terça-feira, 4 de agosto de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... RENATA FRADE


Agradecemos à autora RENATA FRADE pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

A pandemia é um grande desafio em diversos âmbitos, mas ao mesmo tempo convoca todos nós a refletirmos sobre o presente. Pensamos e falamos sempre sobre o futuro e esquecemos da atenção integral que devemos dedicar-nos a atividades, sentimentos, emoções vividas hoje, no agora. Afinal, é o que temos, a pandemia mostrou a fragilidade da condição humana e força-nos a valorizar cada instante, relação, ação. 
Nas atividades profissionais, como as artísticas, creio que houve um momento de suspensão até todos nós entendermos o que estava a ocorrer. Acredito que o sofrimento, a introspecção e esta atenção ao presente será força-motriz de uma produção artística, literária, forte.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Como mencionei anteriormente, vivi um momento de introspecção causada pela necessidade da reclusão, além da exaustão causada pela adaptação à nova rotina. Passei três meses sem conseguir produzir qualquer tipo de conteúdo literário. Acredito que a literatura demanda de nós acompanhar o compasso além do mundo, mas respeitar nossos vazios, silêncios para depois transbordarmos as palavras. 

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

Creio que são muitas lições, desde as individuais às coletivas. O valor a encontros, o essencial, as pequenas delicadezas no cotidiano certamente vai fazer parte da vida de um número de pessoas despertadas pelo chamado da introspecção. A lição é que tudo que construímos com foco, otimismo, espírito de equipe, baseados na Ciência, é que moverá a humanidade a grandes e pequenos, e também importantes, feitos. 

4 - Os movimentos de integração da mulher, influenciam no seu cotidiano?

Totalmente. Minha tese de doutorado é sobre feminismo brasileiro e português. Fui ativista feminina por 3 anos e fico feliz ao ver o quanto a articulação coletiva das mulheres, sobretudo negras, têm produzido legados no presente.

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Por ter trabalhado com comunicação e marketing editorial por quase 20 anos, sinto uma dificuldade enorme em divulgar meu trabalho. Prefiro que alguém o faça. Essa foi uma das razões pelas quais passei dez anos escrevendo e participando de cursos de escrita (romances, contos e poesias) sem ter coragem de publicar. Decidi tirar meus textos da gaveta há quatro anos. Uma divulgação estratégica e multiplataforma sempre rende excelentes resultados. No meu caso, com uma carreira de 11 livros com participação como autora de ficção e não-ficção (sendo que um deles como organizadora e apresentadora pela Rocco), creio que ainda estou criando a minha voz e identidade literária.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Não vejo pontos negativos a mulheres e homens em relação à escrita ou qualquer expressão artística. Se universo da escrita envolver um ecossistema de mercado, de luta por publicação, sinto ainda que falta muito para uma equidade e diversidade editorial para as mulheres.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Pretendo finalizar meu romance e meu livro de poesias. 
Pretendo escrever e publicar aquilo que faça sentido e íntegro com o que penso que seja o papel da literatura enquanto arte e missão (numa visão bem ampla, cidadã, de transformação social, cultural, transcendental).

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

Literatura infantil, poesia portuguesa.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Difícil escolher um. Sugiro Vésperas, de Adriana Lunardi, e Espaços Íntimos, de Cristina Peri Rossi. 

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Gostaria que me perguntassem como nós mulheres podemos nos articular ainda mais para nos ajudarmos a escrever melhor e viabilizarmos as nossas publicações. 
É uma pergunta complexa, que demanda uma resposta bem ampla. Apontaria que deveríamos aproveitar melhor as plataformas digitais, neste momento, para conhecermos melhor umas às outras, desenvolvermos projetos coletivos como o Mulherio das Letras, ajudarmos umas às outras a superarmos dificuldades na escrita e publicação e, sobretudo, sermos amigas, exercermos a sororidade para avançarmos ainda mais em representatividade editorial.

1 comentário:

Toca a falar disso