quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Cangalha do Vento (excerto V) - LUIZ EUDES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Levaria consigo uma lembrança viva daquela grande cidade. Rica, frenética, que parece não ter fim. A urbe o acolheu quando fugira da terrível seca que assolara o Junco em 1961. Tinha dezoito anos e um caminhão de sonhos. Foi uma viagem dura, dez dias sacolejando em um pau de arara, cheio de incertezas e esperanças pueris.
Dias antes estivera com o irmão. Antes de partir, encontraram-se numa lanchonete próxima à Avenida Ipiranga. O irmão viera despedir-se. Israel era um homem orgulhoso, vaidoso e boémio. Conhecera toda a rumorosa noite paulistana. Metera-se com sindicatos. Estava ali para falar e despedir-se do irmão. Com os olhos marejados dividiram uma cerveja.
– Penso em escrever uma carta para dona Anna, minha sogra, dizendo que vou voltar – avisou José Paulo.
Israel sorriu brevemente.
– Então, manda-se daqui mesmo?
– É possível, meu irmão. Alguma coisa me diz para voltar. Sinto saudade do Junco... Sinto falta das farras: diferentes das daqui. Também lá não vai ter polícia a perseguir-nos.
– Perseguem-te muito? - perguntou José Paulo, apontando para uma baratinha que passava ao longe.
– Sim, mas isso não é nada. Tem gente que sumiu. Vou voltar para a Bahia. Para cá volto talvez, mas só quando essa diabrura acabar.

EM - CANGALHA DO VENTO - LUIZ EUDES - IN-FINITA

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