terça-feira, 28 de julho de 2020

DEZ PERGUNTAS CONEXÕES ATLÂNTICAS A... PEDRO CALDEIRA SANTOS


Agradecemos ao autor PEDRO CALDEIRA SANTOS pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto pessoa?

Tenho alguma dificuldade em falar de mim próprio. Antes de tudo sou um humanista, valorizo e acredito nas pessoas. Atribuo uma grande importância à dignidade, às aspirações e capacidades humanas. Sou um defensor da igualdade de oportunidades e dos direitos humanos. Ainda assim, reconheço-me também, um pouco, como um sonhador romântico. Acredito na concretização dos sonhos. Nunca desisto de os concretizar, tentando equilibrar a racionalidade com o romantismo, ainda que por vezes seja difícil.

2 - Escrever é uma necessidade ou um passatempo?

Escrever não surge, nem como necessidade, nem como passatempo.
A escrita foi algo que aconteceu tarde, naturalmente e por impulso. No início, acontecia esporadicamente. Nunca senti necessidade de escrever e, apesar de ler muito, nunca tive a pretensão de escrever. Os primeiros poemas surgiram por impulso. A possibilidade de escrever no “móvel”, independentemente do lugar e do momento em que me encontrava, permitiu registar no momento, os primeiros impulsos poéticos, que acabaram assim, guardados, à medida que iam sendo escritos.
Durante algum tempo esses “registos” ficaram escondidos do “mundo”, até ao dia em que, também por mero acaso, desafiado por uma das poucas pessoas que sabia que eu escrevia, me vi a participar num primeiro trabalho colectivo. A partir daí tudo acabou por tornar-se mais sério. Gostei de participar na Antologia e comecei a valorizar o que escrevia, e a gostar de divulgar o resultado do que ia escrevendo.
O lançamento do meu primeiro livro, em 2016, serviu de motivação para encarar esta actividade de uma forma minimamente séria. Perante este percurso, não posso classificar o que escrevo como um mero passatempo, mesmo não sentindo qualquer obrigação ou necessidade para o fazer

3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado linguístico?

No meu caso? A espontaneidade, sem qualquer dúvida. Não me revejo a escrever preocupado com regras literárias pré-fixadas, que permitem classificar um poema ou enquadrá-lo num determinado estilo ou corrente. No dia em que tiver de escrever condicionado ao respeito pela forma ou pela estrutura de um poema, pelo número de estrofes ou pelos versos, pela métrica, pelo ritmo ou pela rima não o escreverei. Não tenho essa capacidade. Para mim, como autor, o importante são as ideias e a valorização das palavras. Algo como uma pintura abstracta onde o pintor pinta a sua realidade e permite a quem visita a tela uma interpretação pessoal do que vê. É assim que vejo a poesia, ainda que sempre se possa fazer o exercício de tentar adivinhar o que estaria na mente do poeta, ao construir ou gerar um poema. É assim que leio Herberto Hélder, Antonio Ramos Rosa, Al Berto ou Teresa Horta, de entre outros. É também assim que gosto de escrever. É assim que eu gosto da poesia. Algo que tenha um significado para quem escreve, mas permita a liberdade de sentir ou interpretar a quem lê. Classifico os meus poemas, como meros impulsos livres, sem condicionalismos e é nessa liberdade de escrita que os meus poemas nascem e se situam.

4 - Em que género literário se sente mais confortável e porquê?

Ainda que tenha escrito alguns contos que continuam guardados, e tenha um livro em prosa a acontecer, a poesia é o género literário onde me movo. Poderia rotular-me como estando próximo da poesia experimental, mas não me atrevo a incluir-me nesse movimento. Entendo estar muito longe de escrever algo que possa ser classificado como tal. É preciso deter uma grande maturidade na escrita. A criatividade e a versatilidade existentes neste género de poesia são marcantes. É necessário possuir uma enorme capacidade para jogar e ultrapassar a subjectividade das palavras ao transpô-las para as vivências e sentimentos que pairam no mundo real onde nos movemos. São “enormes”, os poetas que integram este movimento. Não me atrevo a definir-me como sendo um deles.
Aliás, sem colocar em causa a arte e a qualidade de muitos poetas contemporâneos com quem me tenho cruzado desde que participo em trabalhos coletivos, e felizmente que são muitos, alguns de uma enorme qualidade, em minha opinião só existe um que, inequivocamente, consigo ver como par destes grandes poetas - o Álvaro Giesta.

5 - O que pretende transmitir com o que escreve?

Não tenho essa preocupação. Não escrevo com o objectivo de exprimir uma qualquer mensagem pré-estabelecida. Conforme se subentende das minhas respostas anteriores, registo as ideias que me chegam, que são de diferente natureza consoante o momento, sem saber no início o que vem a seguir ou como irá terminar o texto que estou a escrever. É tudo improviso, dependendo algumas vezes do estado de espirito, outras vezes influenciado por algo que observo no momento, sem qualquer ideia pré-concebida. No final leio o que acaba de ser escrito e se parece fazer sentido, guardo. Caso contrario, tudo é eliminado, literalmente. Não fica rasto para ser aproveitado em momentos de melhor criatividade ou inspiração. Conforme surge ou guardo ou desaparece.

6 - Quais as suas referências literárias?

Já referi os principais. Herberto Hélder, António Ramos Rosa, Al Berto, Jose Luis Nava, Teresa Horta, de entre outros.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de obras literárias?

É difícil de responder. Nunca escrevi com objetivos comerciais por isso nunca pensei seriamente nisso. Na minha óptica vários são os factores que permitem classificar um bom livro. É algo de muito pessoal. Depende do tema, do conteúdo e da forma como é escrito. O que pode agarrar um leitor ao livro, em minha opinião, pode ser completamente indiferente para outro. Sou muito versátil na escolha das minhas leituras. Para mim, o bom livro, independentemente do género ou do autor, é aquele que transporta o leitor para o seu interior, fazendo-o esquecer o mundo real. No meu caso, acontece quando me sinto um personagem a viver a realidade do que estou a ler, permitindo abstrair-me de tudo, designadamente do tempo e do espaço.
Ora, actualmente, estes não são os critérios que estão na base da divulgação das obras literárias. Hoje, são editados diariamente, dezenas ou mesmo centenas de livros e as editoras dão preferência aos livros que sabem antecipadamente que vendem, muitas vezes de autores consagrados, já conhecidos, independentemente da qualidade dos mesmos. A qualidade para a maioria das editoras é pouco importante. O que importa é o êxito comercial. A concorrência é de tal forma agressiva que o lucro se sobrepõe à qualidade.

8 - O que ambiciona alcançar no universo da escrita?

Nunca pensei nisso. Escrevo por gosto. E porque aprendi a gostar de ver o que escrevo transformado em livros, vou participando em “Antologias” ou editando os meus próprios livros, em edição de autor com a ajuda de amigos ou de pequenas editoras, sem qualquer objectivo comercial.
Se um dia, por acaso, tiver algum sucesso, será resultado de trabalho sem qualquer aspiração antecipada, e acima de tudo, da minha “carolice”, mas sempre de uma forma natural e desprendida, sem comprometer a minha liberdade de escrever e da forma como o faço.

9 - Porque participa em trabalhos colectivos?

Durante muito tempo guardei tudo o que escrevia, sem me atrever a divulgar. Ainda que tenha três livros de poesia recentemente editados, nunca quis entrar em circuitos comerciais por isso os livros foram divulgados praticamente num ciclo de amigos e pessoas conhecidas que me são próximas. Daí que nenhum dos meus livros possa ser adquirido em livrarias. Vejo assim, os trabalhos coletivos, como uma forma de ir mais longe. Uma maneira de divulgar o que escrevo para lá do “meu mundo”.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Não me ocorre nenhuma pergunta em especial. Tentaria responder a qualquer uma que me fosse dirigida, respondendo sempre com frontalidade e de uma forma honesta.

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