quinta-feira, 16 de julho de 2020

Que Passeio! - LENA MARÇAL

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Foi num dia de sol ardente e abrasador... o calor que se fazia sentir não dava nem para sentirmos a nossa respiração e o nosso corpo parecia uma fonte de tanta água que brotava pelos poros. Estávamos em pleno mês de agosto e tínhamos combinado com um casal amigo passar o domingo numa das praias da Cidade Velha - declarada Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. Hoje, representa a memória do período esclavagista nas nossas ilhas e um excelente ponto turístico: de realçar o pelourinho lugar onde os escravos eram acorrentados e chicoteados.
Saímos da Praia, capital de Santiago, às dez horas chegamos a Cidade Velha às onze horas. Embora de curta distância foi uma viagem agradável. No caminho as crianças, animadas com o passeio, foram cantarolando e chegamos à praia de Caniço.
Descarregamos os mantimentos para uma das grutas onde iríamos nos instalar e que nos proporcionava uma certa sombra.
Tudo arrumado, preparámo-nos para tomar o tão esperado banho de mar e refrescarmos um pouco do calor que se fazia sentir. A água era tão límpida, fazendo uma combinação perfeita com a areia negra, parecia até um espelho. Poucos conheciam os encantos daquele recôndito e naquele dia éramos os “donos do local”.

Chegou a hora do almoço, e foi um degustar dos pratos... seguida da sobremesa, a parte mais gostosa e esperada por todos principalmente pela criançada.
Barrigas satisfeitas continuamos o convívio, as conversas, as brincadeiras e os mergulhos.
De repente, começou um dilúvio... Ficamos surpresos com a mudança repentina do tempo, mas a vontade de lá estar era tanta que pensávamos e dizíamos convictos: Isto vai parar! Que nada. Num pulo de mágica toca a arrumar tudo. Aquele mar azul, sereno e cristalino com que nos tínhamos deparado ao chegar já não era o mesmo, estava sujo e turbulento.
Aflitos perante a chuva torrencial, que não esperávamos e nem podíamos prever, pensávamos em como sair dali... em segurança.
E não é que a ponte onde tínhamos que pervagar já se encontrava invadida pela cheia... atingido uma espessura tal que era difícil passar com o carro. A nossa viatura, mesmo sendo ligeira, contou com a destreza do condutor e lá conseguimos. Tivemos que atravessar com as crianças no colo e a pé. Porém o carro do nosso amigo teve de esperar que a chuva abrandasse para poder atravessar.
Não obstante o pé-d’água, é sempre mágico os piqueniques no Caniço... O cenário era de tal modo deslumbrante e inesperado que dava para fazer um lindo quadro. E foi assim mais um passeio inaudito.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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