Agradecemos à autora MARIANA MORETTI pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa
pandemia mundial?
Entendo que momentos como esses têm
que ser encarados com a seriedade que necessitam, respeitando os órgãos
oficiais e as divulgações da comunidade científica para o bem de todos. Dito isso,
é uma lástima que o ser humano, que tanto se vangloria pela tecnologia e os
avanços que testemunhou no último século, tenha a razão e a sobrevivência
colocadas à prova por um inimigo invisível. Por esse motivo, a pandemia
me fez refletir sobre as relações pessoais, o trabalho, a coletividade e a
solidão. Acredito que seja o momento de uma vez por todas entendermos que é
preciso viver com o outro, mesmo que socialmente isolados. Cuidar do outro,
preservar a vida e praticar a caridade são essenciais nesse momento. Ter a
crença que juntos somos mais fortes, porque entendemos a importância de
vivermos em sociedade, buscando nos aperfeiçoarmos cada vez mais. Creio que,
após a volta do isolamento, estaremos mais preparados para compreender a
coletividade de uma forma mais generosa.
2 - Enquanto autora, esse momento
afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou
mais inspirada?
Esse momento de afastamento social,
que culminou em uma solidão forçada, contribuiu para muitas reflexões, que por
sua vez, terminaram traduzidas na palavra escrita. Encontrei-me mais dedicada
ao processo criativo, ao começo de um novo livro, a tirar projetos do plano das
ideias e partir para a prática, porém não com um sentimento fundado na
obrigação de me sentir produtiva, como vejo acontecer bastante hoje. Vejo como
um momento de solidão essencial a organização de um novo modo de pensar e agir
em sociedade, o que acaba se tornando motivo de escrever e registrar esses
pensamentos. Diria que a solidão tem que ser um novo significado e, no meu
caso, se confundiu com inspiração.
3 - Quando isso passar, qual a
lição que fica?
Que acima dos governos, do mercado
e do dinheiro existem pessoas e suas famílias.
4 - Os movimentos de integração da
mulher influenciam no seu cotidiano?
Com toda certeza os movimentos que
buscam unir as mulheres fazem toda a diferença tanto no âmbito pessoal quanto
no profissional, porque valorizam as lutas que permitiram que nós chegássemos
até aqui. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas juntas as mulheres podem
chegar mais longe, uma vez que a estrada já foi aberta pelas que vieram antes
de nós.
5 - Como você faz para divulgar os
seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?
Costumo procurar por editais,
concursos e divulgadores independentes ou não. Percebo retorno quando vejo o
alcance que a obra tem, ainda mais quando se trata de um projeto que conta com
diferentes autoras de localidades variadas, o que é fantástico.
6 - Quais os pontos positivos e
negativos do universo da escrita para a mulher?
Como pontos positivos, noto que
existe muita cooperação entre autoras mulheres, no sentido de ampliar a
divulgação e de fomentar ideias para a valorização da escrita feminina. Como
ponto negativo, acredito que há estigmas a serem superados, como por exemplo,
tabus de escrita, geralmente incitados pelo machismo que deve ser
combatido.
7 - O que pretende alcançar
enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
Escrevo pela paz de espírito,a
curto prazo. Sinto necessidade de contar histórias e que elas (co)movam as
pessoas de alguma forma, sempre buscando uma sociedade mais justa e
igualitária. Creio que a escrita tem esse poder, de escancarar as disparidades
e buscar registrar a trajetória de um povo. A escrita e a leitura são
fundamentais ao povo brasileiro quando se quer trilhar o caminho da liberdade.
Basta querer trilhá-lo e lutar pelas ferramentas para isso, como exigir a
educação de qualidade para todos para ter meios de acesso à produção cultural
de nosso país. Como pedagoga, vejo muito do meu trabalho na minha escrita
literária.
8 - Quais os temas que gostaria que
fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?
Encontro-me bastante interessada na
escrita feminina dos países africanos de língua portuguesa. Autoras de Angola,
Guiné-Bissau, Moçambique e outros países podem e devem ser mais lidas no Brasil
e em Portugal. Somos irmãs em diversos sentidos e a bela língua portuguesa nos
une ainda mais.
9 - Sugira uma autora e um livro
que lhe inspira ou influencia na escrita.
Antes do Baile Verde - Lygia
Fagundes Telles
10 - Qual a pergunta que gostaria
que lhe fizessem? E como responderia?
Gostaria que me perguntassem como
mantenho a serenidade passando dias e noites dentro de casa. Responderia que
basta um papel, uma caneta, mil ideias na cabeça e uma cervejinha na mão.
(risos)
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