terça-feira, 30 de junho de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - RENATA MAURÍCIO


Agradecemos à autora RENATA MAURÍCIO pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

Em consideração à pandemia do novo coronavírus - COVID-19 e aos grandes impactos na saúde, em todos os níveis, percebo que estamos diante de questões complexas, uma vez que situações de isolamento social envolvem alterações repentinas no comportamento, nas percepções, no modo de relacionarmos conosco mesmos e com os outros à nossa volta.  Novos hábitos, novos valores e novos modelos de trabalho nos mostram que precisamos nos preocupar mais conosco e com os outros, valorizar momentos especiais, cuidar sempre de nossa saúde e higiene... Tudo isso nos convida a um mergulho dentro de nós para repensar a sobrevivência não mais como indivíduos, mas como seres humanos em constante evolução.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu  processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Decorridos quase noventa dias de quarentena, concluo que foram várias as fases durante esse período. Muitas vezes, o cenário trouxe incertezas e muita angústia, sentimentos que, de alguma forma, paralisaram o processo produtivo. Por outro lado, esses mesmos sentimentos, ao serem acolhidos e ressignificados, passaram a nos motivar a aprender algo diferente, a corrigir rumos, mudar prioridades, o que acaba estimulando a criatividade e potencializando nossos trabalhos. 

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

Quando tudo isso passar, nada mais será como antes. É preciso olhar para dentro, reconectar com quem somos e com o que almejamos... É preciso ter empatia, pois somos todos um.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Muito. Eu me vejo como um espectro de todo esse movimento, que tem possibilitado a inserção e participação feminina em espaços variados, da família aos movimentos sociais,  campos de trabalho e outros. É cada vez maior o contingente de mulheres que lidam, com maestria e competência, com as lutas e desafios da vida pública e da vida privada, sem que uma influencie negativamente a outra. Vibro com cada vitória conquistada!

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

As ferramentas contemporâneas envolvendo as tecnologias de comunicação e informação disponíveis são bastante eficazes, pela sua abrangência, para a divulgação de conteúdos e interação entre as pessoas, sobretudo em tempos de isolamento e distanciamento físico. Há algum retorno do público em relação às publicações, principalmente de pessoas mais próximas. Com isso, percebo que é preciso investir mais nessa propagação.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Percebo que há, na contemporaneidade, um progresso relevante acontecendo: a produção intelectual feminina tem conquistado mais espaço, juntamente com o avanço dos estudos acadêmicos e críticos envolvendo esse universo. Mas, ainda há muito a ser feito, no sentido de movimentar a produção intelectual e criativa de mulheres que precisam ser lidas, saírem do anonimato e desengavetar rascunhos e projetos de escrita.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Desejo que minhas produções alcancem as pessoas e toquem seus corações, e que sirvam de incentivo a escritas e leituras múltiplas que reverberem arte e poesia. Inicialmente, minha escrita tem se expandido por meio de publicações esparsas via redes sociais, mas, futuramente, gostaria de contar com o apoio de algum editor que acolha meu projeto de publicar o que eu chamaria de “faíscas poéticas”.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

Seria muito bom discutir os temas do protagonismo feminino, das igualdades entre gêneros, do empoderamento da mulher e, sobretudo, de suas reconstruções no cenário contemporâneo.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Sugiro uma poeta brasileira ímpar chamada Laís Corrêa de Araújo (1928-2006), cuja produção poética foi estudada por mim durante o curso de doutoramento. Sua coletânea “Inventário”, publicada em 2002,  é composta por sete livros escritos ao longo de mais de cinquenta anos, e contempla questões as mais diversas, especialmente aquelas ligadas ao universo feminino, por meio de uma visão muito crítica, corrosiva, concisa e, ao mesmo tempo, muito lírica. Infelizmente, sua obra ainda permanece pouco conhecida pela crítica e pelo público, e ainda carece de outros estudos mais aprofundados.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

“Como você vislumbra a poesia no cenário contemporâneo?”. Em resposta, diria que a poesia é antídoto para o sufoco diário. Em sentido amplo, a literatura, como arte da palavra escrita, é enfrentamento, que impulsiona o tempo presente e a vida presente, no sentido do que expressou o poeta Carlos Drummond de Andrade em “Mãos Dadas”, parte do livro “Sentimento do Mundo”. Sigamos, pois, de mãos dadas.

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