segunda-feira, 18 de maio de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - ROSA ACASSIA LUIZARI

Agradecemos à autora ROSA ACASSIA LUIZARI pela disponibilidade em responder ao nosso questionário


1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

A experiência desta pandemia vivida pelo coletivo é um fato narrado por inúmeras pessoas e as implicações daí decorrentes enriquecem muito os prováveis modelos de pensamento emergentes pós-Covid-19 e nenhum modelo explicativo será superior ao outro. Teremos que aprender a conviver com experiências diversas das nossas e incorporar das mesmas o que for necessário. Antes de ouvir as experiências do outro teremos de reconstruir as nossas próprias e esse processo parece não ser tão consistente quando se tem uma quantidade grande de informações e a maioria delas baseada ainda em suposições ou fatos isolados. São narrativas de vários tipos de vozes que pouca estabilidade trazem. Não critico a pluralidade de vozes em si, mas saber de onde elas emergem e com qual finalidade parece fazer toda a diferença no enfrentamento do assunto.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Nesse período continuo as ininterruptas leituras e produzindo material para ser publicado. Continuo em processo de autodomesticação e mantendo a índole dentro dos sistemáticos cubículos dos incômodos de minha casa, agora praticamente reorganizada. A pandemia do novo coronavírus ocasionou meu corte decisivo com a perda de tempo útil perdido nas mesmas velhas coisas: pesquisas irrelevantes no google para enganar a insônia, tentativas de superar o medo do porvir, mastigação da rotina desgastada e mal digerida. Ocupo-me em desfazer antigos hábitos e ser ousada o suficiente para renovar comportamentos e atitudes. 

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

Toda a situação relacionada à Covid-19 parece gerar uma expectativa sem precedentes e quando muitas vozes dialogam com a finalidade de pensar um futuro distanciado da especulação, ganhamos espaço para abolir ideias inconsistentes a respeito da pandemia. Não defendo o estabelecimento de um discurso único e sim o espaço para o debate de argumentos plurais consolidados a partir da construção de conhecimentos teóricos pautados em aprendizagens significativas e não simplistas da condição humana em tempos de pandemia.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Os movimentos de integração da mulher são espaços fundamentais de divulgação de ações em prol das mulheres e das muitas vozes ocultas em espaços predominantemente masculinos.  

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Divulgo meus escritos por meio das redes sociais e contato pessoal com leitores e colegas escritores do Brasil e de outros países e participo de antologias internacionais, a convite das editoras. O retorno ainda é incipiente, uma vez que escrevo profissionalmente há pouco tempo. Os desafios são muitos mas superá-los é necessário para a conquista daquilo que quero.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Os pontos positivos residem no fato de podermos aliar sensibilidade à ampla noção de feminino para produzir uma escrita coerente com nossos princípios. O ponto negativo relaciona-se ao preconceito quanto à qualidade do trabalho intelectual das mulheres no mundo literário. As questões de gênero ainda dificultam uma análise cuidadosa do trabalho escrito de mulheres que, mesmo com a multiplicidade de tarefas no cotidiano, conseguem redesenhar a sociedade de modo mais sistemático não só no meio acadêmico.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Sistematizar um conjunto de reflexões acerca da vida e dos questionamentos humanos. Sinto a necessidade de aglutinar as muitas vozes internas que preenchem as minhas lacunas, disfarçadas de dúvidas e ausências. Compartilhar o discurso dessas vozes é meu objetivo como autora. Fazer cursos a fim de aperfeiçoar minha atividade com a escrita e continuar a fazer parte de movimentos ligados à literatura feminina são projetos a curto prazo. Sistematizar meu trabalho em livros é o projeto a longo prazo.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

As implicações da ausência do feminino no conjunto do discurso literário hegemônico.
  
9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Lúcia Santaella. Gosto especialmente de “Lições & Subversões” (Companhia Editora Nacional).
    
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Gostaria que me perguntassem como surgiu o meu interesse por falar de poesia relacionada à filosofia da ciência. Fiz poemas relacionados ao trabalho do químico Ilya Prigogine (1917-2003) e suas ideias de tempo. Estudei as ideias de tempo, caos, instabilidade, ordem e desordem durante a graduação e também enquanto fazia mestrado. São ideias que muito me agradam para produzir escritos.

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