quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Peixes franceses - TEREZINHA MALAQUIAS

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Voltei da rua com muita vontade de ir ao banheiro. Detesto ter que segurar para fazer o xixi. Antes de entrar no meu apartamento, vi os sapatos de pés pequenos da minha vizinha de andar, a simpática Rosa. Ela tem essa mania e, para sinalizar que está em casa, deixa seus sapatinhos do lado de fora sobre o tapete.
Saí do banheiro depois de lavar minhas mãos durante trinta segundos e fui tocar a campainha dela. Ela abriu a porta com um grande sorriso e me fez entrar. Nem queria que eu tirasse os meus sapatos de pés grandes. Desdobei-a, e tirei-os. Afinal por aqui é costume tirá-los em casa.
Rosa me levou para a cozinha que tem cor bege, bem clássica e diferente da minha que é bordô e tem piso azul-claro. Era esse o desejo do meu marido e meu, quando reformamos o apartamento para que ele se tornasse o nosso Lar.
Ela abriu a geladeira, precisamente o congelador e retirou dois peixes. O namorado alemão que pesca por passatempo, trouxe os peixes mas, ela não tinha nenhuma vontade de cozinhá-los. Eles já estavam limpos, inclusive sem escamas. Confesso que eu também tentei recusá-los sem conseguir, tamanha insistência da minha acolhedora e simpática vizinha.
Meu marido que tinha ido viajar para visitar a irmã no Norte da Alemanha, quando me telefonou a noite, ouviu de mim, que eu tinha ido pescar. Claro que ele não acreditou em mim. Então confessei sorrindo que estava brincando e que os pescados eram mimos que ganhamos da Rosa. E que os peixes eram bem viajados. Foram pescados na França e chegaram aqui na Alemanha, através de uma mulher russa que os recebeu do namorado alemão e regalou-os a nós.
Enfim, três pessoas envolvidas, dois peixes e quatro nacionalidades. Quer encontro/acontecimento mais globalizado do que esse!? Não, não tem!
No dia seguinte meu marido voltou de viagem e eu fiz os peixes. Foi um para o Gerhard e outro para mim. O jantar ficou bem esmerado. Fiz uma salada bastante verde que acompanhou o costumeiro arroz integral e os peixes que assei no forno. Comemos com a delicadeza precisa de quem faz amor. Oferecemos um carinho em forma de comida para nossas bocas famintas.
Esse foi realmente um encontro inabitual. Uma russa, uma brasileira, um alemão e peixes franceses que se encontraram em terras germânicas, não acontece todos os dias.

 EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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