segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Todas elas estão em mim - RENATA MELO

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Minhas lutas, especialmente as internas, sempre foram travadas com o objetivo de entender quem sou eu, o que faria da vida, que legado deixaria ao final e, principalmente, quais seriam as minhas realizações nesse percurso. O que, de fato, me faria achar um significado em existir e ser feliz...
Desde cedo me senti muito ligada à história dos que me antecederam na família, como se deu esse enredo até o meu nascimento. Talvez, por interessar-me tanto por isso, ao descobrir como foi, trouxe para mim a responsabilidade de dar continuidade a ela.
De tudo que ouvi, a vida das minhas antepassadas era o que mais me chamava a atenção. Embora os homens também estivessem lá, eles nunca foram o meu grande foco de observação. Desde pequena, eu conseguia perceber a importância delas em tudo que era contado por minhas avós. Ah, como eu adorava (e ainda adoro) ouvi-las!
Minha árvore genealógica é repleta de mulheres fortes e com experiências densas. Mulheres à frente do seu tempo e de muita complexidade. Imigrantes vindas da Itália em viagens que duraram mais de 30 dias com filhos no ventre e outros a tiracolo. Mulheres que trabalharam incansavelmente para prover uma estrutura mínima para suas famílias. Mulheres que protagonizaram suas jornadas.
Certamente, com o tempo e em minha formação, essas experiências foram compondo o que me tornei. Inconscientemente, busquei por caminhos em que eu igualmente pudesse protagonizar a minha jornada, não “dependendo de ninguém” e fazendo a diferença no mundo, de alguma forma.
Sempre tive apoio dos meus pais e com isso dediquei rapidamente minha vida à construção da minha jornada profissional. Em algum momento, percebi que esse era o caminho inverso ao de todas as histórias que ouvia, nas quais as mulheres ficavam nas casas, cuidando dos filhos enquanto os maridos trabalhavam fora.
Embora esse fosse o enredo, não era bem verdade que as mulheres não trabalhavam além da rotina do lar. Além da casa e filhos, elas cuidavam das fazendas, costuravam para a família toda e para a casa, gerenciavam a rotina das pessoas e coordenavam toda a dinâmica familiar estabelecida. Elas eram as grandes líderes daquele contexto todo.
É como as vejo agora, foi como as vi desde o início. E se elas conseguiram, tendo uma rotina densa de família em paralelo, imagina o que eu poderia conseguir, se pudesse focar apenas na minha carreira profissional? Tornei-me o que criei em meu imaginário. Trabalhei duro e por anos, sem qualquer zelo e cuidado com minha feminilidade e intuições. Venci ambientes bastante machistas e masculinos e com minha dedicação e trabalho, conquistei meu espaço.
Até que, inevitavelmente, me percebi distante do que me motivou a buscar o meu feminino. Faltava algo. Eu tinha minha total independência, havia experimentado e provado minha força como mulher, mas, para quê? E para quem eu contaria sobre tudo isso? Quem teria orgulho da minha história, como eu tenho das mulheres que me antecederam e me fizeram ser quem sou?
Quando me vi nessa rota, me aproximei do que de fato me encantava em minhas ancestrais: a capacidade incrível que todas elas tinham de consolidar uma vida de suporte prático ao lar, mas sem jamais renunciarem à maior de todas suas forças, a do feminino.
Esse reencontro foi doce. Existiram (e existirão ainda) dias bastante amargos, é verdade. Todavia, até esse momento, ter tido essa percepção me conectou ainda mais a elas.
Edifico minha família e sigo trabalhando intensamente no mundo corporativo, buscando sempre trazer quem realmente sou para cada minuto do meu dia, em qualquer um desses ambientes. Eu me olho no espelho e reconheço meus traços e de onde cada um deles provêm. Tenho orgulho. Acolho-me. Acaricio minhas cicatrizes e marcas. Eu me busco nelas.
E, por meio da gratidão e compreensão, honro aos longos dias de navegação em alto mar das minhas ancestrais, aos 24 partos das minhas bisavós, entre vitórias e perdas. Aos assédios, choros e frustrações que sofreram. À luta solitária de minha avó materna para criar seus três filhos, viúva, e em seu luto sustentá-los através de uma vida passada na máquina de costura dia e noite. Da sabedoria da minha avó paterna, em cultivar seu amor-próprio e desbravar o mundo lançando-se ao trabalho fora do lar, destemida em recomeços e sempre em busca da sua própria felicidade. E, finalmente, honro minha mãe. Pela sua doação constante para cuidar de todos, garantir a segurança e a união da nossa família, renunciando, muitas vezes, ao seu próprio desejar.
A elas, dedico minha luta diária de não me esquecer de quem sou e de como cheguei aqui; de manter a minha fé e ser feliz.

EM - UNIVERSO FEMININO - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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