sábado, 27 de junho de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - MARIA LUCIRENE FAÇANHA


Agradecemos à autora MARIA LUCIRENE FAÇANHA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 – Qual sua percepção para essa pandemia mundial?

Foi um choque. De repente as algumas pessoas começaram a perceber desigualdades. As vulnerabilidades foram expostas. O conhecimento raso sobre o vírus, forma de cuidar, vacina, falta de investimento nas ciências, mostrando a parte podre das políticas dos governos.

2 – Enquanto autora, esse momento afetou seu processo produtivo? Em tempo de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Sim. De início, estava com uma agenda repleta para o mês de marco, de lançamento de antologias, eventos literários, fiquei meio sem perspectiva. O isolamento afetou a inspiração por interromper a minha privacidade, de repente, o meu tempo e os espaços foram preenchidos.

3 – Quando isso passar, qual a lição que fica?

Já pratico a resiliência no meu dia a dia, mais que nunca tive que fazer isso. Perceber fragilidade do ser humano num momento difícil. Separar o joio do trigo, tempo para rever conceitos. Venho cultivando, ser melhor como ser humano já algum tempo.

4 – Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Fui, sempre, muito combativa, mas também muito tímida, tolhida, por ser a última de uma família numerosa. Participei de todos os movimentos estudantis e depois no trabalho o sindicato, combatendo as desigualdades. Desde cedo esses movimentos feministas me interessaram por perceber a anulação crescente que sofria na vida. Tenho batalhado nos grupos que faço parte não só para dar visibilidade as mulheres, mas a literatura nacional.

5 – Como você faz para divulgar os seus escritos ou sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Em 2014, para não sucumbir uma depressão, entrei para um grupo de Criação Literária, até então ninguém nunca tinha lido uma linha escrita por mim, apesar de escrever desde sempre. Em 2017 participei de uma primeira antologia Cartografia da palavra Livre da ACE edições. Um dos meus contos foi publicado pela revista Maracajá, um suplemento do jornal O Povo, em 2018 participei de Fez-se Dezembro em nós, com contos e poemas com mais quatro amigas em 2019 Ecos do Nordeste, em 2020 Pensando em poesia (não lançado devido a pandemia). Fui selecionada pelo Instituto Horácio Dídimo para compor suas coletâneas infantis: os novos poeminhas do passarinho carrancudo e as novas historinhas do mestre jabuti, fui destaque no XXI prêmio ideal clube de literatura e escolhida na coletânea de contos sobre Nossa senhora do instituto Horácio Dídimo, a Zine O livro publicada através de um projeto da editora Alias no blog da Bel no jornal O Povo. Tenho um livro de contos O homem na janela na editora Lua azul para publicação primeiro livro solo. Partir desse ano comecei a publicar alguns pequenos contos e poemas no instagram, facebook nos grupos do whatsap que faço parte. O retorno quase especificamente dos amigos mais próximos. Me sinto recompensada por esse alcance visto que não tencionava publicar, a minha escrita é uma forma de exorcizar os medos, lavar a alma, dissecar sentimentos.

6 – Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita da mulher?

Se fala muito hoje em empoeiramento feminino. O preconceito ainda é muito velado. Vejo com muita alegria, grande criatividade dessa mulher em se contrapor a toda invisibilidade por séculos com muita produção e inventividade.

7 – O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

A pandemia cortou meu projeto de curto prazo que era o lançamento do meu livro solo o homem na janela. Mas para me contrapor a essa adversidade, resolvi implementar um sonho antigo, com os recursos que tinha em casa a criação de bordados representando os contos que estão nesse livro até como forma de me exercitar. Como autora, pretendo continuar escrever, aprender técnicas, me aperfeiçoar, quem sabe lançar um e-book com um romance que venho trabalhando e um livro infantil, cujo projeto está bailando na minha cabeça.

8 – Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos encontros mulherio das letras em Portugal?

Um a forma de divulgação dos trabalhos mais efetiva, como ajudar para que os trabalhos não fiquem empilhados nas estantes após publicação.

9 – Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita?

As autoras que me acompanham são sem dúvida, Clarice Lispector com Felicidade Clandestina pela essência humana que ela descreve e Lygia Fagundes Teles pelo fantástico em Antes do Baile verde e nas minhas primeiras leituras Gene Stratton Porter, construção de personagem.

10 – Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem e como responderia?

Por que busca a liberdade?
Vejo a desigualdade desde que aprendi a olhar.
Os meeiros na fazenda eram colocados de lado quando chegavam os parentes.
Na rua, alertavam para os pretos e mal vestidos.
Na escola, ganhar a corrida à biblioteca já que não podia comprar livros.
No trabalho, não tinha a bolsa nem o sapato de grife, não servia para o cargo mesmo apresentando o melhor em resultado de ideias e tempo.
Na vida, cooptada a abandonar amigos, vida social, em nome de um amor.

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