Agradecemos ao autor DANIEL BRAGA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1
- Como se define enquanto pessoa?
Alguém que ama o que faz profissionalmente (professor de matemática), muito solidária, culturalmente evoluída, que respeita as opiniões de cada um mesmo discordando delas e que acima de tudo respeita e considera a liberdade e a cidadania cívica como algo indissociáveis à sua personalidade. Odeia qualquer forma de discriminação, mas não pactua com formas de violência como modo de protesto e de condenação. Tudo se resolve pela reconciliação e pela paz e com diálogo pois esta a forma mais eficaz de se afirmar o contraditório e a discordância.
Sou timorense de nascimento, adoro e respiro Timor-Leste e digo sempre que tenho duas Pátrias: Portugal e Timor.
2 - Escrever é uma necessidade ou um passatempo?
Escrever é uma necessidade e uma das formas de
expressão e comunicação que considero essenciais na vida de qualquer pessoa e
ainda por cima quando sou um Educador. A escrita e a oralidade não se podem
dissociar nunca na profissão que exerço com muito carinho, crença e
determinação: a docência.
3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade
ou o cuidado linguístico?
Penso que as duas vertentes andam intimamente
ligadas para mim. A espontaneidade é um fator importantíssimo na poesia e na
escrita (nem sempre estamos inspirados) mas o cuidado e o rigor linguístico
também. Não concebo alguém que escreve a dar erros ortográficos grosseiros e
faz-me muita impressão aqueles que dizem tudo o que lhes apetece sem terem o
cuidado de ir ver ao léxico gramatical da internet (google, por exemplo) quando
têm dúvidas ou não sabem escrever qualquer palavra. E nas redes sociais vê-se
muito isso o que me faz muita impressão.
4 - Em que género literário se sente mais
confortável e porquê?
A forma de escrever é só minha e acima de tudo
descrevo os meus estados d’alma. Escrevo poesia com uma simplicidade não de um
poeta (que o não sou) mas de um escrevinhador de poesia, procurando descrever
sentimentos e sensações que me vão na alma.
Na prosa acontece o mesmo. Descrevo histórias e falo de temas que acho
importantes abordar sob o meu ponto de vista. Não sou propriamente um contador
de histórias, mas gosto de falar e contar tudo o que me vai no íntimo sobre
qualquer assunto seja ele atual ou não. Fiz parte e faço parte de vários
projetos ou espaços de cidadania e, por isso, também abordo muito temas que têm
a ver com a política e o estado de coisas que se vai assistindo. Fiz parte
durante cerca de 10 anos de um espaço cívico muto importante - o CLUBE DOS
PENSADORES (que já não existe) – e aí fui manifestando as minhas opiniões
enquanto cidadão ativo e atento do que se passava. Um dia farei um livro de
crónicas (a pensar e já em andamento…). Não espero concordância com tudo o que
digo, mas apenas liberdade de pensamento e respeito (é isso que faço com os
outros. As críticas devem ser sempre manifestadas e aconselhadas, mas como
formas construtivas de troca de conhecimento e outros olhares e perspetivas.
5 - O que pretende transmitir com o que escreve?
Já respondi atrás um pouco sobre esta questão.
Transmitir os meus olhares, as minhas perspetivas e os meus estados d’alma.
Gostar do olhar do outro e do que me transmitem e veem. Mesmo as críticas são
sempre bem-vindas desde que construtivamente e sob a forma de melhorias para
uma evolução que se quer e se deseja.
6 - Quais as suas referências literárias?
As minhas referências vão muito para o olhar de
autores menos modernos entre os autores portugueses. Autores com Eça, Camilo,
Fernando Namora, Pessoa, Natália Correia, Florbela Espanca, José Cardoso Pires,
Luís de Sttau Monteiro, Ary dos Santos, Miguel Torga e Saramago dizem-me muito.
Ultimamente também me debruço muito sobre os autores lusófonos nomeadamente o
timorense Luís Cardoso de Noronha (meu antigo companheiro de escola), um autor consagrado
em Portugal, Fernando Sylvan (também
poesia e já falecido) , Alda Lara Mia Couto, Pepetela, Ondjaki e também José
Luís Peixoto, Valter Hugo Mãe e Lobo Antunes, para dizer apenas aqueles que me
vêm à memória no momento. Obras que mais marcaram – destes autores referidos –
são muitas e seria fastidioso estar aqui a mencioná-las, mas as minhas
primeiras leituras foram: A cidade e as Serras (Eça), A tragédia da Rua das
Flores (Eça), A balada da praia dos cães (Cardoso Pires), Retalhos da vida de
um médico (Fernando Namora). Mais tarde e ao longo do tempo, Ensaio para a
cegueira e Memorial do Convento (Saramago)e ainda as obras de Luís Cardoso, a
últimas das quais “Para Onde vão os Gatos quando morrem” (excecional). Pelo
meio existem muitas outras leituras de autores já mencionados.
7 - O que acredita ser essencial na divulgação de
obras literárias?
O olhar íntimo do autor e a mensagem que pretende
transmitir através de uma prosa e /ou poesia bem cuidada e clara. Há obras que
depois de lidas merecem ser relidas e aprofundadas para um melhor conhecimento
da mensagem que numa primeira analise não foi totalmente compreendida ou
assimilada. O importante está naquilo que o autor pretende transmitir na sua
escrita que deve ser cuidada, clara e muito bem expressa linguisticamente. A
apresentação da obra também é importante porque é usual dizer-se que os olhos
também emitem opinião.
8 - O que ambiciona alcançar no universo da escrita?
Nada de especial. Escrevo por gosto. Como já disse
não sou escritor, nem poeta, apenas gosto de escrever por prazer e de
transmitir aquilo que sinto. Os meus olhares, as minhas perspetivas e os meus
estados d’alma. Apenas e só. Não é ser-se humilde porque até acho que não
escrevo mal. Mas sem pretensiosismos de qualquer espécie. A minha vida é a
docência, mas se puder juntar-lhe umas pitadas do que escrevo, sinto-me
realizado. Mas gostaria de escrever e ver publicado o que transmito. Mas sem
exageros e com uma dose de equilíbrio. Se gostarem ótimo, senão muito bem na
mesma, pois quem escreve seja por veia
artística inata, seja apenas por gosto deve estar aberto às críticas
desde que venham no sentido da melhoria e da evolução.
9
- Porque participa em trabalhos coletivos?
Porque aprecio e acho que é mais o meu mundo. Gosto
de conhecer outros autores, o que fazem e o que transmitem. Faz parte da minha
aprendizagem. E nas várias coletâneas participadas ou não, vi sempre gente de
muito valor artístico e poético com quem me identifico. Acho que nos faz melhores pessoas e melhores
autores. Aprendemos uns com os outros. Revelam-se neste tipo de participações
muitos talentos e Portugal não é só o País dos Eças, Pessoas e Saramagos. É
muito mais do que isso. E em cada um de nós há uma veia poética ou prosadora
que merece ser conhecida e partilhada. E isso as várias coletâneas fazem muito
bem essa partilha e divulgação.
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- Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Se alguma vez me dedicaria exclusivamente à escrita
e à poesia. Redondamente a resposta seria não! Gosto muito da escrita, da
poesia, da opinião literária, mas gosto fundamentalmente do que faço – ser
professor e ensinar. Um dia, reformando-me continuarei a escrever, mas em
simultaneamente dedicar-me-ei a outras atividades como a solidariedade, a
pintura e os jogos lúdicos matemáticos, a minha área preferida. Sonho com um
dia poder, já fora do ensino, ter, eventualmente um centro didático de
exploração da área didática e lúdica dos jogos- essencialmente de tabuleiro,
principalmente para miúdos e jovens carenciados. Mas isto é apenas um sonho,
que se poderá concretizar, ou não…, mas “estúpido” e sem nada fazer não ficarei
com toda a certeza. Tenho muito por onde escolher e manter-me ativo.
Muito obrigado pela oportunidade. Um abraço de muito sucesso.
ResponderEliminarGratos pelo apoio através da sua participação poética.
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