quinta-feira, 18 de junho de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - GIOVANA DAMASCENO


Agradecemos à autora GIOVANA DAMASCENO pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

A pandemia se alastra pelo meu país e assistimos à tragédia se desenrolar diante de nossos olhos, entre nossos familiares e amigos, sem saber exatamente como reagir. É um luto coletivo, uma tristeza sem fim. Hoje (01/06) devemos alcançar a marca de trinta mil pessoas mortas no Brasil e não temos um ministro da saúde, não temos governo. Sinceramente, não sei o que pensar. Não racionalmente.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Está praticamente impossível escrever. Especialistas em saúde mental afirmam que o isolamento em casos como o que vivemos causa dispersão da concentração e comigo é o que ocorre. Ler e escrever requerem um esforço enorme que, confesso, não estou dando conta. Tenho feito apenas o que é possível.

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

Só saberei responder a essa pergunta depois que passar, um bom tempo depois que passar. Precisarei de tempo pra digerir.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Totalmente. Meu principal exemplo é o Mulherio das Letras, do qual faço parte desde 2017, sempre ativa e colaborativa no movimento. As influências aparecem nas minhas opções de leitura, que mudaram muito nos últimos anos, nas amizades maravilhosas que nasceram da convivência nos grupos. Também vem daí a experiência que ganho aos poucos, com a minha participação e trocas com as mulheres.

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Minha divulgação ocorre basicamente nas redes sociais Instagram e Facebook, onde possuo perfis. Neste momento, em que divulgo meu novo livro, também utilizo assessoria de imprensa para contato com a mídia noticiosa em geral. Sim, recebo retorno, na medida do possível, em tempos de comunicação e público cada vez mais fragmentados.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Vejo muitos pontos positivos alavancados ou estimulados pelos próprios movimentos de mulheres escritoras. Editoras criando selos específicos para livros escritos por mulheres, revistas literárias editadas e escritas só por mulheres, mais autoras presentes nos diversos eventos, mais obras de mulheres sendo resenhadas, mais mulheres escritoras convidadas para entrevistas nos vários espaços midiáticos. Do lado negativo: nenhuma dessas iniciativas se aproxima do que seria satisfatório.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Como autora pretendo alcançar o que estudo para colocar em prática, num trabalho contínuo, pois o aprendizado da escrita é infinito. Meu projeto de curto prazo é o livro que lanço agora, pela Editora Penalux, “Alguém pra segurar a minha mão”. Um livro-reportagem que aborda o conceito da boa morte, o direito humano de morrer em paz e acolhido quando não há mais chance de recuperação, a atuação dos profissionais em cuidados paliativos, etc. Para longo prazo já há outros dois projetos se embolando um ao outro na cabeça. Vamos ver qual se materializa primeiro.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

Escrita feminina de povos nativos, como as indígenas, as africanas, e também de mulheres de países não ocidentais.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Há um time relativamente grande de autoras que me inspiram e norteiam. Cada uma a seu modo e no seu gênero literário me motiva a buscar mais informação sobre o que leio, a pesquisar mais. Suas obras me enchem de ideias. Das últimas que tive a oportunidade de ler, Cinthia Kriemler, com seus romances e contos tão pontiagudos, e Deborah Dornellas, que me causou muita reviravolta interna com o romance “Por cima do mar” (Patuá, 2019).

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

O escritor tem ou deveria ter um papel social?
Seria uma afirmação impositiva, caso respondesse que sim, que escritores deveriam ter uma função social. Mas eu, leitora, me esquivo de autores e autoras que escrevem do nada para nada. Desde sempre não dissocio o que escrevo com o que vejo a minha volta, mesmo nos tempos das crônicas mais ingênuas dos velhos tempos. Talvez por minha formação jornalística ou, ainda, pela vivência com a Sociologia e os olhos abertos para a necessidade de compreender a política como o motor que nos move, goste dela ou não. Portanto, penso que minha escrita tem que servir a algum objetivo, deve levar algo ao leitor – bem clichezão, isso -, deve provocar, incomodar. Não vejo nenhuma forma de arte por outra perspectiva. Se não for assim, não me diz nadica.

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