domingo, 21 de novembro de 2021

Ovo da serpente - VALÉRIA VICTORINO VALLE

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

O bifrontismo serpeia o universo cartesiano e o imaginário do cotidiano.
E o homem é a serpente do próprio homem nesse veneno antagônico de Ser.
No contorcer das dualidades de sobrevivência em ambientes inóspitos e hostis, na caça absurda do mundo real às avessas, nessa obra que extirpa o codificado, nesse poema que destrói o vigiado, ondeiam agora a perplexidade e a estranheza.
Move-se a serpente no expelir do ovo e esse, incubado em insólitas membranas, serpenteia a angústia interior e cobreja a caixa de Pandora da realidade.
Diante desse perpétuo e irrequieto espetáculo de poder, ziguezagueia a lógica da anarquia e a força da astúcia a imaginar a quarentena, contagiante e persistente, dessa Serpente no mundo:
A rastejante-tinhosa escapa da cabeça da Medusa,
O demônio-coxo domina o espectro dos mitos, a Hidra transmutada vence os Titãs do Olimpo, e
pactua o jogo da verossimilhança instituída nesse ovo transfigurado.
O extraordinário inimaginável e dicotômico meandra o racional:
A presença da víbora no lugar de Gregor na Metamorfose Kafkaniana,
O bicho-preto serpenteia na cegueira branca de Saramago,
O rubro ofídio enrodilhado usurpa o trono de Aslam em Nárnia,
A cobra devoradora da Uiara em Macunaíma invade a Ursa Maior,
O negro feitiço de Évora que adentra a Casa Verde do Alienista,
A serpente sinuosa faz a ecdise e protege Brutus a ser morto na casca,
O devorar e o digerir de Teleco, o Coelhinho, no fantástico dos dias...
Esse ovo chocado de ambiguidades, paradoxos e maniqueísmos,
alimenta-se da aparição das incertezas e dos medos impostos pelo falo do poder.
A ignorância gestada na manipulação e na perspicácia dos fortes determina o clichê paradigmático e algorítmico no qual eclode o eterno vencedor e se esmaga o vencido para sempre.
A serpente choca seu ovo que rompe e encontra eco nesse poder tirânico agravador das enfermidades humanas: a intolerância, a falsidade, a corrupção e a difusão do ódio.
Contudo, ainda é tempo para o imprevisível e o imponderável, a renovação e regeneração também circulam o ovo.
Uma ascensão insólita cobreia a Serpente de cada dia, entre o mistério da hesitação e o mister da alteridade, nasce o Ouroboros, o círculo da vida, em busca do resgate do axioma fundamental do cosmos do respeito, pois essa serpente ainda pode enlaçar a dignidade e a integridade do Outro.
Afinal o doce riacho serpenteia o negrume das duras pedras...

EM - MULHERES A UMA SÓ VOZ - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário

Toca a falar disso