domingo, 17 de maio de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - HANNAH CAVALCANTI

Agradecemos à autora HANNAH CAVALCANTI pela disponibilidade em responder ao nosso questionário


1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

É um momento extremamente crítico, uma experiência pela qual muitas gerações nunca tinham passado, que só agrava um contexto muito difícil na política e economia que vínhamos atravessando nos últimos anos. É um verdadeiro desafio para todos/as nós, que obviamente é vivido de formas diferentes pelas variadas condições sociais existentes. Para nós mulheres mais ainda, devido a questões como o aumento da violência doméstica, um problema gigantesco que ainda não conseguimos avançar muito no Brasil.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu  processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Sim, acho que afeta os mais diferentes aspectos da vida. Talvez na escrita para mim nem tanto porque sempre escrevi sob momentos de pressão, como um ato de urgência para desabafar emoções conflituosas e densas. É como uma descarga de energia minha que direciono para a escrita. Então nos momentos difíceis é que a escrita mais aparece, embora tenha aqueles em que eu nem consigo me expressar. Mas não me incomodo com isso, porque sei que é passageiro. Quando isso acontece aproveito para revisar (eu faço muitas revisões mas mudo pouca coisa no geral, são alterações cirúrgicas).

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

São muitas, mas ainda estou processando (rs). Tem as lições pessoais, internas (que dizem respeito a memórias etc), e as lições coletivas, externas (que no fundo se complementam).
Talvez a que mais esteja sendo colocada nas discussões mais críticas é uma revisão profunda das sociedades que criamos pós revolução industrial. Mas me parece que as percepções sobre isso ainda estão num âmbito restrito. Alguns movimentos comunitários têm apontado caminhos brilhantes, como é o caso de Paraisópolis, em São Paulo.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Totalmente.  Há 10 ou 15 anos atrás não tinha acesso a tanta troca e aprendizado. A ideia de interseccionalidade por exemplo, me agregou muito. Ter redes de apoio femininas, espaços criados por mulheres para nos fortalecer em todos os sentidos é muito importante.

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Para terem uma ideia quando lancei “Travessia Perene” tinha tanto material que meses depois finalizei um segundo livro. Eu não divulgava. Atualmente eu venho aprendendo a fazer isso e tenho melhorado, o retorno está sendo positivo. Divulgo hoje basicamente por meio da minha página no facebook (https://www.facebook.com/hannahcavalcantipoesia/e o instagram, fora as participações em páginas alheias. Ainda tenho dificuldades com essa necessidade constante de estar nas redes sociais, então tento equilibrar com o meu ritmo mas estou dedicando mais tempo a isso, acreditando que poderei desacelerar mais pra frente.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Vejo muito mais pontos positivos, talvez um negativo seja lidar com a expectativa de viver disso, o que demora ou nem sempre é possível.
Sabemos que os desafios são maiores de uma forma geral para o sucesso profissional das mulheres. Mas vejo que se é uma necessidade expressiva, não se pode parar.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Pretendo alcançar um reconhecimento maior como escritora, talvez até internacional. Um projeto a curto/médio prazo é lançar meu segundo livro, que está esperando uma fase melhor para isso (rs), e a longo prazo lançar o terceiro, que está quase finalizado.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

Tenho visto muitos projetos de incentivo à leitura de mulheres, mas vejo que ainda precisamos melhorar muito o acesso e o incentivo à leitura para a população em geral, especialmente a mais pobre.
Sei que temos nossas limitações, mas talvez projetos mais amplos de oficinas com meninas e jovens e publicação de mulheres em espaços periféricos poderia ser uma boa contribuição. 

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Pergunta difícil, porque são muitas. Mas vou recomendar um que li recentemente e que é muito bom para conhecer autoras brasileiras: “Um girassol nos teus cabelos – poemas para Marielle Franco” da Quintal edições.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Se alguém me perguntasse: "como você se vê daqui a 30 anos?" Eu responderia, "escrevendo em algum lugar do mundo" (rs).

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