sábado, 23 de maio de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - ANA MARIA LOPES


Agradecemos à autora ANA MARIA LOPES pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

Apesar das tragédias que acontecem dentro tragédia maior que é o Covid-19, creio que foi uma pausa necessária para se repensar tudo. Desde as macro questões (economia, meio ambiente, sistema de trabalho, educação, emprego, saúde, etc) até às nossas questões individuais.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu  processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Sou privilegiada por estar em isolamento social e ter o conforto necessário para passar por essa pandemia. Logo, tenho mais tempo para dedicar à escrita. A quarentena aumentou meu ânimo criativo e acabou impulsionando um antigo projeto literário.

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

Talvez que o tempo e a vida sejam o maior patrimônio que temos.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Como integrante de um coletivo editorial de mulheres, estou sempre ligada em todas as questões relativas ao tema. Nossa grande preocupação durante essa quarentena tem sido a vulnerabilidade de mulheres em isolamento.

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Além do lançamento, o Coletivo Editorial Maria Cobogó usa as redes sociais para divulgar seus livros. Também levamos a feiras literárias, encontros e rodas de leituras. Coletivamente estamos no sebo Don Caixote, na Amazon, na Blooks e em pequenas livrarias de Pirenópolis, Goiás e Ipameri, essas últimas, cidades do interior de Goiás. O retorno que tenho, como a maioria dos escritores, é pequeno em termos financeiros, mas quanto à leitura, é muito gratificante.
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6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Não vejo pontos negativos. Como também não vejo distinção nos universos masculinos ou femininos. A única coisa pela qual ainda luto é por uma maior visibilidade da literatura escrita por mulheres, principalmente na região onde vivo, o Centro-Oeste do Brasil.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Escrevo para me manter lúcida e viva. Projetos são muitos. Como editora, tenho dois livros para trabalhar, como membro do Coletivo Maria Cobogó tenho um projeto para fazer livros explicando a vida e obra de grandes artistas de Brasília – e que muito contribuem para a beleza da cidade – para crianças e adolescentes. É o projeto Mestres Cobogós. Muitas vezes passamos por monumentos, esculturas, azulejos, e não sabemos o nome do autor nem sua história. O Mestres Cobogós irá contar sobre Glênio Bianchetti, Athos Bulcão, Ceschiatti, Burle Marx e muitos outros que fizeram com que essa cidade se colocasse entre as mais belas do mundo. A longo prazo e como projeto individual, escrevo um romance histórico sobre as mulheres na Guerra do Paraguai. Foi uma pesquisa longa onde elenquei mulheres que a historiografia não contempla. Tanto mulheres da corte brasileira, escravas, índias, quanto paraguaias e guaranis. É um livro que pretendo lançar no fim deste ano ou no início de 2021.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

O poder dos coletivos e formação de leitores.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Atualmente estou lendo Maria Altamira, de Maria José Silveira. O livro inspira por ser uma história de mulheres dentro de um cruel contexto nacional, o da invasão das terras indígenas e ao movimento dos trabalhadores sem teto da grande São Paulo. Maria José tem uma escrita fluida, precisa e certeira. Tenho me pautado na escrita dela para escrever meu romance.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Acho que quase tudo foi dito. Claro que há mais coisas a se dizer, mas o espaço é pequeno. Há as questões políticas e de gênero. Há as questões da censura. Estamos vivendo no Brasil, hoje, momentos muito violentos. Precisamos defender a democracia para podermos escrever livremente. Todas essas são questões muito relevantes.

1 comentário:

Toca a falar disso