quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Revoada - DECA LOURENÇO

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As maritacas em revoada assumem o barulho das manhãs encontrando pouso no galho de árvore da praça malcuidada, que apesar do homem resiste. Em seguida vem os periquitos, com sua plumagem verde vibrante, como as matas de Oxóssi pra lembrar que é tempo de contemplação e de dar graças à Criação de Oxalá.
E eu me rendo.
Ao céu azul, livre da fumaça cinzenta,
Ao calor da manhã morna que aquece o corpo,
Ao silêncio incerto que se instalou,
Ao aperto no coração que vem e vai muitas vezes ao dia, como as ondas do mar de Yemanjá.
Ao curar da dor de parir e perceber o florescer guiado pelas mãos amorosas de Oxum.
Com os pés plantados no chão sentido a quentura do Sol na cara e o vento, a desarrumar os pensamentos, Yansã manda avisar que a tormenta vai passar.
E eu aprendo
A plantar boas sementes com fé porque vão germinar,
A reaprender o caminho do amor porque sou uma Yabá,
A ser corajosa porque Ogum, com sua energia e força me obriga a não desistir e a caminhar,
A acreditar na vida e brigar por justiça, porque Xangô, Rei de Oyó, com seu machado, não dorme!
E eu agradeço
Aos anos de aprendizado que me trazem calmaria nos momentos de aflição,
Aos caminhos que estão sendo abertos por Exu, o Guardião,
À vida que não acabou
À ancestralidade que me salvou
A essa corrente potente, de elos fortes, que não deixa ninguém afundar.
No céu, as maritacas, outra vez em revoada fazem escândalo celebrando mais um dia que passou.
E eu me recolho

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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