociedade que queriam e precisavam de atingir. Nem mesmo os tradicionais hábitos, roupas caraterísticas das diferentes congregações, eram usados pelas brasileiras em solo haitiano. As freiras da Congregação Imaculado Coração de Maria primavam pelo uso da saia, mas sabiam que essa vestimenta não poderia ser usada em algumas ocasiões, e as calças eram grandes aliadas na hora de caminhar longas distâncias em busca das comunidades. O único momento em que a saia se tornava indispensável era na hora da missa, que, não raras vezes, chegava a ultrapassar cinco horas de duração, especialmente em dias festivos, como as que são celebradas na Sexta-Feira Santa e que pude acompanhar.
Para participar das celebrações, tanto as religiosas quanto as demais mulheres da comunidade precisam de vestir saia, ou vestido, com parte dos braços cobertos, sob pena de não receberem a hóstia das mãos do padre ou do bispo que estiver conduzindo a celebração. Uma punição dolorosa para quem segue as regras do catolicismo e que acredita que comungar é um caminho para chegar até o céu. Por via das dúvidas, em todas as missas que acompanhei no Haiti, sempre estive com um casaco a cobrir os braços. Em locais tão controversos como o Haiti, também chamado carinhosamente de “Pérola das Antilhas”, era melhor não descumprir orientações dos anfitriões.

EM - A CRUZ HAITIANA - IARA LEMOS - IN-FINITA

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