Agradecemos à autora GIOVANA DAMASCENO pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua
percepção para essa pandemia mundial?
A pandemia se alastra pelo meu país e
assistimos à tragédia se desenrolar diante de nossos olhos, entre nossos
familiares e amigos, sem saber exatamente como reagir. É um luto coletivo, uma
tristeza sem fim. Hoje (01/06) devemos alcançar a marca de trinta mil pessoas
mortas no Brasil e não temos um ministro da saúde, não temos governo.
Sinceramente, não sei o que pensar. Não racionalmente.
2 - Enquanto autora,
esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena,
está menos ou mais inspirada?
Está praticamente impossível escrever.
Especialistas em saúde mental afirmam que o isolamento em casos como o que
vivemos causa dispersão da concentração e comigo é o que ocorre. Ler e escrever
requerem um esforço enorme que, confesso, não estou dando conta. Tenho feito
apenas o que é possível.
3 - Quando isso passar,
qual a lição que ficou?
Só saberei responder a essa pergunta
depois que passar, um bom tempo depois que passar. Precisarei de tempo pra
digerir.
4 - Os movimentos de
integração da mulher influenciam no seu cotidiano?
Totalmente. Meu principal exemplo é o Mulherio
das Letras, do qual faço parte desde 2017, sempre ativa e colaborativa no
movimento. As influências aparecem nas minhas opções de leitura, que mudaram
muito nos últimos anos, nas amizades maravilhosas que nasceram da convivência
nos grupos. Também vem daí a experiência que ganho aos poucos, com a minha
participação e trocas com as mulheres.
5 - Como você faz para
divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?
Minha divulgação ocorre basicamente nas
redes sociais Instagram e Facebook, onde possuo perfis. Neste momento, em que
divulgo meu novo livro, também utilizo assessoria de imprensa para contato com
a mídia noticiosa em geral. Sim, recebo retorno, na medida do possível, em
tempos de comunicação e público cada vez mais fragmentados.
6 - Quais os pontos
positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?
Vejo muitos pontos positivos alavancados
ou estimulados pelos próprios movimentos de mulheres escritoras. Editoras
criando selos específicos para livros escritos por mulheres, revistas
literárias editadas e escritas só por mulheres, mais autoras presentes nos
diversos eventos, mais obras de mulheres sendo resenhadas, mais mulheres
escritoras convidadas para entrevistas nos vários espaços midiáticos. Do lado
negativo: nenhuma dessas iniciativas se aproxima do que seria satisfatório.
7 - O que pretende
alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
Como autora pretendo alcançar o que
estudo para colocar em prática, num trabalho contínuo, pois o aprendizado da
escrita é infinito. Meu projeto de curto prazo é o livro que lanço agora, pela
Editora Penalux, “Alguém pra segurar a minha mão”. Um livro-reportagem que
aborda o conceito da boa morte, o direito humano de morrer em paz e acolhido
quando não há mais chance de recuperação, a atuação dos profissionais em
cuidados paliativos, etc. Para longo prazo já há outros dois projetos se
embolando um ao outro na cabeça. Vamos ver qual se materializa primeiro.
8 - Quais os temas que
gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em
Portugal?
Escrita feminina de povos nativos, como
as indígenas, as africanas, e também de mulheres de países não ocidentais.
9 - Sugira uma autora e
um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.
Há um time relativamente grande de
autoras que me inspiram e norteiam. Cada uma a seu modo e no seu gênero
literário me motiva a buscar mais informação sobre o que leio, a pesquisar
mais. Suas obras me enchem de ideias. Das últimas que tive a oportunidade de
ler, Cinthia Kriemler, com seus romances e contos tão pontiagudos, e Deborah
Dornellas, que me causou muita reviravolta interna com o romance “Por cima do
mar” (Patuá, 2019).
10 - Qual a pergunta
que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
O
escritor tem ou deveria ter um papel social?
Seria
uma afirmação impositiva, caso respondesse que sim, que escritores deveriam ter
uma função social. Mas eu, leitora, me esquivo de autores e autoras que
escrevem do nada para nada. Desde sempre não dissocio o que escrevo com o que
vejo a minha volta, mesmo nos tempos das crônicas mais ingênuas dos velhos
tempos. Talvez por minha formação jornalística ou, ainda, pela vivência com a
Sociologia e os olhos abertos para a necessidade de compreender a política como
o motor que nos move, goste dela ou não. Portanto, penso que minha escrita tem
que servir a algum objetivo, deve levar algo ao leitor – bem clichezão, isso -,
deve provocar, incomodar. Não vejo nenhuma forma de arte por outra perspectiva.
Se não for assim, não me diz nadica.
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