LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Eulália era moça direita, rezadeira. Fazia novena a Santo Antônio, puxava terço nas festas dos três santos, rezava ladainha no mês de maio e via-sacra na quaresma, ia em romarias a Aparecida. Passava dos quarenta anos. Sua falta de formosura era remediada pelo seu zelo com as coisas da casa, do trabalho e da igreja. Não perdia festas: bailes, quadrilhas, barraquinhas. Quase sempre, dizem, tomava chá-de-cadeira.
Certa vez, como todas as moças casadouras da cidade, passou o dia inteiro se preparando para o “Baile da Primavera”, na época, a festa mais concorrida. Emperiquitou-se toda. Chegou a dizer às amigas que, naquele baile, arranjaria um par. Nem que fosse o diabo.
Foi realmente um grande baile. Uma orquestra de sucesso, “Cassino de Sevilha”, tocava os famosos boleros da época. O salão permaneceu, tempo todo, cheio de casais dançando com animação. Muitos rapazes das redondezas participavam da festa. Meio a tantos desconhecidos, surgiu um galã alto, moreno, olhos verdes. (Disseram ser parecido com o Robert Taylor, ator famoso, dos mais belos.) Dissimuladas, as moças caminhavam por perto do bonitão, falavam mais alto no intento de serem notadas e então, convidadas a uma dança. O que não imaginavam era que a escolhida fosse a Eulália. A própria. Aquela que, em toda festa, quase nunca arranjava sequer um par. Reboliço no salão:
− A Eulália? Como é que pode? O “Robert Taylor” a dançar com a Eulália? Com a Eulália! Não é possível!
EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA
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