Agradecemos ao autor DANIEL BRAGA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - O que entrega de si, enquanto pessoa, na hora de escrever?
Escrever é uma necessidade e uma das formas de expressão e comunicação fundamentais, ate pela profissão que exerço. Um olhar crítico ao que se passa ao meu redor, numa viagem aos recônditos dos meus estados d’alma, alento necessário para o meu equilíbrio enquanto pessoa preocupada e atenta perante as evoluções e convulsões constantes e dinâmicas com que o Mundo se debate. A escrita acaba por ser algo de natural, não se podendo dissociar nunca da profissão que exerço com enorme carinho, crença, determinação e ajuda.
2 - Criar textos é uma necessidade ou um passatempo?
Como já referi uma necessidade premente de comunicar e extravasar sentimentos e estados d’alma. Escrevendo em poesia ou em prosa literária, o que importa são as mensagens que lhe são inerentes e que se querem transmitir. Algo que é elaborado com sentimento, com devoção e com enorme consideração por quem lê. Há essa necessidade. A da transparência e clareza com que se comunica e se passa a mensagem. Importante o conteúdo e a não inocuidade do mesmo. Por respeito ao leitor. Acima de tudo escrevo porque gosto e tenho prazer de escrever. Porque também gosto de me colocar na pele de leitor que também sou. Daí a importância das mensagens que se querem passar.
3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado linguístico?
Na poesia a espontaneidade é importantíssima, mas o rigor e o cuidado linguístico também. Escrever e dizer o que me vai na alma acaba por ser a matriz de referência que me guia e o cuidado com que procuro escrever demonstra muito do respeito que tenho pela minha língua. Escrever sim, mas com coerência, ponderação e rigor. Para que não se passe uma ideia errada daquilo que não sou. E passa muito, pelo respeito que o leitor me merece. Muitos escrevemos poesia e prosa, mas muitos mais são leitores e fãs do que transmitimos. Podemos gostar ou não gostar o que lemos, mas devemos sempre ter a noção que quem escreve procura fazê-lo com amor, sentimento e respeito por quem o lê. E essa matriz orientadora também a tenho e não abdico dela. Não escrevo por escrever, mas porque me faz sentido, procurando sempre apelar ao meu sentido crítico e criativo do momento.
4 - Em que género literário se sente mais confortável e porquê?
Dedico-me à poesia e à prosa, não propriamente histórias e contos ou romances, mas pequenas histórias que vou vivendo no meu quotidiano. O género literário é-me indiferente, desde que me sinta bem com o que escrevo. Liberto-me de estereótipos e dou asas ao meu imaginário criativo. Apelo à minha sensibilidade, ao meu direito ao sonho pois são as palavras que dão sentido à vida. A simplicidade de alguém que procura descrever sentimentos e sensações. Um dia, quem sabe, um livro de crónicas, um romance ou um livro de poesias. Mas, por enquanto sinto-me bem a fazer o que estou a fazer, sem ter a necessidade de passar à fase seguinte.
5 - Que mensagens existem naquilo que escreve?
A forma de escrever é individualista e cada um procura transmitir um estilo próprio e característico. Eu procuro descrever os meus estados d’alma, os meus anseios e as minhas formas de estar. Na poesia e na prosa sou como sou. Falo de sentimentos, de amor e abordo temas inerentes à cidadania e liberdade, temas matriciais que muito prezo e valorizo. Não espero concordância com tudo o que procuro transmitir, nem é isso que pretendo. Mas exijo o direito a ter liberdade de pensamento de escrever o que acho pertinente e se adequa à minha forma de ser e de estar. As críticas serão sempre bem-vindas, desde que como formas construtivas de troca de conhecimento, novos olhares e novas perspetivas. Mensagens e estados d’alma que definem e falam do amor, da liberdade de “ser livre”, dos meus sentires, das minhas causas solidárias e da saudade.
6 - Quais as suas referências literárias?
Essencialmente autores de referência da escrita na área da lusofonia, consagrados ou não. Luís Cardoso de Noronha, Mia Couto, Ondjaki, Pepetela são alguns desses exemplos. E permitam-me salientar aqui nomes de pessoas e escritores com que me identifico como Luís Cardoso (tenho quase todas as suas obras), Helena Soares da Silva (que também acompanho com assiduidade e por quem nutro especial admiração) e Fernando Correia outro enorme amigo e poeta. Mas também tenho alguns eixos referenciais dos tempos de escola e da vida adulta como Fernando Namora, Fernando Pessoa. Eça de Queirós, José Cardoso Pires, Alexandre O’Neill e Luís Sttau Monteiro. Não poderia também faltar José Saramago. Na contemporaneidade, José Luís Peixoto, Valter Hugo Mãe e António Lobo Antunes são presença assídua e obrigatória. De todos eles já li pelo menos uma das suas obras.
7 - O que acredita ser essencial na divulgação de obras e autores?
Acima de tudo as mensagens que se procuram transmitir. A clareza e o modo como se quer transmitir a mensagem. É a chave para agarrar o leitor à escrita e à leitura, de uma forma apaixonada, prendendo-o ao livro. Colocar-se na pele do autor, sentindo as vibrações e sensações, diferentes de obra para obra e de autor para autor acaba por ser uma forma afetiva e lisonjeada de receber e de processar em nós mesmos o significado de tudo aquilo que o autor e a obra procuraram mostrar e comunicar. E se todos esses desideratos forem conseguidos, o êxito estará mais perto e a ligação com o autor acaba por ser uma realidade.
8 - O que concretizou e o que ainda quer alcançar no universo da escrita?
Por enquanto a participação em trabalhos coletivos através das diversas coletâneas para as quais escrevo e os blogues pessoais ou não em que participo preenchem-me plenamente. De momento estou bem assim. Futuramente uma obra poética, um romance ou um livro de crónicas estão no horizonte. Depende muito do tempo livre que ainda não tenho (sou professor a tempo inteiro em tempos onde a exigência é muita e o tempo que sobra muito pouco). Depois logo se verá e quem sabe, um debruçar mais sério e continuado na poesia e na área das histórias romanceadas e das crónicas quotidianas.
9 - Porque participa em trabalhos coletivos?
Porque gosto e me sinto, por enquanto, realizado como autor. Conhecer outros autores e os seus olhares perante a literatura poética agradam-me sobremaneira e motivam-me a também ser um melhor autor e uma melhor pessoa. Conhecer novos mundos literários, novas sensibilidades e pessoas maravilhosas que vou procurando estabelecer elos de ligação pessoal e literária completam-me e fazem de mim procurar ser mais completo, mais sensível e mais atento ao que está ao meu redor. E isso tem sido maravilhoso.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Confesso que nunca pensei nisso. Mas eventualmente, se escolheria a vida de autor e escritor em vez da docência. Penso que não pois acho que não são áreas incompatíveis. Gosto muito de ensinar, de educar e de ser professor. Um dia reformando-me gostaria muito de continuar a dedicar-me à escrita, provavelmente com tempo para o fazer. Mas gostaria também de fazer outras coisas como que continuar a dedicar-me ao voluntariado, à natureza e ao campo. E penso que arranjarei um compartimento para todos esses objetivos. Terei muito por onde escolher para me manter ativo, atento e atualizado.
Muito obrigado, mais uma vez, por esta atenção e cuidado, pelos autores colaboradores procurando dar a conhece-los um pouco para o publico em geral.
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