Agradecemos à autora LÚCIA ENEIDA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?
Preocupação.
Essa é a palavra que me define. Leio agora, 08/05/2020, no jornal, uma triste
realidade: a pandemia do corona vírus que assola o mundo inteiro, só aqui no
Brasil, já matou mais de nove mil pessoas. Em alguns estados já está ocorrendo
estresse do sistema hospitalar pois faltam leitos e respiradores para a grande
maioria da população que se amontoa em filas a procura de um lenitivo para a
saúde. Enquanto isso, o Presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro,
perguntado sobre o número de mortes, respondeu: “E daí? Lamento. Quer que eu
faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagres.” Em 28/04 quando o número de
mortes estava em mais de cinco mil.
2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos
de quarentena, está menos ou mais inspirada?
O
isolamento é o nosso único remédio, enquanto não há vacinas, por isso é uma
questão de bom senso, de educação, de cidadania e de respeito pelo outro,
principalmente pelos profissionais da saúde, ficar em casa. Desde o dia 12 de
março, quando a Governadora do meu estado, Fátima Bezerra, decretou o
isolamento social, que estou reclusa, sem sair de casa e como sempre tive metas
em minha vida, o meu foco tem sido uma atividade que amo fazer: escrever. Todos
os dias escrevo uma crônica ou um conto ou um poema. Estou com material
suficiente para publicar um livro em prosa e outro em versos, quando tudo isso
passar pois inspiração não me falta.
3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?
Ficou
a certeza de que somos frágeis demais, de que é preciso perdoar mais, ter mais
altruísmo, que dinheiro não compra saúde pois já estamos vendo “a escolha de
Sofia” ocorrendo em alguns hospitais. Imagino a carga pesada dos médicos que
estão na linha de frente para escolher quem deve morrer ou viver. Meu Deus! Choro ao pensar que aqui no Rio
Grande do Norte, este pequeno estado onde vivo e que pertence a região
Nordeste, a mais pobre do país, que não tem hospitais suficientes para atender
a demanda, caso a população não cumpra a quarentena; será um verdadeiro caos.
4 -
Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?
Pertenço
ao Mulherio das Letras Nísia Floresta, inclusive no ano passado, lancei, no
encontro do Mulherio em Natal/RN, um livro que escrevi sobre Maria Queiroz Baía
que conta a saga de uma professora potiguar que nasceu sem as pernas e com
apenas um braço, na década de vinte, e só queria estudar para um dia ser
professora. Foi discriminada duplamente: por ser mulher e por ser deficiente,
mas com coragem e ousadia, conseguiu transpor barreiras e tornou-se uma
precursora dos direitos femininos, da inclusão e da cidadania.
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas
suas ações?
Gosto
muito de participar de coletâneas e antologias. Uso as redes sociais para fazer
a divulgação. Escrevi dois livros, um de poemas e uma biografia que foram muito
bem vendidos, graças a Deus.
6 -
Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?
Vejo
hoje que a mulher, aos poucos, vem conseguindo ocupar seu espaço na literatura.
Pertenço à Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares – ALAMP – que
tem como principais objetivos o incentivo à leitura e às artes de mulheres
potiguares e a difusão dos nomes e obras dessas mulheres. Percorremos vários
municípios do nosso estado divulgando a Literatura Feminina Potiguar através de
recitais, contação de histórias e eventos literários nas escolas, nas praças e
nos clubes. A ALAMP já soma seis livros
entre antologias e coletâneas com os escritos das mulheres alampeanas que tem
muitas ações realizadas e belas histórias a contar. São quase duzentas mulheres
associadas da ALAMP vindas da capital e dos vários municípios do Rio Grande do
Norte. Portanto, creio que o engajamento das mulheres em associações e grupos é
a melhor forma de propagar seus escritos e fazer-se notada pois “uma andorinha
só não faz verão”.
7 - O
que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a
longo prazo.
Qual
o objetivo de toda escritora? É ser lida sempre. Amo escrever! Como já citei
anteriormente, pretendo lançar um livro de contos e crônicas, um de poemas e um
infantil. E a longo prazo um romance que já está em andamento.
8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras
em Portugal?
Gostei
imensamente de todos os assuntos tratados nesta entrevista, tais como: os
movimentos de integração da mulher; a mulher, seus escritos e divulgação;
preconceito contra a mulher; universo da escrita para a mulher.
9 -
Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.
Todos
os livros da escritora Lya Luft gosto muito, mas como devo citar apenas um:
“Perdas & ganhos”
10 -
Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Gostaria
que me perguntassem qual a homenagem que recebi, enquanto escritora, que me
deixou muito emocionada.
Segue
a resposta:
Já
recebi várias homenagens em escolas por onde andei falando sobre leitura e
literatura. Também recebi homenagens na Câmara dos Vereadores e na Assembleia Legislativa
como escritora, ganhei medalhas, além de belas mensagens de leitores pelas
redes sociais falando sobre meus livros, mas a que eu mais gostei partiu de uma
leitora que nunca a vi pois, volto a afirmar, que toda escritora quer ser lida
e quando o leitor gosta dos seus escritos, é melhor ainda.
Há
dois anos esqueci propositalmente um livro da minha autoria “Confissões em
prosa & versos” em um banco do shopping, com o seguinte bilhete: “Olá! Este
livro é seu. Pode levá-lo, leia-o e caso queira se comunicar comigo, o meu
e-mail é luciaeneida@yahoo.com.br.”
Saí, dei uma volta, depois voltei ao mesmo banco e vi que o livro não estava
mais lá. Pensei que talvez algum funcionário pudesse ter pensado que alguém
havia perdido e deixou nos “achados e perdidos” que ficava na secretaria
daquele estabelecimento. Não fui atrás. Fiquei na incerteza.
Um
mês depois, recebi um e-mail da pessoa que achou o meu livro, com a seguinte
mensagem:
“Olá, meu
nome é Israyane, eu achei o seu livro, desculpa demorar tanto para escrever. Eu
não sabia o que escrever e é a primeira vez que eu tenho a certeza de que a
autora de um livro vai ler o que eu escrevi. Eu queria agradecer pela sua
atitude de "esquecer" seu livro no Shopping Midway. Quando eu achei
pensei que era brincadeira e fiquei procurando o dono. Eu fiquei muito feliz em
achar o livro pois eu amo ler, porém nunca fui de ler poemas, mas eu gostei
muito do que li. Alguns me tocaram muito e com certeza vou levar para vida. Sua
história é incrível e saber que existem ótimas autoras potiguares iguais a você
me deixa super feliz! Amei o fato de você usar, em alguns poemas, a linguagem
nordestina que particularmente é a mais linda. Saber que o Nordeste está bem
representado e está em um livro onde todo mundo pode ler e saber que não há
outro lugar como aqui. Muito obrigada por nunca desistir de seu sonho! Seu
livro pode mudar histórias, pois eu acredito que a partir da leitura, vidas
podem ser mudadas, pelos menos mudou o meu dia, me deixou mais feliz. Obrigada
por ser quem é!”
Terminei
de ler e não consegui conter as lágrimas. Foi a melhor homenagem que já recebi.
Que belo o depoimento de Israyane! Com certeza esse tipo de evento serve de impulso para que qualquer escritor(a) prossiga com o seu belo e importante ofício.
ResponderEliminarÉ importante a divulgação de nossas autoras. Gratidão pela leitura.
ResponderEliminarMuito legal ler relatos de experiência de autores e leitores. Fiquei encantado com o zelo da leitora e da autora Luciaeneida
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