quarta-feira, 16 de março de 2022

Yin-Yang (excerto) - FÁTIMA D'OLIVEIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Mas sem provas ou testemunhas, a coisa ficou por ali e Ana Lis ficou assim: com a sua certeza. E sem a sua caneta.
Mas quem é que aquela cachopa, a Ana Lis, pensava que era?... Acusá-lo a ele – logo a ele, Dinis Maria Teixeira Mourato da Cunha – de roubo! Ainda por cima, duma caneta: uma mísera caneta. A simples noção desse roubo era indigna dele: rebaixava-o. E a isso, ele recusava-se. Terminantemente. Se bem que, a bem da verdade, ela não o tinha propriamente acusado de roubo: pelo menos, não com essas palavras. Mas tinha-o insinuado. E só esse simples facto parecia a Dinis um enorme atrevimento.
Ainda por cima, a tal caneta nem sequer o era, na verdadeira aceção da palavra: tratava-se, sim, de uma mera esferográfica. E de uma marca “rosc-fosc” patente qualquer, ainda por cima – se fosse uma Montblanc, ainda vá que não vá, agora de uma marca qualquer que não interessava nem ao Menino Jesus…
Mas verdade seja dita e aí Dinis tinha que dar a mão à palmatória, ele até que se tinha a modos que posto a jeito: tinham sido as suas ações que tinham conduzido Ana Lis às suas conclusões e convicções: se não fosse a sua constante e persistente– atrever-se-ia a dizê-lo? – bajulação à caneta – aliás, que se fosse com calma: caneta, não: esferográfica, se faz favor. Então, impunha-se dizer as coisas como elas eram e chamá-las pelos respetivos nomes! – dela, aí se calhar já outro galo cantaria e provavelmente a ideia de Ana Lis já seria outra… Mas Dinis não o fazia por mal: ele realmente achava piada à esferográfica de Ana Lis. Então, elogiava-a. Constantemente, até demasiado, ele agora era forçado a concluir.

EM - ECOS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA 

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