quarta-feira, 8 de setembro de 2021

E lá fora está a chover - HELENA SOARES SILVA

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Idealizei-te nas letras de duas ou três canções, velhos vinis riscados dos excessos.
O caminho que desejaria ter escolhido... esbarrou numa encruzilhada.
As letras, arranharam as cordas vocais e as famosas borboletas... Nem chegaram a se libertar de receios. (A vontade de escutar as pausas inexistentes, escapou-se no que poderia restar do sentir.)
Insensata ilusão revolvendo a apatia e, o pensamento impregnou-se de musas e charmes na escuridão. Nos voos de pássaros noturnos... Quais mensageiros de virtudes genuínas.
Idealizei-te num dia esquecido e cinzento, luminoso para a razão... perdida, por momentos, nas conversas atiradas ao ocaso de um rio pleno de fábulas. (Caprichos numa secreta clausura, adocicados cânticos de Ligeia.)
Da razão perdida na noite entre fantasmas e desejos apenas um simples pensamento...
Simplório pensamento... Estar.
No lugar onde não existe um espaço, nenhum local onde esconder o sorriso esquecido no meio de um parque diversões desfolhadas.
(Um barco de velas meio hasteadas que o vento não faz deslizar rumo ao novo mundo. Rotas imaculadas dos perfumes salgados de travessias inconstantes.)
Estar...
À beira de um jogo de palavras rascunhadas na folhagem outonal, no parco gargalhar de mãos no corrimão humedecido. E as águas iluminadas num gracejo pertinente.
Simplório pensamento... Estar...
Nas versões de versões de prosas antigas, pinceladas nas paredes de uma estação que o tempo esborratou e o mundo, esse, rasurou. Uma Borracha roçando a tinta gasta, apagando o lastro deixado, as inconstâncias.
E o estar... Enregelado num banco, indiferente. Guardando imagens descritas nos sopros frios, espalhando as letras, prosas absurdas de um qualquer prosador enfadado...
(Dedilham as goteiras um som mágico purgando sonhos indesejados.)
Simplório pensamento... Estar...
Nas reticências de um deambular nos degraus desnivelados, que uma corrente de água numa berma do passeio embala, um origami colorido para a foz de um átrio sedutor.
Estar...
Num biplano de madeira, lançado por um desejo juvenil que, a leveza de um dente de leão pairando no crepúsculo rasga. Os gestos e os atos estudados nas longas e melancólicas travessias, dissabores mergulhados no espumar intolerante das correntes.
Estar...
Na poética dos laureados, em cada sílaba lamentada e recitada com a suavidade de uma balada ao adormecer.
(Raios de sol sacodem a noite sorrindo.)
Simplório pensamento... Estar...
No barco que o nome dos esquecidos relembra. As danças inimagináveis em sílicas doiradas e a aragem soprando ocultos desejos. Despojos arremessados num traçado de um veleiro anónimo.
Simplório pensamento...
E lá fora está a chover.

 EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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