segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

24 de Setembro de 1995 (excerto) - FRANCIS RAPOSO FERREIRA

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Meu querido Diário, antes de começar a contar-te o que tem sido a minha vida até hoje, quero pedir-te desculpa por só agora, precisamente no dia em que completo vinte e cinco anos de idade e um de casada, recorrer a ti para registar tudo quanto tenho vivido. Quero também dizer-te que já tiveste um irmão mais novo, o qual acabou por não resistir a um ataque de ciúmes de minha mãe, porque eu, pensando que mais ninguém além de mim, o leria, lhe falei do meu amor e admiração por meu pai, sem sequer tocar no nome dela. Assim sendo, se alguma vez, me sentires ausente, não estranhes, é somente porque não quero correr o risco de também te perder precocemente.
Amigo, estou a olhar para ti e tenho a certeza que deves estar a pensar, mas o que é que esta está aqui a fazer? Porque não vai ela festejar os seus vinte e cinco anos e o 1º aniversário do seu casamento?
Antes de te começar a falar de mim e do meu passado, sei que até pareço uma velha a falar, deixa-me responder a essas tuas duas questões pertinentes. Estou aqui a falar contigo, em vez de estar a festejar tais datas, precisamente porque há nada mais, nada menos de um ano, deixei de ter vida própria, se é realmente verdade que alguma vez a tive. É verdade, com o passar dos anos, convenci-me que toda a minha vida, não passou de uma mentira quase total, e só não digo total, porque da parte de meu pai, sempre senti que me era mostrada a verdade. É isso mesmo, vivi toda a minha infância e adolescência metida numa redoma de falsa felicidade e liberdade. Aliás, hoje, já nem sequer sei se vivo ou apenas sou um holograma de mim mesma.

EM - DIÁRIO DE MEL - FRANCIS RAPOSO FERREIRA - IN-FINITA

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