Agradecemos à autora MARIA LUCIRENE FAÇANHA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Qual sua percepção para essa
pandemia mundial?
Foi um choque. De repente as algumas pessoas
começaram a perceber desigualdades. As vulnerabilidades foram expostas. O
conhecimento raso sobre o vírus, forma de cuidar, vacina, falta de
investimento nas ciências, mostrando a parte podre das políticas dos governos.
2 – Enquanto autora, esse momento afetou
seu processo produtivo? Em tempo de quarentena, está menos ou mais inspirada?
Sim. De início, estava com uma agenda
repleta para o mês de marco, de lançamento de antologias, eventos literários,
fiquei meio sem perspectiva. O isolamento afetou a inspiração por interromper a
minha privacidade, de repente, o meu tempo e os espaços foram preenchidos.
3 – Quando isso passar, qual a lição que
fica?
Já pratico a resiliência no meu dia a
dia, mais que nunca tive que fazer isso. Perceber fragilidade do ser humano num
momento difícil. Separar o joio do trigo, tempo para rever conceitos. Venho
cultivando, ser melhor como ser humano já algum tempo.
4 – Os movimentos de integração da
mulher influenciam no seu cotidiano?
Fui, sempre, muito combativa, mas também
muito tímida, tolhida, por ser a última de uma família numerosa. Participei de
todos os movimentos estudantis e depois no trabalho o sindicato, combatendo as desigualdades.
Desde cedo esses movimentos feministas me interessaram por perceber a anulação
crescente que sofria na vida. Tenho batalhado nos grupos que faço parte não só
para dar visibilidade as mulheres, mas a literatura nacional.
5 – Como você faz para divulgar os seus
escritos ou sua obra? Percebe retorno nas suas ações?
Em 2014, para não sucumbir uma
depressão, entrei para um grupo de Criação Literária, até então ninguém nunca
tinha lido uma linha escrita por mim, apesar de escrever desde sempre. Em 2017
participei de uma primeira antologia Cartografia da palavra Livre da ACE
edições. Um dos meus contos foi publicado pela revista Maracajá, um suplemento
do jornal O Povo, em 2018 participei de Fez-se Dezembro em nós, com contos e
poemas com mais quatro amigas em 2019 Ecos do Nordeste, em 2020 Pensando em
poesia (não lançado devido a pandemia). Fui selecionada pelo Instituto Horácio Dídimo
para compor suas coletâneas infantis: os novos poeminhas do passarinho
carrancudo e as novas historinhas do mestre jabuti, fui destaque no XXI prêmio
ideal clube de literatura e escolhida na coletânea de contos sobre Nossa
senhora do instituto Horácio Dídimo, a Zine O livro publicada através de um
projeto da editora Alias no blog da Bel no jornal O Povo. Tenho um livro de
contos O homem na janela na editora Lua azul para publicação primeiro livro
solo. Partir desse ano comecei a publicar alguns pequenos contos e poemas no
instagram, facebook nos grupos do whatsap que faço parte. O retorno quase
especificamente dos amigos mais próximos. Me sinto recompensada por esse
alcance visto que não tencionava publicar, a minha escrita é uma forma de
exorcizar os medos, lavar a alma, dissecar sentimentos.
6 – Quais os pontos positivos e
negativos do universo da escrita da mulher?
Se fala muito hoje em empoeiramento
feminino. O preconceito ainda é muito velado. Vejo com muita alegria, grande
criatividade dessa mulher em se contrapor a toda invisibilidade por séculos com
muita produção e inventividade.
7 – O que pretende alcançar enquanto autora?
Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
A pandemia cortou meu projeto de curto
prazo que era o lançamento do meu livro solo o homem na janela. Mas para me
contrapor a essa adversidade, resolvi implementar um sonho antigo, com os
recursos que tinha em casa a criação de bordados representando os contos que
estão nesse livro até como forma de me exercitar. Como autora, pretendo
continuar escrever, aprender técnicas, me aperfeiçoar, quem sabe lançar um e-book
com um romance que venho trabalhando e um livro infantil, cujo projeto está
bailando na minha cabeça.
8 – Quais os temas que gostaria que
fossem discutidos nos encontros mulherio das letras em Portugal?
Um a forma de divulgação dos trabalhos
mais efetiva, como ajudar para que os trabalhos não fiquem empilhados nas
estantes após publicação.
9 – Sugira uma autora e um livro que lhe
inspira ou influencia na escrita?
As autoras que me acompanham são sem dúvida,
Clarice Lispector com Felicidade Clandestina pela essência humana que ela
descreve e Lygia Fagundes Teles pelo fantástico em Antes do Baile verde e nas minhas
primeiras leituras Gene Stratton Porter, construção de personagem.
10 – Qual a pergunta que gostaria que
lhe fizessem e como responderia?
Por que busca a liberdade?
Vejo a desigualdade desde que aprendi a
olhar.
Os meeiros na fazenda eram colocados de
lado quando chegavam os parentes.
Na rua, alertavam para os pretos e mal
vestidos.
Na escola, ganhar a corrida à biblioteca
já que não podia comprar livros.
No trabalho, não tinha a bolsa nem o
sapato de grife, não servia para o cargo mesmo apresentando o melhor em
resultado de ideias e tempo.
Na vida, cooptada a abandonar amigos,
vida social, em nome de um amor.
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