quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O tiro - LUIZ EUDES

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O mar o atrai. Entrou, olhos fixos na imensidão. O sol a pino lançava
chispas ao céu, que se refletiam sobre as águas transparentes,
ofuscando-lhe a visão e a mente.
O homem se lembrou de quando conheceu o mar. Era um
domingo e ele, menino ainda, fartou-se em banhos e caranguejos.
A primeira vez que se vê o mar, com seu cheiro bom, suas ondas,
sua cores, guarda na lembrança, na pele, no coração, o deslumbramento.
Risadas soltas, brincadeiras e correrias absorvem a atenção dos
banhistas. A primeira onda alcançou-o e ele não teve dificuldade
em saltá-la. A segunda quis derrubá-lo com violência. Tentou
firmar-se, mas o chão parecia escapulir. Não pode evitar a queda.
Um tiro ecoa no ar e um corpo ensanguentado torna-se visível
na areia. De repente as águas, sempre verdosas, são tingidas de
vermelho. Olha para os lados, para trás, para frente, para o verde
do mar, tentando fugir da imagem do corpo estendido no chão,
do sangue escorrendo... O estampido ainda ecoa em seus ouvidos
e a retina teima em manter o registro da imagem.
Como naquela canção que toca no rádio, olhou o corpo no
chão e fechou a janela de frente pro crime.

EM - PANDEMIA DE PALAVRAS - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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