Agradecemos à autora ROSA ACASSIA LUIZARI pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?
A experiência desta pandemia vivida pelo
coletivo é um fato narrado por inúmeras pessoas e as implicações daí
decorrentes enriquecem muito os prováveis modelos de pensamento emergentes
pós-Covid-19 e nenhum modelo explicativo será superior ao outro. Teremos que
aprender a conviver com experiências diversas das nossas e incorporar das
mesmas o que for necessário. Antes de ouvir as experiências do outro teremos de
reconstruir as nossas próprias e esse processo parece não ser tão consistente
quando se tem uma quantidade grande de informações e a maioria delas baseada
ainda em suposições ou fatos isolados. São narrativas de vários tipos de vozes
que pouca estabilidade trazem. Não critico a pluralidade de vozes em si, mas
saber de onde elas emergem e com qual finalidade parece fazer toda a diferença
no enfrentamento do assunto.
2 - Enquanto autora,
esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena,
está menos ou mais inspirada?
Nesse período continuo
as ininterruptas leituras e produzindo material para ser publicado. Continuo em
processo de autodomesticação e mantendo a índole dentro dos sistemáticos
cubículos dos incômodos de minha casa, agora praticamente reorganizada. A
pandemia do novo coronavírus ocasionou meu corte decisivo com a perda de tempo
útil perdido nas mesmas velhas coisas: pesquisas irrelevantes no google para
enganar a insônia, tentativas de superar o medo do porvir, mastigação da rotina
desgastada e mal digerida. Ocupo-me em desfazer antigos hábitos e ser ousada o
suficiente para renovar comportamentos e atitudes.
3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?
Toda a situação relacionada à Covid-19
parece gerar uma expectativa sem precedentes e quando muitas vozes dialogam com
a finalidade de pensar um futuro distanciado da especulação, ganhamos espaço
para abolir ideias inconsistentes a respeito da pandemia. Não defendo o
estabelecimento de um discurso único e sim o espaço para o debate de argumentos
plurais consolidados a partir da construção de conhecimentos teóricos pautados
em aprendizagens significativas e não simplistas da condição humana em tempos
de pandemia.
4 - Os movimentos de
integração da mulher influenciam no seu cotidiano?
Os movimentos de integração da mulher são espaços
fundamentais de divulgação de ações em prol das mulheres e das muitas vozes
ocultas em espaços predominantemente masculinos.
5 - Como você faz para
divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?
Divulgo meus escritos por meio das redes sociais e contato
pessoal com leitores e colegas escritores do Brasil e de outros países e participo
de antologias internacionais, a convite das editoras. O retorno ainda é
incipiente, uma vez que escrevo profissionalmente há pouco tempo. Os desafios são
muitos mas superá-los é necessário para a conquista daquilo que quero.
6 - Quais os pontos
positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?
Os pontos positivos residem no fato de podermos aliar
sensibilidade à ampla noção de feminino para produzir uma escrita coerente com
nossos princípios. O ponto negativo relaciona-se ao preconceito quanto à
qualidade do trabalho intelectual das mulheres no mundo literário. As questões
de gênero ainda dificultam uma análise cuidadosa do trabalho escrito de
mulheres que, mesmo com a multiplicidade de tarefas no cotidiano, conseguem
redesenhar a sociedade de modo mais sistemático não só no meio acadêmico.
7 - O que pretende
alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
Sistematizar um conjunto de reflexões acerca da vida e dos
questionamentos humanos. Sinto a necessidade de aglutinar as muitas vozes
internas que preenchem as minhas lacunas, disfarçadas de dúvidas e ausências.
Compartilhar o discurso dessas vozes é meu objetivo como autora. Fazer cursos a fim de aperfeiçoar minha atividade com a escrita e
continuar a fazer parte de movimentos ligados à literatura feminina são projetos
a curto prazo. Sistematizar meu trabalho em livros é o projeto a longo prazo.
8 - Quais os temas que
gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em
Portugal?
As implicações da ausência do feminino no conjunto do
discurso literário hegemônico.
9 - Sugira uma autora e
um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.
Lúcia Santaella. Gosto especialmente de “Lições &
Subversões” (Companhia Editora Nacional).
10 - Qual a pergunta
que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Gostaria que me perguntassem como surgiu o meu interesse
por falar de poesia relacionada à filosofia da ciência. Fiz poemas relacionados
ao trabalho do químico Ilya Prigogine (1917-2003) e suas ideias de tempo. Estudei
as ideias de tempo, caos, instabilidade, ordem e desordem durante a graduação e
também enquanto fazia mestrado. São ideias que muito me agradam para produzir
escritos.
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